Por que as crianças precisam tomar a vacina contra o sarampo de novo?
Campanha Nacional Contra a Poliomielite e Sarampo vai até o dia 31 de agosto.
Todas as crianças de um ano até as menores de cinco (ou seja, que estejam com no máximo 4 anos, 11 meses e 29 dias quando forem à UBS) devem ser vacinadas neste ano contra a poliomielite e o sarampo. A convocação da campanha nacional de vacinação de 2018 inclui mesmo os pequenos que já tenham tomado as duas doses da vacina contra o sarampo – aos 12 e aos 15 meses de vida –, e isso causou estranheza. Se a dose e o reforço já estão dados, para que o “reforço extra”? O vírus mudou? Está mais agressivo?
Nada disso. O vírus é o mesmo, tão agressivo quanto sempre. O que ocorre é que está em curso no Brasil um surto da doença – já já vamos nos aprofundar nisso – e, dentre os 1428 casos de sarampo já confirmados no país neste ano (número informado pelo Ministério da Saúde em 22 de agosto de 2018), há pessoas que estavam devidamente vacinadas com dose e reforço. Não foi culpa das vacinas aplicadas anteriormente nem dos indivíduos, mas sim de variáveis imprevisíveis entre corpo e medicamento.
Alberto Chebabo, infectologista do Delboni Auriemo, explica: “Sempre pode ocorrer uma falha vacinal, o organismo pode não ‘pegar’ uma das doses da vacina por algum motivo pontual e raro. Nenhuma vacina é 100% infalível.” De toda forma, ele ressalta que estas pessoas manifestaram versões mais amenas da doença, pois pelo menos uma parte da imunização fez efeito.
A campanha atual, portanto, tem uma estratégia de bloqueio para eliminar possíveis falhas.
A volta do sarampo e a menor cobertura vacinal em anos
Além disso, o Brasil está vivendo uma infeliz combinação que resultou no atual surto de sarampo.
Por um lado, o vírus do sarampo voltou ao país pela fronteira com os estados do Norte – é um vírus importado da Venezuela, de acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações. Já havia quase dois anos que o Brasil era certificado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como região livre de sarampo, status obviamente perdido.
Por outro, a cobertura vacinal atual está baixa, muito abaixo do padrão brasileiro. “Estamos em níveis abaixo de 85%. Para ser considerado que a população está segura, a cobertura vacinal tem que estar em 95% ou mais”, esclarece Mario Bracco, pediatra do Cejam (Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim).
Esta última parte se deve, em grande medida, à propagação de fake news que inventam associações absurdas entre vacinas e autismo ou doenças variadas. “Nada disso tem fundamento, não existe nenhum estudo no mundo que comprove essa ligação. As vacinas são super seguras e não causam nenhum efeito adverso desse tipo”, argumenta o pediatra.
Até por isso não há nenhum problema em tomar uma terceira dose da vacina contra o sarampo: mesmo que as duas que seu filho tomou não tenham sofrido falha, mal ela não vai fazer.
A importância do “efeito rebanho” da vacinação
Há, ainda, um outro lado da vacinação: quem se protege ajuda aqueles que não podem tomar determinadas vacinas. É o chamado “efeito rebanho”, em que uma maioria vacinada forma uma espécie de barreira para que a doença não chegue até essas pessoas.
No caso da vacina contra o sarampo, não podem tomá-la (e ficam protegidas quando a maioria da população a toma):
– gestantes;
– pessoas imunossuprimidas por causa de medicação ou doença;
– crianças com HIV;
– pessoas com histórico de reação grave a uma das doses anteriores da vacina.
Quem tem alergia a ovo pode tomá-la tranquilamente, assim como pacientes com intolerância à lactose. Se seu filho tiver alergia grave à proteína do leite de vaca, não deve tomar a vacina produzida pelo laboratório Serum Institute of India, pois ela contém traços de lactoalbumina. Informe-se na UBS e, se for o caso, vá a outra unidade que tenha vacinas feitas por outros laboratórios.
A Campanha Nacional Contra a Poliomielite e Sarampo ocorre nas UBSs de todo o Brasil e acaba no dia 31 de agosto.