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Alergia alimentar: como identificar se o seu filho sofre com isso

Às vezes o choro não é de fome nem de cólica e, sim, devido ao bebê ser alérgico à proteína do leite

Por Débora Lublinski (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 14h39 - Publicado em 9 mar 2015, 13h47

É cada vez mais comum ouvir casos de bebês alérgicos à proteína do leite. Mas, até chegar a esse diagnóstico, os pequenos sofrem – e também as mães. A jornalista Débora Lublinski viveu o problema na pele e conta aqui suas descobertas:

Não sei quem chorava mais, se era ela ou eu. Aquela cena de propaganda mostrando um bebê sendo serenamente amamentado não aconteceu comigo. Marina, minha filha, mamava exatos três minutos no peito e desatava a chorar. Pior: berrava, se torcia, me arranhava! Sem sucesso, eu parava e tentava acalmá-la. Quinze minutos mais tarde, colocava-a no outro seio. Mais um tempinho mamando e o drama se repetia. Uma hora depois, minha bebezinha pegava no sono, exausta. Imagine isso se repetindo a cada mamada…

Nas primeiras semanas, dei plantão no pediatra – amamentava no consultório para ele observar os sintomas. Fome não era. Eu tinha bastante leite. Suspeitando de alergia, o médico recomendou que eu fizesse uma dieta cortando leite e derivados do cardápio. Aí, descobri que a proteína dos laticínios que eu consumia podia passar para o leite materno e, consequentemente, para o bebê. “O organismo do lactente não digere essas proteínas, que seu sistema imunológico, também imaturo, interpreta como agressoras, disparando anticorpos contra elas”, explica Luiz H. Hercowitz, pediatra gastroenterologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

“Essa reação de hipersensibilidade gera sintomas como náuseas, fezes amolecidas, gases, constipação, regurgitação intensa, cólica e distensão abdominal”, acrescenta Antonio C. Pastorino, assistente doutor da unidade de alergia e pneumologia do Departamento de Pediatria da Universidade de São Paulo.

Nesse início, a grande dificuldade (das mães e dos médicos) é diferenciar esse quadro de desconforto de outros dois problemas típicos da imaturidade digestiva do recém-nascido: a cólica e o refluxo. Apesar dos sintomas semelhantes, a alergia torna-se a principal suspeita quando o choro é insistente, as crises não cessam com medicações, chegam a durar mais de três horas seguidas e persistem após o terceiro mês de vida.

Investigação apurada

Durante a gravidez, até nos preparamos para sobreviver às madrugadas acordadas e enfrentar com tranquilidade a fase das cólicas. Mas ninguém imagina que o filho vai sofrer com alergia alimentar. Só depois da minha experiência descobri muitos casos parecidos ou bem mais graves do que o da Marina. Experimente digitar alergia alimentar no Google e você vai encontrar depoimentos de arrepiar os cabelos.

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Minha mãe diz que é doença moderna, mas nenhuma estatística indica que o problema aumentou. “Um estudo americano de 2009 estima que a alergia alimentar afeta uma em cada 20 crianças. A diferença em relação ao passado é que a classe médica está acertando mais no diagnóstico”, afirma Victor Nudelman, pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein.

Mesmo com mais luz sobre o tema, diagnosticar o problema não é nada simples. Com menos de 2 meses, minha pituquinha teve que fazer exame de sangue, de urina, de fezes e ultrassom abdominal. Só de lembrar minhas pernas ficam bambas… A questão é que, mesmo assim, o resultado pode ser “inespecífico” (no jargão da medicina, é quando os exames parecem normais), mas o problema continua ali.

Nos casos mais graves, o bebê não ganha peso e o cocô apresenta sangue – aparente ou oculto, detectado apenas com a análise das fezes. Pode haver vômitos após as mamadas, refluxo, uma úlcera no intestino ou uma inflamação no esôfago, revelada por meio de uma endoscopia. “A avaliação precisa ser criteriosa e levar em conta, inclusive, se há casos na família, o que aumenta a probabilidade”, explica Mauro Batista de Morais, livre-docente de gastropediatria da Universidade Federal de São Paulo. Além disso, crianças com alergia alimentar tendem a apresentar também alergias de pele, como dermatite atópica, e problemas respiratórios, como rinite e asma. É o que os especialistas chamam de marcha alérgica, e analisar todos esses fatores ajuda a fechar o diagnóstico.

O teste tira dúvidas

A prova dos nove é feita pela exclusão temporária do alimento suspeito, seja o leite materno, a fórmula ou outro qualquer. “Se o bebê se recupera e, depois que o alimento é reintroduzido, volta a apresentar os sintomas, o quadro de alergia fica claro”, diz Nudelman. O problema desse método é que muitas mães (eu, inclusive!), após a melhora, não têm coragem de voltar a oferecer o que causava tanto desconforto ao filhote.

Essa resistência dificulta que se coloque em prática uma nova hipótese levantada no Congresso Mundial de Alergia, no final de 2009, quando um estudo finlandês que acompanhou 994 crianças por cinco anos comprovou a existência de uma janela de oportunidade imunológica. “Acredita-se que, entre o quarto e o sexto mês de vida, o organismo se torne mais tolerante. E a liberação de pequenas quantidades dos alimentos restringidos nessa fase poderia ajudar o bebê a superar a doença precocemente”, explica Pastorino.

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Coerente com essa teoria, a Academia Americana de Pediatria já antecipa a prescrição de alguns alimentos aos bebês, mas por aqui a recomendação é vista com cautela pelos médicos que consultei. “Não há necessidade de atrasar a introdução de alimentos, mas também não vejo motivo para adiantar, pois o assunto ainda está em discussão”, diz Ana P. Moschione, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia.

Seja como for, no caso de suspeita de alergia ao leite, entram em cena as fórmulas infantis especiais. Até tentei, por um tempo, manter a amamentação seguindo uma dieta extremamente restritiva (e põe restritiva aí: muita coisa que a gente nem imagina leva leite, co­mo bolachas salgadas e empanados). É uma saída, mas no caso dela os sintomas continuaram. Assim, eu e a Marina fomos apresentadas às fórmulas hipoalergênicas.

Leite que vale ouro

Nem sabia que existiam tantas variações, mas foram testados diversos tipos de leite para encontrar aquele que aliviaria o desconforto dela. “Cerca de 90% dos bebês alérgicos ao leite se beneficiam com a fórmula à base de proteína extensamente hidrolisada, na qual a molécula é quebrada, facilitando a digestão e a absorção. Os 10% restantes precisam consumir um leite ainda mais purificado”, diz Morais.

O problema é o preço da lata desses pozinhos milagrosos: em torno de 100 reais a de proteína hidrolisada e de mais de 300 reais a de aminoácidos livres. A Marina consome uma embalagem a cada três dias… Faça a conta! Com a orientação do pediatra, entramos para um programa do governo que fornece gratuitamente esse tipo de alimento especial para os bebês – e que funciona.

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