O que significa quando alguém fica quieto para evitar conflitos?
A falta de posicionamento nos faz explodir ou implodir; ambos os cenários são destrutivos para a saúde mental

Você – ou alguém que você conhece – provavelmente já ouviu absurdos e ficou quieta para evitar conflitos. Este é um comportamento frequente? O que leva a tal atitude, segundo a psicologia?
O psiquiatra Marcos Magalhães Ferreira detalha à CLAUDIA os aspectos da personalidade de quem costuma ficar quieto para evitar conflitos. O diagnóstico pode ir de transtorno de personalidade à passividade.
Transtorno de Personalidade Esquiva

O Transtorno de Personalidade Esquiva ou Evitativa está associado a esse comportamento. “Neste caso, as pessoas costumam evitar situações ou interações sociais pelo medo de sofrer alguma humilhação ou de se sentirem rejeitadas. Em geral, elas se percebem deslocadas dos grupos sociais como se fossem ‘peixes fora d’água’, e se consideram inferiores aos outros. Têm medo de serem julgadas, percebidas, mal interpretadas ou desaprovadas”, explica.
Essas pessoas, de acordo com o profissional, são muito sensíveis à frustração, costumam viver isoladas socialmente e acabam por obter maior
conforto e segurança com a própria família, mas não necessariamente com todos aqueles com quem moram ou convivem, sendo bastante difícil que procurem ajuda de profissionais de saúde, já que não gostam de se abrir com “estranhos”.
“Por terem a sensação de que estão sendo constantemente avaliadas e julgadas, mesmo que a crítica seja construtiva e realizada de forma tranquila, a fim de compreender os problemas e buscar estratégias de resolução, elas podem não receber bem e, então, fecharem-se e não voltar para seguir o tratamento”.
Passividade

Também há aqueles que não se importam com a discussão, ou já perceberam que não adianta discutir com aquela pessoa, que vai teimar em defender seu ponto de vista. Nesses casos até ocorre a vontade de falar, discutir ou se expressar, mas o autocontrole entra em cena, fazendo quem age assim se manter quieto.
Tal comportamento pode gerar três consequências:
- O silêncio é escolhido a fim de ‘esquecer o assunto’;
- Espera-se outro momento, mais oportuno, para voltar ao tema e conversar a fim de resolvê-lo;
- Fica-se quieto e, depois, não se esquece e não se resolve a situação.
“A terceira opção é o pior cenário. É o famoso guardar rancor, dizer que a paciência está acabando ou o copo está transbordando; é ficar remoendo problemas”, lembra Ferreira.
Ele também conta que há ainda aqueles que já passaram tanto por discussões e sofreram tanto com elas que, em qualquer situação conflituosa, evitam o embate a todo custo, de forma aversiva.
Consequências de evitar discussões
Ficar “engolindo sapo” não faz bem, até para quem se sente inatingida por uma discussão. Porém, quando conseguimos “esquecer” a mágoa ou resolver o problema posteriormente, o resultado é bom.
“Caso contrário, haverá conflitos emocionais e de relacionamento, com um certo distanciamento emocional e físico, maior dificuldade para resolver novos problemas, ressentimento acumulado e momentos de explosão e implosão”. O psiquiatra explica a diferença entre uma e outra.

“Quando se explode, o problema que era ruim se torna pior. Discussão gera discussão. Ofensas mútuas suscitam mais sentimentos ruins. A situação cresce e começa a se tornar insustentável, não há mais capacidade de se acalmar para conseguir racionalizar e ver com clareza o que está realmente acontecendo e o que realmente importa naquele momento. Uma bola de neve e, se não houver um fim para toda essa problemática, o resultado será o rompimento de relações, da saúde emocional e física“.
Já na implosão, os que sofrem quietos passam a ficar doentes, “do corpo e da alma”. “Desenvolvem sintomas depressivos, ansiosos, tanto emocionais quanto físicos. Desânimo, tristeza, angústia, vontade de se isolar, perda da vontade de realizar qualquer atividade, alteração de sono e de apetite, medo, insegurança, preocupação, tensão, irritabilidade, agressividade, dor no peito, falta de ar, palpitações, tremores, tontura, formigamentos, entre outros. Sem mencionar as mágoas, os ressentimentos, as crises de raiva, o desgosto pelas pessoas e, às vezes, até pela vida“, enumera.
Como agir

O especialista dá dicas para que você busque prevenir ou reverter esse tipo de situação quando uma discussão começa:
- Aprenda a reagir no momento certo e da forma certa;
- Mantenha a calma, espere a hora de falar o que pensa;
- Fale com tranquilidade e serenidade, pontuando tudo o que pensa a respeito do problema e as formas de resolvê-lo;
- Se não souber como resolver, proponha que cheguem a uma solução juntos, com calma e sabedoria, sem decisões precipitadas ou
de cabeça quente.
Nada de varrer o descontentamento para debaixo do tapete. “Deixar passar e esquecer ou não se importar com o problema ou o conflito não são as melhores formas de lidar com a situação. Ao agir assim, demonstramos falta de afeto, cuidado, carinho, empatia e amor com a outra pessoa, além de mostrar falta de responsabilidade tanto com ela quanto com o problema. As dificuldades da vida devem ser enfrentadas e precisamos aprender a, ao menos, lidar com elas”, conclui.
Quem, após seguir essas dicas, não conseguir se posicionar, deve buscar ajuda profissional a fim de conseguir vencer as dificuldades.
Assine a newsletter de CLAUDIA
Receba seleções especiais de receitas, além das melhores dicas de amor & sexo. E o melhor: sem pagar nada. Inscreva-se abaixo para receber as nossas newsletters:
Acompanhe o nosso WhatsApp
Quer receber as últimas notícias, receitas e matérias incríveis de CLAUDIA direto no seu celular? É só se inscrever aqui, no nosso canal no WhatsApp.
Acesse as notícias através de nosso app
Com o aplicativo de CLAUDIA, disponível para iOS e Android, você confere as edições impressas na íntegra, e ainda ganha acesso ilimitado ao conteúdo dos apps de todos os títulos Abril, como Veja e Superinteressante.