O câncer de mama na visão das brasileiras
Pesquisa inédita revela os principais desafios no diagnóstico e tratamento e o impacto da doença na qualidade de vida
Mapear os gargalos nos cuidados e as repercussões do câncer de mama no trabalho, na vida social e nos relacionamentos, eis o objetivo do estudo Um Olhar sobre o Câncer de Mama no Brasil, feito pelo núcleo de pesquisa da revista Veja Saúde, com patrocínio da Roche e apoio da Femama e do Instituto Oncoguia.
Femama e do Instituto Oncoguia. “Um quarto das mulheres foram diagnosticadas com menos de 40 anos”, ressalta Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia. “Isso reforça a necessidade de dar mais atenção ao rastreamento precoce.” Dos participantes, 15% não costumavam fazer mamografia e quase 20% relataram que esse exame nunca sequer havia sido solicitado.
Pelas recomendações do Ministério da Saúde, a mamografia deve ser bianual, a partir dos 50 anos. Sociedades médicas do país, porém, recomendam que essa checagem seja antecipada. “Mesmo a mulher assintomática, sem história familiar de câncer e sem nenhuma suspeita tem que começar a fazer mamografia já com 40 anos”, diz Marina Sahade, médica do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.
Uma vez diagnosticada, preocupa o fato de um terço da amostra não saber qual o subtipo do tumor, detectado pelo teste imuno-histoquí- mico. “A informação é crucial para que elas entendam os tipos de terapias indicadas, efeitos colaterais e o que fazer para minimizá-los”, explica Maira Caleffi, chefe do Núcleo da Mama do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS). Para boa parte das respondentes, aliás, as reações adversas das medicações são a principal dificuldade enfrentada. “Com a pessoa envolvida informando suas queixas, é possível ajustar doses ou mudar medicamentos. Qualidade de vida importa e muito”, diz a médica, que é também presidente da Femama.
Para Clarissa Medeiros, gerente médica da Roche Farma Brasil, a evolução da ciência permite, hoje, oferecer os melhores tratamentos, com diferentes formas de administração: “Cada uma atende ao plano terapêutico escolhido pelo oncologista, sendo algumas opções mais impactantes no tempo gasto no dia da aplicação, ponto que a pesquisa demonstrou ser um incômodo”. Três em cada dez relatam demorar pelo menos duas horas nas idas e vindas aos centros de saúde — essa taxa sobe para 47% entre as que se tratam no serviço público.
Informação e acolhimento são outros tópicos relevantes. A indicação de associações de pacientes foi mencionada por somente 15%. “Essas organizações deveriam entrar nas prescrições médicas”, diz Luciana Holtz. “Nelas se obtêm informações sobre questões como direitos dos pacientes e impactos financeiros. O estudo consegue mostrar o quanto precisa olhar muito além do acesso ao tratamento.” Num cenário em que, até o fim de 2023, de acordo com estimativa do Instituto Nacional de Câncer, 73 610 novos casos de câncer de mama serão registrados no país, a pesquisa colabora com o aprimoramento de políticas de saúde e a promoção de cuidados necessários para pacientes e familiares.
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