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Além da dor: mulheres com vaginismo dividem suas experiências

A dor na hora da relação sexual é um sintoma, mas o vaginismo pode ter sérios impactos psicológicos para a mulher.

Por Nathalia Giannetti
Atualizado em 15 jan 2020, 15h12 - Publicado em 11 jun 2019, 09h13

“Nunca consegui ter prazer nas relações, porque sempre senti muita dor. Eu imaginava que isso era coisa da minha cabeça ou que eu não gostava de homem. Meu ginecologista me acompanha há mais de 10 anos e nunca desconfiou que poderia ser vaginismo, então eu sempre pensei que era um problema meu sentir tanta dor.” Infelizmente, falar de vaginismo parece ser um tabu, mas relatos como esse de S.F, de 37 anos, ao M de Mulher, são mais comuns do que se imagina. 

Segundo a fisioterapeuta Debora Padua, o principal sintoma do vaginismo é a incapacidade de ter uma penetração ou presença de dor na penetração. Mas o problema não se restringe apenas às relações sexuais, muitas mulheres também sentem enorme dificuldade e dor para inserir o absorvente interno, aplicar pomadas ginecológicas e fazer os exames de rotina no consultório. 

É estimado que cerca de 6% de mulheres com vida sexual ativa sofram de vaginismo, condição caracterizada por contrações involuntárias da parede vaginal.  

Muitas vezes associado a traumas psicológicos, mas com causa exata ainda desconhecida, o vaginismo pode ser primário, e ocorrer desde o início da vida sexual, ou secundário, só aparecendo depois de um período de relações normais. Em ambos os casos, no entanto, pode-se levar anos até o diagnóstico. A falta de informações acessíveis sobre o vaginismo faz com que muitas mulheres pensem que a dificuldade em ter penetração vaginal é culpa e problema apenas delas.

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“Desde muito nova eu percebi que tinha alguma coisa estranha, só não sabia o que era o vaginismo e que existiam outras mulheres com problemas iguais ao meu. A primeira vez que eu e minhas amigas fomos ao ginecologista, todas elas falaram que o exame foi tranquilo. Mas eu passei mal, suei frio, não conseguia relaxar de jeito nenhum. Quando eu tinha 19 anos, pesquisei os sintomas. Achei que não fosse dar nada, porque, pra mim, isso era algo que só eu tinha”, conta J.R, de 22 anos, que iniciou o tratamento recentemente.

Relatos de vergonha

O desconhecimento sobre a questão também é responsável por outro sentimento: a vergonha. Seja antes ou depois do diagnóstico, grande parte das mulheres não se sente confortável em falar abertamente sobre o problema, algo que pode impedi-las de buscar o tratamento.

“Descobri o vaginismo quando tinha 22 anos. Em uma consulta com o ginecologista, ao fazer o exame de toque, ele percebeu que a minha vagina retraia involuntariamente. No começo, não procurei ajuda pois pensei que uma hora conseguiria ter relações. Os anos foram se passando, me casei, tive várias tentativas frustradas e mal conseguia deixar meu marido se aproximar. Eu me sentia sentia péssima a cada tentativa frustrada, a cada pergunta: ‘Quando vem o bebê? ‘. Não falava sobre isso com ninguém, apenas com meu marido porque eu tinha vergonha”, relata L.F,  de 30 anos, que encarou o tratamento e está curada.

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“A princípio eu contei para uma amiga, mas não todos os detalhes. Não disse que nunca consegui ter uma penetração, mas que conseguia e sentia dor. Eu percebi que quando você diz que consegue as pessoas aceitam mais. Eu contei pra ela no início do meu casamento, mas depois fiquei com vergonha e voltei atrás. Disse que tinha resolvido e estava tudo certo”, diz M.S, de 37, que procurou tratamento depois de 7 anos de casamento.

“Isso me atormenta muito. É muito complicado passar por isso. Quando eu falava com as minha amigas, elas diziam que era coisa da minha cabeça, para eu relaxar. Ninguém realmente consegue entender o que é ter isso. Eu cheguei a não assumir um relacionamento mais sério com caras que eu gostava por conta do vaginismo. Porque eu sabia que não conseguiria ter a relação e não tinha coragem de falar o motivo. É um sentimento horrível. Eu deito pra dormir e dentro de mim é um vazio muito grande”, desabafa J.R, de 22 anos. 

“Gostaria de ter a coragem de me tratar, mas não consigo ir atrás. A vergonha de admitir que tenho é horrível”, assume S.F, de 37 anos.

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É preciso achar um médico que passe confiança

O que acontece no consultório é de extrema importância para o diagnóstico e tratamento da afecção. Mas experiências negativas podem deixar as mulheres ainda mais inseguranças e sem esperança.

“Eu procurei ajuda quando comecei a sentir as dores. A primeira médica, após eu contar o que sinto ao tentar penetração, me prescreveu uma pílula anticoncepcional e falou que o ideal seria usar também lubrificante. Já a segunda médica não ficou nem cinco minutos na sala comigo. Disse que iria me examinar outro dia e que o meu caso era de procurar um psicólogo. Eu não voltei lá, porque eu vi que isso não iria adiantar. Não houve preocupação, nem interesse em examinar e investigar mais a fundo”, conta T.S , de 25 anos

Por isso, é imprescindível encontrar um profissional que te deixe segura, que explique o problema de maneira natural e indique o melhor tratamento.

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Grupos de apoio

Ao enfrentar qualquer situação difícil, ter apoio e alguém com quem desabafar é fundamental. No caso do vaginismo, cujos impactos psicológicos são tão graves quanto os físicos, não poderia ser diferente. Mas nem todas as mulheres conseguem se abrir com o parceiro e com outras pessoas próximas, seja por medo de julgamentos ou por pensar que eles não entenderiam o que está acontecendo. É por isso que existem os grupos de apoio.

“É muito importante ver que outras mulheres passam por essa mesma dor, receber uma palavra de conforto e perceber que não estou só”, diz T.S, de 25 anos. 

“Por mais que algumas pessoas mais próximas te entendam, é diferente pra quem passa pelo problema. É um assunto que não dá pra falar com todo mundo. O grupo tem me ajudado bastante. Ele é bom para trocar ideias, experiências e eu vejo que também consigo ajudar outras pessoas”, confessa M.S, de 37 anos.

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E nesses grupos, descobrimos mulheres que conseguem ter prazer no sexo mesmo com a condição e não partem para o tratamento. “Eu sou bem-resolvida com o vaginismo. Pra mim, sexo é muito mais do que penetração. O  ser humano tem capacidade de ter prazer de diversas formas, não necessariamente com a genitais e com a penetração. As pessoas acabam reduzindo o sexo a penetração vaginal e isso causa muita angústia e sofrimento. Mas penetração não é uma prioridade. Eu não tenho urgência de fazer isso e não vou ser mais feliz se conseguir”, diz B. L, de 23 anos. 

Buscando ajuda

Caso você tenha se identificado com alguns desses relatos, pode ser que esteja na hora de procurar ajuda médica.

“Dor na hora da relação sexual ou para fazer exame ginecológico não pode acontecer. Isso não está certo. Tem alguma coisa errada que precisa ser investigada. A relação sexual e para ser algo prazeroso, nunca doloroso”, constata a dra. Debora.

Se você for diagnosticada com vaginismo, não há nada com que se preocupar. O tratamento é bastante simples. Através da fisioterapia pélvica, a paciente vai, aos poucos, perdendo o medo e passa a não sentir dor na penetração, por meio de exercícios de relaxamento da musculatura, dilatadores vaginais e massagens. Há casos em que o acompanhamento psicológico também é necessário, mas isso será definido após o exame físico da fisioterapia.

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