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Câncer de mama metastático: entenda como o câncer se torna doença crônica

Há mulheres que já vivem há mais de uma década com as células do câncer de mama se alojando em outros órgãos – e com qualidade de vida.

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 16 jan 2020, 07h12 - Publicado em 9 out 2018, 23h03
Woman in pink bra representing breast cancer awareness month. (Annette Bunch/Getty Images)
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Em 2007, aos 28 anos, Adriane Botelho foi diagnosticada com câncer de mama em estágio inicial. Passou por um tratamento com quimioterapia, sem necessidade de mastectomia (a retirada completa da mama). A recuperação foi um sucesso.

Tudo ia bem, até que, quatro anos depois, um exame acusou câncer de fígado em estágio inicial. “Eu não conseguia acreditar. Pensava: ‘Fui sorteada na pior loteria do mundo duas vezes?’ O que meu corpo tem para ‘atrair’ câncer?”, lembra.

Não se tratava de um novo câncer “atraído” por ela, mas de sua primeira ocorrência de câncer de mama metastático. Nestes casos, as células do câncer de mama migram pelo corpo e se alojam em outros órgãos, fazendo a doença se manifestar de uma nova forma.

Depois de curar o câncer de fígado, Adriane teve câncer de mama novamente. Já se tratou e atualmente está sem nenhum câncer. “Mas sei que em algum momento aparecerá outro, e a gente vai tratar e seguir a vida”, diz. Na vida da secretária bilíngue, o câncer é uma doença crônica, tal como o diabetes e as doenças autoimunes são nas vidas de tanta gente.

Prolongar a sobrevida mantendo a qualidade de vida

De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de mama é o segundo mais prevalente entre as mulheres do Brasil, ficando atrás apenas do câncer de pele. A oncologista Emanuella Poyer, do Centro de Oncologia do Paraná, conta que cerca de 15% dos casos acabam se revelando cânceres de mama metastáticos.

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“A doença se torna crônica porque são células tumorais circulantes que exigirão tratamento para o resto da vida”, explica. “Não tem como falar para a paciente que ela vai ficar livre do câncer. O que a gente consegue fazer quando ele se manifesta novamente é diminuir os sintomas da doença e do tratamento, mas não eliminar as células tumorais. O objetivo é prolongar a sobrevida mantendo a qualidade de vida. Há muitas mulheres que vivem assim há 10, 15 anos.”

O oncologista Artur Malzyner, consultor científico da Clinonco (Clínica de Oncologia Médica) e médico do Hospital Israelita Albert Einstein, relata que as linhas de tratamento são sempre escolhidas para superar o tratamento anterior tanto em eficácia quanto em conforto. “Mas algumas mulheres conseguem ficar muitos anos com o mesmo tratamento, com um bom grau de sucesso e controle da doença em médio e longo prazo”, conta.

Ou seja, independentemente de onde as células do câncer de mama se alojem, o tratamento ao qual a paciente já se adaptou continua funcionando, sem a necessidade de um ataque mais agressivo à doença. Isso, em termos de qualidade de vida, não tem preço.

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Células tumorais diferentes, tratamentos diferentes

Uma dúvida bem comum, segundo Emanuella, vai na seguinte linha: “Mas qual é a diferença entre um câncer de pulmão e um câncer de mama metastático no pulmão?”. A resposta é: as células cancerígenas.

“As células do câncer de pulmão são diferentes das células do câncer de mama e das células do câncer de fígado e assim por diante. Quando o patologista faz a biópsia, identifica qual é essa célula”, esclarece. “Se a célula que originou o câncer de fígado, por exemplo, é originalmente uma célula de câncer de mama, o tratamento precisa ser diferente daquele para um câncer de fígado originado por célula do próprio órgão. As células se comportam e reagem de formas diferentes.”

Efeitos colaterais dos tratamentos de câncer de mama metastático

Queda de cabelos e pelos do corpo, enjoos, náuseas e secura vaginal são alguns dos efeitos adversos clássicos aos tratamentos quimioterápicos e radioterápicos contra o câncer. No caso do câncer de mama metastático, eles podem se repetir a cada ciclo novo de tratamento ou podem diminuir gradativamente nas reincidências – este é o objetivo das evoluções em relação a esta variação da doença.

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Artur observa que as reações e mesmo a sobrevida da paciente dependem muito da etapa em que a metástase é descoberta e do órgão que é acometido. “Um caso de metástase no pulmão é muito diferente de um nos ossos; em órgãos vitais a evolução tende a ser mais tormentosa, porque a doença é mais grave. Mas, se for possível controlar como uma doença crônica, esta é sempre uma ótima notícia.”

Para finalizar, Emanuelle destaca a importância do autoexame mensal e da realização anual da mamografia de controle, que têm tudo a ver com esse quadro metastático de que estamos falando: “Se o câncer de mama é descoberto em um estágio bem inicial, se o tumor é menor e está na mama há pouco tempo, existe uma chance maior de cura e um risco menor de haver metástase. Mas, se mesmo assim a metástase acontecer, deve ficar muito claro que o diagnóstico não significa que a mulher vai morrer em breve. As terapias atuais dão uma sobrevida mais longa e garantem a qualidade de vida. Isso é o mais importante.”

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