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Agentes infiltrados: as substâncias nocivas que ingerimos sem nem suspeitar

Bonitinhos por fora, uma incógnita por dentro. Sem saber, ingerimos substâncias estranhas que não alteram a aparência dos alimentos, porém fazem mal à saúde. Mas não é difícil afastar as intrusas da sua mesa.

Por Cristina Nabuco (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 14h39 - Publicado em 1 dez 2014, 07h18

Quem esquenta comida no micro-ondas em pote de plástico ou deixa no carro a garrafinha de água precisa rever esses hábitos. Sua saúde corre risco. E a silhueta também. Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro apresentada no principal encontro de biologia experimental do país, que aconteceu em agosto, em Caxambu (MG), mostrou que o Bisfenol A (BPA), encontrado nos plásticos transparentes à base de policarbonato, pode alterar os hormônios da tireoide e levar a ganho de peso. “O BPA faz parte de um grupo de substâncias que têm a capacidade de interferir na síntese, na secreção e na ação de vários hormônios; por isso, são chamadas de disruptores ou desreguladores endócrinos”, afirma o nutrólogo Mohamad Barakat, de São Paulo. “No organismo, o BPA se comporta de maneira semelhante ao hormônio feminino estrogênio: ocupa seus receptores e afeta o funcionamento de glândulas como a tireoide, os ovários e os testículos”, explica a endocrinologista Tania Bachega, coordenadora da Comissão de Desreguladores Endócrinos da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Ele, no entanto, não é o único intruso. Outros compostos originários do plástico (ftalatos e estireno), bem como de pesticidas, adubos químicos, aditivos sintéticos e metais pesados, oferecem riscos. Alimentos e bebidas aparentemente saudáveis podem estar carregados de xenobióticos, o nome técnico dessas substâncias tóxicas estranhas ao organismo. Tania suspeita de que, além da quantidade e da frequência do contato, a interação entre os inúmeros compostos a que somos expostos cotidianamente produza efeitos prejudiciais, ainda desconhecidos. “Não é preciso se alarmar, mas faça o possível para minimizar a ingestão, selecionando melhor os alimentos e o modo de conservá-los”, aconselha. A médica lembra também que fortalecer as defesas do organismo ajuda a resistir aos ataques. A seguir, conheça melhor os invasores.

Bisfenol & companhia

Os desreguladores endócrinos podem causar puberdade precoce e males que incluem obesidade, síndrome do ovário policístico, infertilidade masculina, câncer de mama e de próstata, segundo Tania Bachega. O BPA aparece não só nos pláticos mas também no revestimento de latas de ervilha, milho, molho de tomate e afins. Está presente, ainda, em alguns tipos de papel-filme para embalar. Por ser muito instável, essa substância nociva migra para a comida, principalmente quando o recipiente é aquecido ou quando há contato entre o plástico e o alimento quente, já que o calor favorece sua liberação. A migração também pode ocorrer no congelamento, quando o plástico é resfriado. Não há consenso sobre a dose segura de exposição, mas sabe-se que um número cada vez maior de pessoas entra em contato com ele. Em 2003, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças nos Estados Unidos coletou urina de 2 517 pessoas: 93% das amostras tinham BPA. Os mais vulneráveis aos efeitos são bebês e crianças pequenas. Por isso, alguns países (entre eles o Brasil) proibiram mamadeiras contendo BPA. As de vidro retornaram ao mercado e as de plástico são hoje à base de polipropileno, que não ofereceriam perigo. Os plásticos produzidos com derivados do petróleo alternativos ao policarbonato ainda não estão fora do grupo de risco. Até porque há versões que já se revelaram prejudiciais. Por exemplo, copos descartáveis leitosos e embalagens brancas para alimentos (que parecem isopor) são feitos com poliestireno, que, ao ser submetido ao calor, libera o estireno, considerado cancerígeno. Os ftalatos, usados para deixar mais maleáveis as embalagens plásticas de alimentos processados, foram associados a diabetes e obesidade. Um biólogo da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, examinou 455 tipos à venda em seu país. A maioria possuía compostos capazes de imitar o estrogênio, atuando como o BPA.

Como neutralizar os riscos

  •  Reduza o uso de plásticos. Armazene o alimento em potes de vidro, porcelana ou aço inox.
  •  Se usar potes plásticos, prefira os isentos de BPA (BPA-free), mas não coloque neles comidas e bebidas quentes. Não leve ao micro-ondas nem ao freezer e não utilize esponjas abrasivas, que podem danificar seu interior.
  •  Confira no rótulo ou embaixo de garrafas descartáveis, como as de água, o número estampado no triângulo, que é símbolo da reciclagem. Rejeite as que vierem com 3 ou 7 (elas contêm BPA) ou as que não trouxerem essa informação. E não as reutilize: com lavagens repetidas, o plástico sofre arranhões e desgastes, que aumentam a possibilidade de contaminação da água.
  •  Diminua o consumo de enlatados e jamais compre latas amassadas. Se o verniz interno fraturar, cresce a possibilidade de o BPA entrar em contato com o produto.

Metais pesados

Solos contaminados por chumbo em áreas de poluição ambiental transmitem o metal aos vegetais e à carne dos animais que pastam no local. Há problemas também com os resíduos de alumínio – que passam de panelas e embalagens para a comida armazenada ali – e com boa parte dos peixes e mariscos, que se contaminam com mercúrio por causa de atividades garimpeiras e dos dejetos industriais lançados em rios e mares. O mercúrio se deposita nas algas ingeridas por peixes herbívoros, que, por sua vez, alimentam predadores maiores. “Quanto mais alto, na cadeia alimentar, mais mercúrio o peixe tem”, diz o médico e nutrólogo Miguel Curto, diretor da Associação Brasileira de Nutrição. No ano passado, uma pesquisa da Universidade Federal do Pará avaliou 100 amostras de peixes. Todas tinham algum teor de mercúrio, mas em quatro delas – cação, pescada branca, tucunaré e tainha-curimã – os níveis estavam acima do tolerável pela Organização Mundial da Saúde.

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Os metais pesados, em geral, acabam lesando o fígado e o sistema nervoso central. O chumbo ainda aumenta a pressão arterial. Já o alumínio leva a distúrbios de aprendizado e à hiperatividade. A intoxicação por mercúrio acarreta tremores, problemas digestivos, perda de memória, redução da visão e da audição e dificuldades motoras.

Como neutralizar os riscos

  •  Evite guardar alimentos em embalagens de alumínio e panelas. Adote vasilhas de vidro ou porcelana.
  •  Escolha peixes de boa procedência, adquiridos em grandes mercados. Com a proposta de melhorar a qualidade dos ambientes marinhos e a vida dos pescadores de 22 reservas extrativistas do país, o projeto Pesca + Sustentável foi um dos quatro vencedores do Desafio de Impacto Social Google 2014 e está desenvolvendo um aplicativo para o consumidor saber se o peixe comprado é certificado. Fique de olho.
  •  Alterne o peixe com outros tipos de carne e procure variar as espécies que consome.
  •  Prefira os pequenos cultivados em cativeiro.
  •  Retire toda a gordura e a pele: os resíduos químicos tendem a se concentrar nessas partes – e, ainda, no fígado.

Agrotóxicos

Nos últimos dez anos, enquanto o mercado mundial de pesticidas, herbicidas e fertilizantes agrícolas cresceu 93%, o brasileiro aumentou 190%. Dos 50 produtos mais utilizados nas lavouras nacionais, 22 são proibidos na União Europeia, segundo um dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. O reflexo disso vem à nossa mesa. Numa pesquisa feita pela Anvisa, o campeão em agrotóxicos foi o pimentão: 80% tinham mais resíduos que o permitido. Os índices também eram altos no pepino, no morango, no tomate, na uva e na alface. Dentro de certos limites, os resíduos não representariam riscos. Mas a engenheira agrônoma Flávia Londres, autora de Agrotóxicos no Brasil, trabalho publicado pela Associação Nacional de Agroecologia, argumenta que não existe quantidade “menos ruim”; o ideal é não ter resíduo. O grande contato com agrotóxicos pode acarretar inflamações na pele, doenças hepáticas e renais, distúrbios neurológicos e mentais, infertilidade e câncer. Os mais atingidos são os trabalhadores rurais e quem reside em áreas próximas a plantações.

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Como neutralizar os riscos

  •  Compre frutas e hortaliças da estação. É para obter da terra produtos fora de época que os agricultores usam mais insumos, adubos e pesticidas.
  •  Desconfie se os vegetais forem muito grandes. Pode ser resultado de estimulantes artificiais.
  •  Adquira os produtos de pequenos produtores locais que não utilizem agrotóxicos ou escolha orgânicos certificados.
  •  Em geral, retire a casca ou lave o alimento com esponja e detergente biodegradável, o que diminui resíduos.

Aditivos

De nuggets a refrigerantes e sucos de caixinha, os industrializados recebem aditivos para aumentar a durabilidade e melhorar o sabor e a aparência. E o excesso faz mal. Os sulfitos de sódio ou cálcio evitam que o vinho vire vinagre, mas podem ser responsáveis pela dor de cabeça da ressaca. “Os nitritos de sódio ou potássio adicionados às carnes no frigorífico intensificam sua cor e impedem o crescimento da bactéria do botulismo, mas podem favorecer o câncer”, diz Miguel Curto. Pesam sobre os edulcorantes, substitutos do açúcar, várias suspeitas, a mais recente de provocar diabetes. A Anvisa estabelece os limites seguros no uso dessas substâncias. O problema, então, além do largo consumo é a sensibilidade individual a reações alérgicas, hiperatividade e até câncer. Vale a dica: quanto mais “ante” (acidulante, aromatizante, edulcorante, corante) tiver um alimento, mais se está sujeito a ter alguma “ite” (colite, por exemplo).

Como neutralizar os riscos

  •  Reduza o consumo de industrializados.
  •  Leia o rótulo de todos os produtos e adquira aqueles que tiverem menos aditivos. 
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