Ele lembra uma esponja vermelho – acastanhada no lado direito do abdômen, capaz de sugar até 1,2 litro de sangue por minuto, se for necessário. Quando a circulação faz escala nessa glândula – sim, é a maior glândula do corpo humano, medindo de 8 a 10 centímetros e pesando cerca de 1,5 quilo -, muita coisa costuma acontecer.
As células hepáticas são versáteis e fazem de tudo um pouco: armazenam algumas substâncias e fabricam outras tantas. A produção diária de proteínas, só para citar uma prova de sua incrível capacidade de trabalho, alcança uns 100 gramas. Outras vezes, o fígado simplesmente transforma um composto em algo diferente. Ele pode criar gordura a partir de moléculas de álcool para conseguir uma reserva de energia. E todo apreciador de bebida reconhece essa metamorfose no espelho, ao ver refletida a famosa barriga de chope. Finalmente, o fígado ainda elimina tudo aquilo de que o corpo precisa se livrar – de micróbios a toxinas, passando por células sanguíneas desgastadas que já não funcionam direito.
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Com tantas funções, torna-se mesmo imprescindível. Ninguém sobreviveria sem ele por mais de cinco horas, e olhe lá. E, talvez por isso, é o único órgão do corpo que se regenera. “Em transplantes podemos tirar até 65% do fígado de um doador que, com o tempo, ele crescerá e voltará ao seu tamanho normal”, conta a gastroenterologista Suzane Ono, da Universidade de São Paulo. Em casos assim, certos hormônios, incluindo a insulina do pâncreas, regulam a divisão das células hepáticas até que elas alcancem, novamente, a quantidade necessária para dar conta do serviço naquele organismo.
Apesar dessa incrível capacidade, o fígado recebe maus-tratos, graças a mudanças de comportamento associadas à vida moderna. Elas fazem com que alguns problemas dessa glândula, que antes só davam as caras depois dos 60 anos, passem a incomodar cada vez mais pessoas jovens. É que a tendência é existir um acúmulo de estragos provocados por inimigos fi- gadais cultivados desde cedo. Entre eles estão o consumo precoce e exagerado de álcool, a alimentação desbalanceada desde a infância, o abuso de remédios sem orientação – isto é, sem levar em conta interações indesejáveis – e, claro, a dependência de drogas.
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Problemas hepáticos
Ele geralmente não dói – e, se alguém se queixa de dor no fígado, em geral tem problemas em outro órgão do aparelho digestivo. Para reclamar, o fígado precisa estar bem doente, já que a maioria dos males que o acomete se inicia de maneira silenciosa. Um deles é a esteatose, um depósito de gordura que atrapalha o seu trabalho. E ela se torna mais frequente com a escalada da obesidade. “Os hábitos mudaram: muita gordura, muita massa e pouco exercício físico”, observa o hepatologista Flair José Carrilho, do Hospital das Clínicas de São Paulo. O álcool também contribui para a esteatose e para outro problema grave – a cirrose, uma espécie de cicatriz. O hepatologista Marcio Dias de Almeira, do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista, decreta: “Não existe mágica para você beber sem afetar o fígado”. Existem, para completar, as infecções causadas por vírus capazes de inflamar essa glândula. São as hepatites. Os tipos mais comuns são A, B e C. O primeiro é transmitido pelo contato com outros doentes e por alimentos contaminados – daí a importância de hábitos de higiene. Já os vírus B e C são transmitidos pelo sangue e pelo sexo. Por enquanto, só existe vacina para as hepatites A e B. “Jovens de até 24 anos devem procurar a imunização”, afirma a gastroenterologista Suzane Ono, da USP.
Dicas
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//. Duas xícaras de café por dia e mantenha uma dieta equilibrada.
//. Informe-se sobre possível interação entre remédios. Lembre-se: toda confusão medicamentosa acontece no fígado.
//. Não utilize suplementos nutricionais sem acompanhamento. Eles também são processados pelas células hepáticas.
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//. Em casa, siga as recomendações de armazenamento correto de alimentos. E lave-os bem antes de consumir. Poupe seu fígado de lidar com micróbios e toxinas.
//. Vacine-se contra as hepatites A e B.
//. Se beber álcool, alterne a bebida com bons goles de água.