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DPOC: é possível conviver com a doença e ter qualidade de vida

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica já conta com tratamentos modernos disponíveis que podem ajudar na independência dos pacientes

Por Abril Branded Content
Atualizado em 16 nov 2023, 15h06 - Publicado em 16 nov 2022, 11h30

Falta de ar, tosse e expectoração. Esses são os principais sintomas da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC),1 que acomete cerca de 210 milhões de pessoas no mundo2. A doença é mais comum em pessoas com mais de 50 anos de idade e está associada, principalmente, à exposição ao fumo, poluição, poeira e produtos químicos.1 A DPOC é uma condição progressiva e pode vir a ser incapacitante, afetando a realização de atividades simples do dia a dia se não for diagnosticada e tratada adequadamente.3 

DPOC e os impactos na vida
(Istock/Abril Branded Content)

A DPOC é a terceira causa de morte no mundo: em 2019, 3,23 milhões de mortes foram causadas pela doença4 e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais de 90% dessas mortes acontecem em países de renda média a baixa, porque as estratégias de prevenção não são eficazes e os tratamentos não estão disponíveis ou não são acessíveis para todos. 

De acordo com a dra. Angela Honda, médica pneumologista e líder de programas educacionais da Fundação ProAR — união de profissionais da saúde, pacientes e entusiastas, que tem como objetivo expandir o acesso ao diagnóstico e tratamento das doenças respiratórias crônicas — a DPOC é uma doença muito subdiagnosticada, prevalente e que deve apresentar ainda mais casos nos próximos anos.

Isso porque, como conta a especialista, grande parte da população que está chegando aos 50 anos e envelhecendo foi tabagista na época da adolescência e juventude e deve sofrer com as consequências da exposição ao fumo. 

DPOC e os fatores de risco
(Istock/Abril Branded Content)

O subdiagnóstico, por sua vez, pode ser caracterizado por uma junção de falta de informação dos pacientes, que muitas vezes imaginam que os sintomas são normais por conta de fatores como idade e sedentarismo e a falta de atenção dos profissionais da saúde, que nem sempre indicam os exames necessários para a identificação da DPOC.

“Muitas pessoas já não fumam mais há muitos anos, por exemplo, e não associam que uma tosse constante ou algum desconforto respiratório possa ter a ver com o tabagismo. A idade também desfavorece o diagnóstico, porque os pacientes acreditam que estão apenas sentindo as consequências do tempo no organismo. Mas é importante ressaltar que sintomas como tosse e cansaço constantes não são normais”, reforça Angela Honda.

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O diagnóstico de DPOC
(Istock/Abril Branded Content)

Depois dos 40 anos, como informa Angela Honda, todas as pessoas perdem um pouco da qualidade respiratória. Mas, em pacientes com DPOC, essa perda é ainda mais rápida. E o diagnóstico precoce e preciso é fundamental para que o tratamento tenha início. Dessa forma, é possível diminuir os impactos da doença. 

Dra. Angela Honda
(Arquivo Pessoal/Abril Branded Content)

Vale lembrar que a DPOC, que chegou a ser considerada como uma doença masculina, tem afetado cada vez mais mulheres em todo o mundo. “Às vezes, as mulheres nunca fumaram, mas conviviam com pessoas que eram tabagistas ou eram as responsáveis por cuidar do fogão a lenha e lidar com outras fumaças e produtos abrasivos. Elas também precisam ficar de olho nos sintomas para garantir um rápido diagnóstico”.

DPOC e as mulheres
(Istock/Abril Branded Content)

O olhar para o paciente

Em 2013, Soraya Fleischer, coordenadora de graduação do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (DAN/UnB), fez uma pesquisa sobre DPOC para conhecer melhor a doença do ponto de vista dos pacientes e como eles lidam com o tratamento, em específico com a oxigenoterapia. 

Foram entrevistadas 28 pessoas, sendo 21 mulheres, com uma média de 67 anos de idade. Os resultados foram desde um entendimento lúdico do que é o pulmão e como ele está sendo afetado pela doença — com metáforas como pulmão murcho, pulmão colado, inchado, esburacado, fechado e manchado —, até o isolamento para evitar sua transmissão. E essa falta de conhecimento e entendimento sobre sua condição pode ser muito prejudicial.

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“As pessoas nem sempre percebem e definem seus sintomas como uma doença, nem sempre chamam de DPOC. Explicam seus sintomas por coisas importantes e traumatizantes que aconteceram durante suas trajetórias de vida (intoxicação no trabalho, uso do fumo para espantar mosquitos enquanto se cortava cana de açúcar etc.) e, por isso, nem sempre enquadram sua saúde dentro dos parâmetros da medicina, levando ao que chamamos de ‘falta de adesão ao tratamento’, mas que é motivado por outros fatores”, explica Soraya. 

Segundo ela, os pacientes não devem ser entendidos somente como um indivíduo isolado no mundo, mas dentro de uma família, uma casa, um bairro, um trabalho, uma cidade. São muitas as camadas de contexto que o constituem. “Por fim, a doença é também um fato social e não apenas um fato biológico”, diz. 

Soraya Fleischer
(Arquivo Pessoal/Abril Branded Content)
Como melhorar a qualidade de vida dos pacientes com DPOC
(Istock/Abril Branded Content)

O papel do cuidador na vida dos pacientes com DPOC

Outra figura importante no contexto da doença é o cuidador. Não é fácil cuidar de um paciente com DPOC, ainda mais quando a doença progrediu e está afetando sua qualidade de vida. Só nos EUA, se estima que haja 40 milhões de familiares fazendo o papel de cuidador de uma pessoa que sofre com a doença. Eles prestam uma média de 20 horas de cuidados por semana, mas muitos assumem essa tarefa 24 horas por dia.8

Flávia Lima, presidente da Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas (Abraf), conta que essa necessidade de cuidado dentro de casa pode afetar a vida econômica da família, exatamente porque o cuidador muitas vezes deixa de trabalhar para cuidar da casa e do paciente. E, geralmente, esse cuidador é uma mulher. 

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“São mães, esposas, filhas, em sua maioria. Elas auxiliam no dia a dia, nas tarefas domésticas, mas também estão junto ao paciente nas consultas, nas associações, lutando por Políticas Públicas e por acesso aos mais diversos tratamentos. Elas precisam ser cuidadas”.

A Abraf, que faz um trabalho de perto com os cuidadores, disponibiliza grupos de apoio, a Central do Pulmão — um canal gratuito para tirar dúvidas sobre a doença e falar com especialistas — e os dez mandamentos do cuidador, para que ele também cuide de si.9

O cuidador, diz Flávia, além de ser crucial para os cuidados básicos com o paciente, também é a pessoa que vai agir de forma ativa na reabilitação e no contato com os médicos. 

Flávia Lima
(Arquivo pessoal/Abril Branded Content)

 

Os 10 mandamentos do cuidador
(Abril Branded Content/Abril Branded Content)

Tratamentos para pacientes com DPOC

O tratamento da DPOC consiste em parar de fumar imediatamente ou se afastar da fumaça e de outros provocadores irritantes. São utilizados medicamentos broncodilatadores e, em pacientes mais graves, oxigênio domiciliar contínuo para melhorar a oxigenação e a qualidade de vida. Em alguns casos, pode ser recomendadas cirurgias.7

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Os dispositivos inalatórios utilizados no tratamento podem ser prescritos em forma de spray, névoa ou pó seco, dependendo da necessidade do paciente. E, além do medicamento, é indicado que as pessoas diagnosticadas com DPOC participem de programas de reabilitação com fisioterapia e que entendam com a equipe médica se podem, por exemplo, fazer exercícios para melhorar a qualidade de vida.3

A dra. Angela Honda ressalta que, em 2021, houve uma atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para a doença — que não era atualizado desde 2013—, o que significa um grande avanço no tratamento.

O que é PCDT?
(Istock/Abril Branded Content)

A médica lembra que há não muito tempo, sequer existiam tratamentos para a doença e que a evolução da Medicina e do acesso a essas moléculas e tecnologias mais modernas são um enorme ganho para pacientes, familiares, cuidadores e para a saúde como um todo. “Essas implementações são revolucionárias no tratamento do paciente, na melhora da qualidade de vida e até diminuem a mortalidade, diminuindo as crises, que levam à hospitalização e elevam as chances de óbito”, afirma.

Vivendo com a DPOC

Definitivamente, o diagnóstico de DPOC não precisa (e nem deve) ser uma sentença de morte ou de perda de qualidade de vida. Há 35 anos, Terezinha Waltrich Westphal, hoje com 76, foi ao hospital pela primeira vez com queixa de falta de ar depois de passar mal no trabalho. Além de fumante, ela trabalhava com limpeza e fazia uso de produtos químicos fortes. “Me levaram para o hospital e, desde aquele dia, eu vivo com a doença”, conta.

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Sua filha, Angelita Westphal, cumpre a função de cuidadora e relata preocupação principalmente com os momentos de crise. “Já houve ocasiões em que ela ficou internada e não sabíamos se voltaria para casa. Hoje, dependendo da gravidade, ela apenas toma medicamento no hospital. No inverno, a situação piora, mas no verão costumamos ficar tranquilas”, relata.

Mãe e filha aprenderam, com o tempo e com os sustos, a identificar quando uma crise está chegando: ela é composta por tosse, cansaço, catarro e perda de apetite. Às vezes dá até febre. “Quando vejo que está começando uma crise, já corremos para ter atendimento, você vai se acostumando com os sinais da doença”, diz Angelita.

Tirando esses momentos mais delicados, a vida de Terezinha, como ela mesma conta, é normal. “Eu arranco mato no quintal, passo água na calçada, planto minhas flores, saio com meus cachorros e gosto de estar ao ar livre”, diz. Para Angelita, o dia a dia da paciente poderia, inclusive, ser um pouco menos emocionante. “Outro dia ela até enfrentou uma cobra, eu fico mais preocupada com as aventuras dela do que com a DPOC”.

Recentemente, Terezinha entrou também para o grupo de artesãs do projeto Fio da Vida, da Abraf, e, além de produzir lindas peças de crochê e tricô, que são vendidas nas feiras de artesanato de Blumenau (SC), fez amizades. “Quando ela foi convidada a participar do grupo de WhatsApp, rejuvenesceu. Na feira, as pessoas passavam elogiando o trabalho dela e, agora, ela, que tinha resistência em sair de casa, fica esperando ansiosa para encontrar as pessoas, além de ter sido muito bom conhecer mais pacientes que vivem com a DPOC. Ela se sente menos sozinha”, comenta a filha. 

Terezinha diz estar em paz com a doença, principalmente porque, com o tratamento vigente, sente que está até melhor do que quando foi diagnosticada. 

Dona Terezinha
(Arquivo Pessoal/Abril Branded Content)

Referências:

1 – Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Mês de atenção à DPOC: uma das doenças pulmonares mais prevalentes em adultos. Acesso em 17 de setembro de 2022. Disponível em: https://sbpt.org.br/portal/dia-mundial-dpoc-2021/

2 – Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. 21/11 – Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC. Acesso em 17 de setembro de 2022. Disponível em:https://bvsms.saude.gov.br/21-11-dia-mundial-da-doenca-pulmonar-obstrutiva-cronica-dpoc/

3 – Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas (Abraf). Recém-diagnosticado. Acesso em 17 de setembro de 2022. Disponível em: https://abraf.ong/dpoc/recem-diagnosticado/

4 – World Health Organization. Chronic obstructive pulmonary disease (COPD). Acesso em 17 de setembro de 2022. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/chronic-obstructive-pulmonary-disease-(copd)

5 – Centers for Disease Control and Prevention. Chronic obstructive pulmonary disease (COPD). Acesso em 17 de setembro de 2022. Disponível em: https://www.cdc.gov/copd/basics-about.html

6 – Universidade Federal do Paraná. PEREIRA, Carlos Alberto de Castro.Espirometria. Acesso em 17 de setembro de 2022. Disponível em: https://www.saude.ufpr.br/portal/labsim/wp-content/uploads/sites/23/2016/07/Suple_139_45_11-Espirometria.pdf

7 – Fundação ProAr. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Acesso em 17 de setembro de 2022. Disponível em: https://www.fundacaoproar.org.br/doenca?post=doenca-pulmonar-obstrutiva-cronica-dpoc

8 – COPD Foundation. The COPD Caregiver. Acesso em 17 de setembro de 2022. Disponível em: https://www.copdfoundation.org/Learn-More/I-am-a-Caregiver/The-COPD-Caregiver.aspx

9 – Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas (Abraf). Os dez mandamentos. Acesso em 17 de setembro de 2022. Disponível em: https://abraf.ong/cuidadores/

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