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Pai e filha: leitoras compartilham histórias de viagens inesquecíveis

Famílias relembram passeios que fizeram juntos – e como a aventura contribuiu para fortalecer a relação entre eles

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 22 nov 2016, 19h21 - Publicado em 9 ago 2016, 13h46
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Adrenalina de sangue

Turismo de aventura, com direito a trilha e acampamento em desertos, praias e montanhas, é o tipo de viagem preferido do engenheiro Ricardo Simonsen, 58 anos. E ele sempre fez questão de incluir os filhos, Bárbara e André, hoje com 30 e 28 anos respectivamente, em seus passeios. “Eles me acompanham desde pequenos”, diz. Com o passar dos anos, porém, as viagens em família foram substituídas por aventuras em dupla. “Sempre viajei sozinho com meu filho, mas a primeira vez em que fomos apenas eu e a Bárbara foi há dez anos. Ela tinha passado da fase da adolescência, nós estávamos mais maduros e mais próximos um do outro”, conta Ricardo. Na ocasião, a dupla foi para o Deserto do Atacama, no Chile, e inaugurou uma tradição. “Nós nunca planejamos com antecedência, simplesmente acaba acontecendo. No caso do Atacama, eu havia marcado a viagem e coincidentemente a Bárbara estava de férias”, lembra o engenheiro.
Para Ricardo, o segredo da boa convivência entre pai e filha nas aventuras é o companheirismo. “Tomamos decisões em conjunto. Por exemplo, às vezes nos hospedamos em hotéis e, em outras, aceitei ficar em albergue porque ela era mais jovem e preferia”, lembra. Ele considera que os momentos mais marcantes das viagens são aqueles em que ambos vencem as dificuldades juntos. “Neste ano, fizemos a trilha do Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira, em São Paulo. Como é uma caminhada pesada, não levamos água conosco. A ideia era conseguir ao chegar ao topo da montanha. No início, nós não encontramos água e precisamos resolver o problema juntos. Então, com paciência, sem que ninguém culpasse o outro pela situação, saímos à procura de água. Em situações como essas, temos uma relação de companheiros, de igual para igual, e não de pai e filha”, diz. Ele acredita que essas expedições em meio à natureza os aproximam ainda mais. “São lugares com menos estímulos externos, então ficamos mais sensíveis à pessoa que nos acompanha. Quando voltamos, nossa relação está mais fortalecida”.

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Viagem de agradecimento

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Em 2015, aos 68 anos, o aposentado Alvim Bittencourt tirou o seu primeiro passaporte e embarcou em uma grande viagem ao lado das filhas Clarissa e Ana Paula, hoje com 32 e 40 anos. O passeio, com paradas em Nova York e nos parques da Disney, em Orlando, foi um presente das irmãs para o pai. “Quando nós fizemos 15 anos, ele nos pagou uma viagem para a Disney. As coisas em casa sempre foram conquistadas com muita batalha, mas o meu pai fez questão de nos proporcionar uma viagem internacional. E eu e minha irmã sempre achamos que ele merecia ter essa experiência também”, conta Clarissa. Outro motivo fez com que a viagem fosse tão especial para Alvim: ele sempre foi apaixonado pelo universo da Disney. “Aprendi a ler na escola, mas tive uma grande ajuda dos quadrinhos de Walt Disney e ainda me lembro perfeitamente da capa da primeira edição do Pato Donald, lançada em 1950”, conta. Durante os doze dias de viagem, as filhas viram uma transformação no comportamento do pai. Metódico e sério, ele foi tomado por uma enorme felicidade e emoção nos passeios. “Ele se divertiu, chorou e até abraçou personagens como o Pato Donald ou o Pateta. Minha mãe olhava as fotos e falava que nunca o tinha visto de boné”, conta Clarissa.
Essa foi a primeira vez em que Alvim viajou apenas com as filhas. Clarissa diz que, no início, ficou preocupada com o bem-estar e conforto do pai. Ela se preveniu viajando com um bom seguro de saúde e fazendo reservas que podiam ser canceladas. “Foi engraçado sentir que, pela primeira vez, éramos eu e minha irmã que estávamos mostrando algo novo para ele, e não o contrário. No fim, a preocupação foi à toa. A Disney tem uma estrutura maravilhosa e o meu pai topou experimentar tudo e sua disposição nos surpreendeu.” O saldo da viagem foi positivo para relação de pai e filhas. “Criamos uma intimidade muito grande”, afirma Clarissa. Alvim assina embaixo: “Senti que minhas filhas estavam felizes por ter me proporcionado esse prazer. A viagem reforçou o nosso ótimo relacionamento”.

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Pé na estrada

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A vontade de Nattalia Silva, 31 anos, em conhecer Machu Picchu surgiu depois de ver as fotos de uma viagem que seus pais haviam feito para o Peru de carro. Seu pai, o comerciante Florêncio Silva, nunca escondeu que gostaria de repetir o passeio – e de levar a filha com ele dessa vez. Em 2014, a família decidiu que a hora da viagem entre pai e filha havia chegado. “Meu filho já estava com nove anos e minha mãe se prontificou a ficar com ele durante a viagem”, conta Nattalia. Com destino à cidade dos Incas, a dupla começou a viagem de carro em Foz do Iguaçu e passaram ainda pela Argentina, Paraguai e Chile. Ao todo, foram 30 dias de aventura, emoção e alguns imprevistos. “Houve muitos momentos marcantes, como o trem que pegamos em Salta, na Argentina, e que percorre a Cordilheira dos Andes, chegando a alcançar 4.000 metros de altitude”, conta Nattalia. “Mas a maior emoção foi quando chegamos em Machu Picchu depois de 20 dias dirigindo. Lembro de dar a mão para o meu pai e de dizer a ele que nunca me esqueceria da nossa viagem.”
Nattalia sempre manteve uma relação próxima com o pai, mas passar um mês viajando de carro com ele os aproximou. “Ficamos mais íntimos, mais parceiros. Durante todo o percurso estávamos entusiasmados e alegres. Mas, é claro, houve momentos difíceis”, diz. Ela lembra de um dia em que passou mal na Cordilheira dos Andes devido à altitude: “Estava sem disposição até para tirar fotos, que é algo que adoro fazer. Mas meu pai foi muito paciente e me ajudou a melhorar. Devo muitos cliques a ele”. A viagem ainda proporcionou longas conversas entre os dois viajantes. “Conheci mais sobre o seu passado. Fiquei surpresa ao perceber que não sabia de todas as suas histórias”, diz. Para Florêncio, o passeio também foi revelador: “Vi que minha garotinha havia crescido. Admirei a coragem dela em pegar a estrada e percorrer 10 mil quilômetros”, conta.

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Programa de família

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A viagem mais recente que Fernando de Araújo Vitor, 65 anos, fez acompanhado apenas das filhas Camila e Fernanda, de 39 e 35, foi em 2011 e teve como destino um resort em Maceió. Passeios a três, porém, não são raros entre eles. “Meu pai gostaria de fazer pelo menos uma viagem com as filhas por ano. Preciso dizer mais alguma coisa?”, diz Camila. O trio considera que viajar é fundamental para fortalecer a relação já próxima entre pai e filhas. “Minha mãe morreu em decorrência de um câncer quando eu tinha 18 anos. O meu pai se tornou pai e mãe e é muito presente na nossa vida. Desde então, eu e minha irmã viajamos várias vezes com ele”, conta a filha mais velha.
O primeiro passeio entre pai e filhas foi para um hotel fazenda em Itatiba, interior de São Paulo. “Passamos o Natal lá. Fazíamos tudo juntos, de refeições a trilhas. A viagem foi muito significativa porque eu e minha irmã sentimos que podíamos contar com ele”, diz Camila. Desde então, o trio visitou vários destinos, como a Bahia e os Estados Unidos. “Esses passeios se tornaram indispensáveis para nós, pois nos deixam mais unidos. A cada viagem, descobrimos que nós três, juntos, somos uma fortaleza. Nós até nos autointitulamos ‘os três mosqueteiros’”. Para Camila, o tempo a sós com o pai durante as viagens também é importante para que ela o conheça cada vez mais. “Meu pai teve uma infância pobre, ficou viúvo cedo, mas batalhou e se tornou bem sucedido. Ele é presente e sempre apoiou as filhas em tudo: financeiramente, emocionalmente e na escolha da nossa profissão”, conta a dentista.

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De volta às origens

A advogada Paola Corradin, 43 anos, recebeu um convite especial neste ano: acompanhar o pai, o artista plástico italiano Inos Corradin, de 87, em uma viagem para o seu país de origem. “Haveria uma exposição de seus quadros e o lançamento de seus livros em Castelbaldo, na região de Pádua, uma pequena cidade onde meu pai cresceu. Ele queria estar lá e me convenceu a ir junto. Encontrei um espaço na agenda, meu marido ficou cuidando dos meus filhos e eu fui”, conta Paola.
Essa foi a primeira viagem apenas entre pai e filha. “Nós dois sempre tivemos uma ligação especial, então tudo aconteceu de forma natural”, conta a advogada. Ao todo, o passeio durou 12 dias, entre os quais a dupla de viajantes passou por cidades como Veneza, Verona e, claro, Castelbaldo. “Meu pai saiu da Itália para o Brasil aos 20 anos, então conhece bem o país e sua história. Ele é uma pessoa culta, ótima companhia. É engrandecedor viajar com ele, principalmente por ele ter o olhar de um italiano e conhecer lugares e restaurantes que turistas desconhecem”, diz Paola. Segundo ela, um dos programas preferidos do artista plástico na Itália é visitar os mercados de rua que acontecem aos finais de semana em cidades pequenas
Paola acredita que essa viagem foi especial para seu pai porque, uma vez acompanhado da filha, ele teve a oportunidade de passear mais pelo país. “Geralmente, ele vai para a Itália por motivos profissionais e fica hospedado na casa de parentes. Nós alugamos um carro e saíamos o dia todo. E ele gosta muito de passear, é uma pessoa saudável e muito bem humorada”, revela a filha. Já para a advogada, a viagem foi marcante por ela ter visto o reconhecimento ao talento do pai em sua cidade natal. “As pessoas de lá o respeitam, o tratam bem. Elas consideram o fato de ele ter levado o nome da cidade para outros lugares do mundo. É emocionante ver isso”, diz.

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Saindo da rotina

Eram raros os momentos em que a advogada Rosangela Neves, 52 anos, tinha a sós com o seu pai, Roberto Neves, 81 – afinal, dividia a sua atenção com outros quatro irmãos. Os laços se fortaleceram após uma viagem que fizeram para a Rússia, em 2003. “Meu pai viaja muito, mas, como a minha mãe não gosta de viajar, ele acabava indo com excursões. Até que me convidou para acompanhá-lo em Moscou e São Petersburgo”, diz Rosangela. Segundo a advogada, a viagem a dois foi fundamental para conhecer um lado diferente da personalidade do pai. “Ele é muito rígido e conservador, não costuma sair daquilo que foi planejado. Mas, na Rússia, como não estávamos com excursão, viveu várias experiências novas”. Um momento marcante foi a ida ao Circo de Moscou de transporte público. “A rede de metrô na cidade é enorme. Nos perdemos para ir e para voltar, pedimos ajuda de estranhos, mas no fim deu tudo certo. Foi uma aventura. Ele adorou e, depois, falou várias vezes sobre isso”, diz Rosangela. “Esses momentos em que saímos do habitual foram especiais. Também houve uma noite em que decidimos passear em Moscou e eu o convenci a ficar na rua até tarde. Ele voltou eufórico para o hotel”.
Como nenhum dos dois dominavam o idioma russo ou o inglês, Roberto contratou um guia que falava espanhol para mostrar os principais pontos das cidades. “Em Moscou, passamos por locais maravilhosos, como o Kremelin de Moscovo e a Catedral da Assunção. Já em São Petesburgo, nos hospedamos em um hotel com vista para o Golfo da Finlândia”, lembra Rosangela. Sem a companhia do guia, pai e filha fizeram longas caminhadas e tiveram a oportunidade de conversar mais. “Ele dizia orgulhoso para todo mundo que eu era sua filha e companheira de viagem”, conta a advogada. “Foi uma experiência fantástica. Desde essa viagem, ele me liga sempre para falar ou me consultar sobre qualquer assunto. Essa viagem teria sido totalmente diferente se fosse com outra pessoa. Foi especial pelo fato de ter sido com o meu pai”.

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*Reportagem de Vivian Carrer Elias

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