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Entenda as fases do luto e como lidar com cada uma delas

Apesar de difícil, o processo de luto é natural e não há regras sobre como vivenciá-lo: o importante é não sufocar os sentimentos que acompanham as perdas

Por Kalel Adolfo
22 out 2022, 08h35
Apesar de ser uma etapa natural da vida, lidar com a morte sempre é um processo complexo.
Apesar de ser uma etapa natural da vida, lidar com a morte sempre é um processo complexo.  (J_art (Getty)/Reprodução)
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Atravessar um período de luto nunca é uma experiência fácil: sentimos dificuldade em nos adaptar à nova rotina sem a presença de quem amamos e, muitas vezes, a tristeza parece não ter fim. Contudo, todos esses sentimentos fazem parte desta fase, e aceitar vivenciá-los é um primeiro grande passo para aprender a conviver com a dor da ausência.

Segundo a psicóloga Alessandra Kovac, toda perda, independente de sua natureza, desencadeia o processo psicológico do luto. Mas a especialista explica que, por mais doloroso que seja, este é um processo natural — e extremamente saudável. “O inusitado seria nos adaptarmos rápido. Não que existam regras em relação a isso. O tempo é relativo: alguns demoram mais, outros menos, e cada processo é uma experiência individual”, afirma.

É importante lembrar que pessoas com traços ansiosos ou depressivos também podem se sentir ainda mais fragilizadas ao serem confrontadas com a morte daqueles que amam. Mas novamente, a dificuldade ao vivenciar tal experiência é comum a todos.

Luto: há uma forma de se preparar para vivê-lo?

Alessandra explica que, no fim das contas, é possível apenas amenizar a intensidade do luto, mas não evitá-lo. Falar sobre uma espécie de preparação também é delicado, pois tudo depende das circunstâncias. “Quando um ente querido fica doente, a família tem tempo para assimilar o ‘sentido’ daquela morte. Nos encontramos numa situação em que entendemos que a pessoa adoeceu, tentou se tratar, mas o corpo não reagiu. Buscamos aceitar que a morte representa a última etapa da vida”, diz.

Todavia, em casos de perdas repentinas, o luto pode ser um pouco mais complexo, já que a mente não encontra tempo para se adaptar à fatalidade. “Obviamente, a intensidade do laço que tínhamos com quem ‘foi embora’ também pesa nesta fase”, aponta.

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Fases do luto e como lidar com cada uma delas

Há um consenso de que o processo do luto pode ser dividido em cinco fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. “Na maioria das vezes, elas acontecem nessa ordem. Mas não é incomum existir casos em que as fases ocorram de forma aleatória ou até mesmo simultânea. Às vezes, o paciente pode ir direto para a raiva, e logo em seguida, voltar à negação”, clarifica.

De qualquer forma, todas as fases são saudáveis (e não há como evitar que elas aconteçam). A seguir, Alessandra Kovac explica cada uma delas:

Negação (1ª fase)

Esta é a fase da notícia. De acordo com a psicóloga, a primeira defesa do psiquismo é a negação no sentido de não querer aquilo que está acontecendo. “O intuito é minimizar a situação. É comum neste período que as pessoas afirmem que ainda não caiu a ficha”, revela.

Em todas as famílias, sempre há um parente que acaba assumindo as questões práticas do velório e enterro. Kovac diz que isso não significa necessariamente que o indivíduo é mais “forte”, e sim que está mais “firme” na fase da negação para conseguir suportar toda a vivência.

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Raiva (2ª fase)

No momento em que a ficha cai, estamos falando sobre a fase da raiva. É a partir daí que o indivíduo começa a se deparar com um sentimento de revolta, pois ele não queria que aquilo acontecesse. “É um momento em que tentamos encontrar respostas. Neste processo, é comum culparmos alguém: ou o próprio falecido por não ter se cuidado ou o médico que não fez tudo aquilo que estava a seu alcance.”

Em contextos religiosos, alguns culpam Deus e outras divindades por terem ‘permitido’ o falecimento. Mesmo assim, Alessandra afirma que este é um período importante por representar a primeira vez que o paciente se permite pensar mais no assunto.

Barganha (3ª fase)

A fase da barganha é o momento de negociarmos com os nossos sentimentos em relação ao outro. “Sabe quando pensamos: ‘É melhor assim, a pessoa estava sofrendo muito’? É neste sentido. Tentamos dar uma outra conotação à morte, para que ela não pareça tão ruim. ‘Não foi tão doloroso’ e ‘É o destino’ se tornam pensamentos constantes”, compartilha.

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Depressão (4ª fase)

A quarta fase — depressão — é quando finalmente confrontamos os sentimentos de dor, tristeza e saudade. “É aí que sentimos profundamente a ausência afetiva e concreta daquela figura. Também nos deparamos com sensações de culpa por acharmos que não aproveitamos enquanto a pessoa estava aqui”, elucida.

Por mais que seja dilacerante pensar no quanto poderíamos ter perdoado ou feito mais por alguém, este período de contato direto com a dor é o que realmente possibilita a chegada da aceitação (última etapa do luto). “Gosto de explicar que este é um enfrentamento da verdadeira tristeza. É um momento definitivamente introspectivo.”

Aceitação (5ª fase)

Na última fase, a ausência — que antes era insuportável — se torna tolerável. “Até a quarta fase, a perda era um machucado em carne viva. Com a aceitação, o luto vira uma cicatriz: quando a vemos, lembramos de tudo o que passamos, mas a dor não está presente”, ilustra Kovac.

Ela pontua que isso não significa que nunca mais lidaremos com a tristeza. Mas, após essa fase, a maioria das pessoas consegue seguir adiante e realizar novos planos, já que a dor se transforma em saudade.

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Dicas para lidar com o luto

Uma dica que envolve todas as fases é aceitar o que estamos sentindo. Não há problemas em ficar um tempo na raiva ou depressão”, aconselha. Caso esteja muito pesado, a especialista recomenda que sempre tentemos pedir ajuda. “Não exclusivamente profissional, mas de amigos e familiares. Tendemos a acreditar que precisamos ser fortes e resolver tudo sozinhas, mas ter suporte é imprescindível.”

Para quem está na fase de negociação, Kovac recomenda buscar compreender a maneira que enxergamos a vida e até mesmo a espiritualidade. “Por ser a fase em que atribuímos sentido à perda, é importante pensar nos seus conceitos acerca da morte. Você acredita que há um pós-vida ou não? Ter isso claro ajuda a selecionar os melhores recursos. Quem tem algum tipo de fé, pode se apoiar nela. E claro, é um mito que ateus tendem a sofrer mais. Contudo, eles também precisam mergulhar num processo de autoconhecimento para conseguir seguir adiante enquanto estão por aqui.”

Outro ponto essencial: não se sinta culpado por ter novos sonhos e objetivos. “A aceitação não é sinônimo de que não nos importamos. Inclusive, ninguém aceita completamente. Quem afirma isso tem grandes chances de estar voltando para a negação”, explica.

Por fim, tente não sufocar os seus sentimentos, pois eles sempre surgem de alguma maneira. “Pode ser através de uma doença psicossomática que apenas transmuta o problema. E quase sempre as emoções encontram um escape para voltar posteriormente. Sufocar é apenas adiar ou complicar algo que deveria ser vivido na hora”, alerta.

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Luto pode ser patológico?

Acima de tudo, o ideal é viver o luto no momento que ele acontece. Alessandra pontua que muitas pessoas passam meses acreditando que aceitaram tudo, quando, na verdade, estão presas na fase da negação.

Porém, o luto apenas se transforma em uma situação patológica quando deixa as pessoas incapacitadas de reagir ou fazer quaisquer outras tarefas.

Existe um tempo “saudável” de luto?

Alessandra esclarece que alguns autores afirmam que o “luto normal” dura por volta de seis meses. “Esta janela de tempo foi escolhida por representar meio ano. Muitas etapas se iniciam em viradas de semestre. Então, após esse período, é esperado que tenhamos começado a ressignificar a vida com a ausência da pessoa.”

Porém, ela reitera que o que realmente define se qualquer processo é saudável ou não é a intensidade. Quando não conseguimos focar em quaisquer outros assuntos, é o momento de buscar ajuda.

Precisamos desmistificar a morte. Falar sobre o fim da vida ou doenças continua sendo um grande tabu. Mas é necessário entender que a finitude da existência faz parte de quem somos. Se eu tive uma boa vida, a morte vem apenas como a conclusão de uma etapa. É muito mais doloroso pensar na morte quando sentimos que não estamos valorizando os nossos dias — ou quem está ao nosso lado, acredite”, conclui.

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