iPhone 14 Pro tem sensor de temperatura que detecta ovulação: funciona?
Especialista discute os benefícios e malefícios que esse tipo de acompanhamento tecnológico pode trazer para as tentativas do casal de gerar um filho
Recentemente, a Apple apresentou seu novo modelo do relógio inteligente, Apple Watch Series 8, e do iPhone 14 Pro, que, entre outras coisas, utiliza um sensor de temperatura para detectar os ciclos de ovulação nas mulheres. A infertilidade conjugal, ou seja, a dificuldade de conceber um filho, atinge um em cada sete casais em média e, após muitas tentativas, é fundamental buscar ajuda de um especialista, mas antes de chegar a um médico, alguns casais são tentados a procurar uma outra estratégia: os aplicativos de fertilidade.
“A grande maioria dos aplicativos monitora os ciclos menstruais baseado nas datas dos ciclos anteriores e funciona muito bem para as mulheres que têm ciclos completamente regulares. O que acontece é que o ciclo menstrual é dividido em duas fases: a primeira é variável e compreende o período entre o primeiro dia do fluxo menstrual até a ovulação. A segunda vai da ovulação ao dia que antecede o fluxo do próximo ciclo e essa fase é fixa, durando 14 dias. Portanto, para as mulheres com ciclos menstruais regulares, é possível prever o dia da ovulação e período fértil (por exemplo, a mulher com ciclo de 28 dias ovula no 14º dia, a mulher com ciclo de 32 dias ovula no 18º). Mas se naquele ciclo, a ovulação atrasar ou adiantar, o aplicativo não é capaz de detectar”, explica Rodrigo Rosa, especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.
“Essas ferramentas ajudam a mulher na identificação do seu período fértil, no entanto, não substituem uma investigação de um especialista. Afinal, existem diferentes tipos de patologia, relacionadas a infertilidade do casal, que não podem ser identificadas pelo aplicativo”, completa o especialista.
Quando a mulher tem controle dos seus ciclos menstruais, esse é um dos passos mais poderosos para cuidar de sua saúde reprodutiva. No entanto, Rodrigo pondera que, apesar dos aplicativos auxiliarem, os testes de ovulação de farmácia ainda continuam sendo os mais eficazes nesses casos. “Vale ressaltar também que a ausência de ovulação é responsável por apenas 25% das causas de infertilidade feminina e cerca de 15% de todas as causas”, afirma. O especialista enfatiza que o aumento da prevalência de infertilidade é devido às mudanças sociais, como adiamento da gestação e piora do estilo de vida (dieta inadequada, alterações do peso, abuso de álcool, tabagismo, entre outros).
Para quem quer começar a usar os aplicativos, fisiologicamente falando, não há risco. “Porém, eles podem atrasar o tratamento de alguma patologia que esteja interferindo na fertilidade do casal. Além disso, outro grande problema desses aplicativos é aumentar o estresse do casal ao ‘orientar’ o dia fértil. Muitos casais ficam mais estressados com a obrigação de ter relação sexual no dia indicado pelo aplicativo, que nem sempre pode estar correto”, aponta.
O especialista explica que a queda na fertilidade feminina após os 30 anos e de forma mais acentuada após os 35 anos é decorrente do fato da mulher já nascer com todo o estoque de óvulos que será utilizado durante toda a vida reprodutiva e, ao longo do tempo, há queda da quantidade e da qualidade dos óvulos, com mais erros genéticos, dificultando a gestação e aumentando o risco de abortos espontâneos. “Para uma mulher de 28 anos de idade, cerca de 10 dos 12 óvulos que ela produz ao ano são viáveis, mas para uma mulher de 38 anos, talvez apenas dois dos 12 óvulos, sejam viáveis. Assim, identificar os dias férteis é importante para a mulher que deseja engravidar, mas outras causas devem ser investigadas”, explica o médico.
Por fim, o especialista em reprodução humana ressalta que, quando o casal não consegue engravidar após 12 meses de tentativas, é fundamental procurar ajuda médica para identificar todas as possíveis causas de infertilidade, tanto masculina quanto feminina.