Você sabe como avaliar o atendimento do seu médico?
O especialista em bioética Aluisio Serodio, da Escola Paulista de Medicina, dá instruções para saber se a consulta foi boa ou não
A tecnologia e os recentes avanços da ciência têm contribuído imensamente para a medicina. Exames mais completos e complexos, diagnósticos precisos e tratamentos eficientes já são realidade. No entanto, um elemento fundamental merece atenção: a relação entre médicos e paciente.
Estamos cada vez mais distantes do profissional que toma as decisões sobre a nossa saúde e, com isso, é natural que tenhamos dificuldade para avaliar a conduta deles.
Finalista do Prêmio CLAUDIA pela categoria Negócios, Ana Elisa A.C. de Siqueira critica o atual modelo de saúde em que os pacientes pagam pelo serviço, sem ter garantias do desempenho.
“O paciente que, porventura, sai enxergando mal depois de uma cirurgia de catarata vai desembolsar pela operação o mesmo valor que aquele que saiu bem. Isso faz com que todo o sistema mire na produção, não na qualidade”, afirma a empresária que é também oftalmologista.
Conversamos sobre o assunto com o professor de Bioética Aluisio Serodio, da Escola Paulista de Medicina, defensor da ideia de que a boa comunicação tem impacto direto nos resultados do tratamento.
“A época em que o médico tomava todas as decisões em nome do bem-estar do paciente já passou. Hoje procuramos promover e respeitar a autonomia”, afirma. Ele aconselha o paciente a fazer o seguinte check-list para avaliar o atendimento médico:
Fui cumprimentado com educação e chamado pelo meu nome? Tive tempo para expressar tranquilamente minha queixa?
Estas são as perguntas iniciais nesse processo. Embora não exista um tempo mínimo para uma consulta de qualidade, o especialista alerta: “É muito difícil ouvir o paciente, examiná-lo e orientar uma conduta em menos de 15 minutos”.
Recebi explicações compreensíveis e as possibilidades de conduta?
“O médico deve usar uma linguagem compreensível ao paciente e o jargão técnico deve ser evitado”, afirma Serodio. É um mal sinal caso o médico, mesmo questionado, seja incapaz de fornecer informações sobre o diagnóstico ou o tratamento de forma clara e compreensível.
Tive espaço para tirar dúvidas?
O paciente precisa sair da consulta esclarecido e deve perguntar qualquer dúvida no momento da consulta. Depois disso, o médico pode oferecer alguma disponibilidade caso surjam outros questionamentos. “O paciente deve entender que, muitas vezes, as dúvidas não urgentes serão respondidas de acordo com a possibilidade na rotina do médico”, indica o professor.
E alerta: é preciso cuidado ao usar a internet para procurar informações de saúde. “Frequentemente os sites têm objetivos mais comerciais que terapêuticos, mostrando casos espetaculares para chamar atenção mas que provavelmente não são um parâmetro adequado”, diz.
Avaliação final
Se a resposta para essas perguntas for positiva, é muito provável que o paciente saia satisfeito. Uma boa interação entre médico e paciente é essencial. Um paciente bem cuidado encontra forças para batalhar pela própria melhora.
Se a consulta é ruim, exames inúteis podem ser pedidos, o paciente pode não seguir as orientações e até procurar outro profissional, gerando gastos desnecessários.
Se, por outro lado, o atendimento for mal avaliado ou o paciente estiver em dúvida quanto à conduta médica, o correto é procurar uma segunda opinião. “O médico não tem motivos para ficar melindrado com isso. Médicos igualmente competentes têm, com frequência, propostas terapêuticas diversas”, diz Serodio.