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Sem segurar: saiba por que é importante fazer cocô sempre que der vontade

Fezes presas no organismo podem resultar em doenças, inflamações e infecções graves.

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 15 jan 2020, 11h25 - Publicado em 14 ago 2019, 18h21
Cropped shot of a sporty young woman making a heart with her hands on her stomach (PeopleImages/Getty Images)
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Uma alimentação equilibrada, com uma ingestão de fibras em torno de 28 gramas por dia (recomendação para mulheres adultas mais recente do Departamento de Agricultura dos EUA, publicada no Medical Daily News em 2018), além de nutrientes como carboidratos, gorduras e vitaminas, faz com que a maioria das pessoas evacue de uma a duas vezes por dia – exceção para quem tenha alguma doença ou condição de saúde que altere o trânsito intestinal.

Só que, por hábito, situação adversa (viagem de carro muito longa, por exemplo), vergonha (primeiro feriado fora com mozão ou mozona, não querer usar banheiro do trabalho, do ônibus ou do avião para o número 2) ou seguindo “dica” para que se faça cocô um dia sim um dia não, muita gente força o organismo e não evacua quando sente vontade. Nem nas horas seguintes. Às vezes, nem no dia seguinte!

E isso pode ser um problemão para a saúde!

Controle treinável e prejudicial

Antes de qualquer coisa, é legal entender que existem dois processos principais entre comermos algum alimento e as sobras dele serem evacuadas.

O primeiro é o reflexo gastrocólico, que nada mais é do que a movimentação do trato gastrointestinal quando uma comida entra no estômago. Ele é involuntário, ou seja, não temos nenhum controle sobre ele.

O segundo é o que tem a ver com fazermos cocô: é o reflexo da evacuação. Quando o reto e o intestino ficam cheios de fezes, esse reflexo nos lembra que “opa, está na hora de ir ao banheiro”. Esta é a parte voluntária, o que quer dizer que conseguimos controlar. Eis onde podem nascer os problemas.

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“Quanto mais se segura a evacuação de forma rotineira, maior a capacidade de segurar. O controle pode ser treinado e ficar bastante prolongado, deixando as fezes ‘estocadas’ no organismo. É bom ter algum controle, claro, porque nem sempre dá para ir ao banheiro correndo, mas não de forma exagerada”, afirma a coloproctologista Maristela Gomes de Almeida, do Hospital Edmundo Vasconcelos e chefe do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo.

Vanessa Prado, proctologista, cirurgiã e médica do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo do Hospital Nove de Julho, explica: “Fezes paradas no intestino e no reto podem causar inflamações, infecções, hemorroidas, fissuras no ânus e muita dor na hora de evacuar. É necessário ter em mente que o alimento é comido, processado e o resto precisa sair.”

A seguir, conheça mais detalhes dos males causados pelo cocô estocado no organismo.

– Translocação de bactérias

Você sabe que o cocô não é uma coisa limpinha, muito pelo contrário – por isso sempre devemos higienizar bem as mãos depois de encerramos as atividades de número 2. No bolo fecal há restos da comida, líquidos e bactérias, estas últimas sempre em transição em nosso organismo e não necessariamente causando males à saúde. Só que, se elas ficarem paradas por muito tempo nas fezes acumuladas no intestino e no reto, podem entrar na corrente sanguínea e causar infecções, inclusive uma infecção generalizada em casos mais extremos.

– Retocolite ulcerativa OU colite

O acúmulo de fezes pode ativar inflamações e ulcerações na mucosa do intestino grosso e do reto. Além de causar diarreias, hemorragias e cólica, esta é uma doença crônica – o que significa que demandará tratamento para o resto da vida.

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– Fecaloma

Este é o nome técnico para o popular cocô empedrado, ou seja, fezes endurecidas no ponto de pedra. Ocorre que o intestino começa a tirar líquido das fezes para tentar se hidratar enquanto a evacuação está sendo presa pela pessoa, deixando-as cada vez mais secas. Quanto mais tempo demora para elas saírem, maior o risco de formação de fecaloma. Remédios para intestino preso e supositório não resolvem o problema, e as fezes acabam precisando ser tiradas em procedimento clínico ou mesmo cirúrgico com um médico.

– Hemorroidas

Antes de chegar ao ponto de fecaloma, as fezes podem ficar duras a ponto de você conseguir evacuá-las, porém com muito esforço. Essa força descomunal pode causar inchaço  inflamação nas veias do reto e do ânus – são as hemorroidas. Elas causam dor, desconforto e sangramento, além de coceira. Em muitos dos casos, elas “voltam” ao estado normal, mas em muitos é necessário partir para uma cirurgia de remoção das veias danificadas.

– Fissura no ânus

A passagem de fezes duras e grandes pode causar fissuras (feridas) na mucosa do ânus, resultando em dor e sangramento nesta e nas próximas evacuações. Deve ser tratada com cremes sob prescrição médica, para não haver o risco de infecção, e normalmente é curada em pouco mais de um mês.

Mas por quanto tempo é seguro “segurar” o cocô?

A não ser que haja uma reviravolta no seu intestino e você sinta que ou corre para o banheiro ou acontecerá um acidente de escape fecal, você pode segurar o cocô durante um filme longo, uma palestra e até por algumas horas em um voo ou em uma viagem na estrada. Não mais que isso.

“Passar até um dia sem evacuar, de vez em quando e não como hábito, não tem problema”, diz Vanessa. “Segurar mais que esse período ou mesmo com essa frequência, só que de forma repetida, pode fazer com que no segundo dia já seja necessário o uso de um supositório para amolecer a ponta ressecada das fezes e elas saírem sem prejuízo para o corpo. Será sempre um transtorno, além de perigoso para a saúde”, conclui a coloproctologista.

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