Legalização da maconha: por que este debate pode estar mais próximo da sua vida do que você imagina
A discussão sobre o assunto está ganhando novas cores. Vai além de consumir ou não, de ser a favor ou contra. Ela envolve agora o uso medicinal dos derivados da planta.
Esse ano, muita gente descobriu um motivo a mais para ir discutir sobre a legalização da maconha: ela também pode ser remédio. Mês passado, o curta Ilegal mostrou ao Brasil a história de Katiele, uma mãe de Brasília que luta para tratar a epilepsia grave de sua pequena filha Anny, de 5 anos, com canabidiol o derivado de maconha fez a criança sair de 60 convulsões por semana para nenhuma. Só que a substância é proibida no Brasil e Katiele precisa contrabandear o produto. Sua história comoveu as pessoas, e plantou uma pulga atrás de muitas orelhas. Muitos se surpreendem com o fato de que a erva do diabo pode ser um santo remédio.
Cada vez mais, as pessoas entendem que abrir o debate sobre o assunto não é coisa de maconheiro. Não se trata apenas sobre o direito de cada um fumar o que quer. É uma luta contra vários efeitos colaterais da fracassada guerra às drogas, por menos violência, menos corrupção, menos violações de direitos humanos, menos desperdício de dinheiro público e uma questão de saúde. É ou não é um assunto que diz respeito a todos nós?
É surpreendente a nossa ignorância sobre o fato. Porque a humanidade conhece o poder medicinal da maconha há mais de 2 mil anos. Esquecemos disso por causa de uma muralha de preconceito e desinformação que foi erguida ao longo do século 20, com a proibição das drogas. Conforme a história do Ilegal se espalha, as pessoas veem o outro lado do muro, o outro lado da história, e mudam de ideia. Algumas, encontram uma solução para dramas similares em suas famílias.
Outro dia, no final de uma exibição do filme, uma jovem que veio de Jacareí só para o evento veio me procurar. Queria informações sobre a utilidade da Cannabis para sua mãe com câncer. A erva pode ajudar pacientes da doença de vários modos: ao controlar náuseas e vômitos, ao reduzir dores e talvez até combatendo os tumores. Só que a planta e todos os derivados que poderiam ajudar essa mulher e os milhões de brasileiros com câncer são proibidos no Brasil. Hoje (25/04), essa jovem vai à Marcha da Maconha, em São Paulo, e não é para fumar maconha. É por amor à mãe.
Tarso Araujo é jornalista, autor do Almanaque das Drogas e co-diretor do filme Ilegal.
Veja o vídeo abaixo:
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