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Menopausa sob controle: terapias hormonais para aliviar essa transição

Para suavizar os baques físicos e emocionais causados pelo fim da menstruação, especialistas prescrevem terapias hormonais capazes de tornar essa transformação quase imperceptível.

Por Marina Bessa (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 14h37 - Publicado em 7 ago 2016, 07h25
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Diferentemente do que muita gente acredita, os primeiros sinais da menopausa não começam aos 50 anos, mas cerca de uma década antes. É o início do fim da fase reprodutiva feminina, quando há uma queda na produção dos hormônios sexuais (estrogênio, progesterona e testosterona). Ao longo de dez anos, a mulher enfrenta TPM e fluxo menstrual acentuados, passando à irregularidade do ciclo e outros reflexos incômodos: das ondas de calor, que atingem até 80% das mulheres, à falta de lubrificação vaginal, insônia e alterações de humor. Até hoje, a única solução viável apontada pela medicina para atenuar os sintomas desse período, chamado pré-menopausa ou climatério, é a reposição hormonal. 

Indicada há algumas décadas, tornou-se alvo de desconfiança desde 2002, quando um estudo americano relacionou a administração da progesterona ao aumento da incidência de câncer de mama. De lá pra cá, no entanto, a pesquisa foi reavaliada e relativizada. “Muitas falhas foram encontradas. Entre elas, o fato de estudar mulheres em idades já avançadas, com problemas preexistentes e que começaram a terapia em função da pesquisa”, explica Mauro Abi Haidar, chefe da disciplina de endocrinologia ginecológica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

Leia também: Menopausas precoce e tardia podem ampliar risco de diabetes

Novas leituras e interpretações da publicação médica levaram à conclusão de que o risco de câncer de mama associado ao uso de terapia hormonal é baixo. Especialmente se comparado aos seus benefícios. O procedimento é hoje considerado seguro e eficaz, desde que se faça um acompanhamento regular e que se respeitem os casos de contraindicação (problemas no fígado, no coração ou histórico de câncer de mama ou endométrio na família). “O alívio proporcionado por métodos alternativos é muito inferior”, afirma a ginecologista Maria Celeste Osório Wender, presidente da Associação Brasileira de Climatério.

O tratamento costuma associar o estrogênio – cuja baixa é responsável pela maior parte dos sintomas – à progesterona, necessária para proteger o útero contra o câncer de endométrio. São muitas as dosagens e combinações possíveis. “O segredo está em considerar a individualidade de cada paciente”, diz Mauro Haidar. Há cinco anos, a maior parte das terapias era feita via oral. Hoje há soluções mais modernas, como o gel e o adesivo, de aplicação tópica. “Como não passa pelo fígado, o hormônio ministrado através da pele não interfere na coagulabilidade do sangue, reduzindo a probabilidade de infartos, AVCs e embolias”, explica Maria Celeste. Com isso, mulheres hipertensas, fumantes, obesas e com risco de trombose, para quem os comprimidos não são indicados, passaram a se valer dos benefícios da terapia. O gel e o adesivo conseguem ainda maior estabilidade do nível de hormônios no sangue, melhorando a qualidade do tratamento. 

É possível não só amenizar os sintomas físicos da pré-menopausa mas  também evitar o desgaste emocional inerente a essa fase. “Estudos da sociologia e da antropologia revelam que, nas sociedades que privilegiam a juventude, o fim da fertilidade pode ser arrebatador”, afirma o ginecologista Malcolm Montgomery em seu livro …Era uma Vez a Menopausa (Integrare Editora, 39,90 reais). “As mulheres não precisam ser submetidas a esse tabu”, diz. A solução, segundo ele, é não deixar que haja uma queda brusca nas taxas hormonais. Dessa forma, o corpo não percebe a falência dos ovários e faz a transição de forma quase imperceptível. 

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Em uma conduta mais conservadora, ao se aproximarem dos 40 anos, as mulheres são orientadas a interromper o uso de contraceptivos hormonais para observar se já apresentam sintomas de climatério. Quando eles aparecerem, inicia-se a terapia hormonal. Em oposição, o que Montgomery sugere é que, perto dessa idade, as mulheres passem a usar métodos contraceptivos que suspendam a menstruação enquanto ela ainda é regular. “O tratamento consiste no bloqueio do ciclo, feito mediante a aplicação de implantes subcutâneos, que liberam diariamente quantidades fixas de hormônio”, explica ele. Como qualquer método contraceptivo hormonal, os implantes também melhoram os sintomas da TPM e as irregularidades menstruais. Durante os anos seguintes, a paciente é supervisionada. “No momento em que surgirem as alterações hormonais que indicam a queda da fertilidade, o anticoncepcional será gradativamente trocado pela reposição”, explica Montgomery. A mulher não deixa de passar pelo processo da menopausa, mas já não há janelas para o aparecimento dos sintomas. 

Vale ressaltar que os implantes são caros e controversos. “Não há nenhum estudo que garanta a segurança dessa técnica sob o ponto de vista metabólico”, afirma Maria Celeste. Mas é possível obter o mesmo efeito com pílulas anticoncepcionais. “Já existem no mercado duas opções, à base de estrogênio natural, capazes de suspender a menstruação e controlar os sintomas do climatério”, explica. Nesse caso, o medicamento pode ser tomado até os 55 anos – idade em que a chance de engravidar é zero. Ao se interromper o uso da pílula, inicia-se a terapia hormonal, que tem efeitos positivos também na pós-menopausa. 

Quem usa contraceptivos comuns, que combinam estrogênio e progesterona, consegue resultados semelhantes se mantiver o tratamento até perto dos 50 anos. Com a diferença de que a menstruação, que nesse caso é decorrência de um ciclo falso, continua a aparecer todos os meses. As precauções ficam por conta das doses de hormônio, que costumam ser maiores nos anticoncepcionais do que na terapia hormonal, aumentando os riscos do uso a longo prazo. “É tudo uma questão de avaliar eficácia e segurança, indicações e benefícios”, pondera Maria Celeste. O que não vale, em hipótese alguma, é sofrer sem necessidade. 

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