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A importância da suplementação de ferro durante a gestação

Quando o bebê não recebe a quantidade necessária de ferro, temos um comprometimento do seu neurodesenvolvimento

Por Bruna Pitaluga, médica obstetra pela Universidade de Brasília
9 jan 2023, 12h38
ferro na gestação
Especialista esclarece a importância do ferro na gestação. (Amina Filkins/Pexels)
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O ferro é o metal mais abundante na Terra. Plantas absorvem o ferro do solo, os animais comem as plantas e carnívoros ingerem os animais. Assim, o ciclo do ferro se mantém na natureza. No entanto, não é tão simples assim absorver ferro na dieta, mesmo que ele seja essencial durante a gestação.

Estima-se que um quarto da população mundial apresente algum grau de deficiência de ferro. Muitos estudos mostram que esses valores podem estar subestimados. A deficiência de ferro é a deficiência de micronutrientes mais comum.

Anemia e deficiência de ferro não são sinônimas. A deficiência de ferro é um estado de balanço negativo de ferro onde o suprimento de ferro não atende à demanda, enquanto a anemia por deficiência de ferro define a condição quando a síntese de hemoglobina foi limitada pela falta de ferro e a pessoa está anêmica como consequência.

Durante a gestação, o bebê que cresce e se desenvolve no útero materno depende exclusivamente da mãe para receber os nutrientes necessários para o seu crescimento, incluindo o ferro. Durante o final do segundo trimestre e o começo do terceiro trimestre, mecanismos são ativados na placenta para que esse ferro seja transportado para o feto. Muitas mulheres são incapazes de atender às suas necessidades de ferro na gravidez, especialmente se entrarem na gravidez com estoques diminuídos.

O problema da deficiência de ferro na gestação

A deficiência de ferro pode causar sintomas na presença e ausência de anemia, ou pode ser assintomática. Sinais e sintomas comuns incluem fadiga e letargia, concentração reduzida, tontura, zumbido, palidez e dor de cabeça. Algumas pessoas podem apresentar a ingestão compulsiva de alimentos não-nutritivos, como terra ou argila, gelo ou ingredientes crus (por exemplo, arroz cru).

Durante os primeiros 6 meses de vida, os bebês atendem predominantemente às necessidades de ferro pelas reservas de ferro ao nascer, que é influenciada pelo peso no nascimento, duração da gestação e momento do clampeamento do cordão umbilical.

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Retardar o clampeamento do cordão por 1-3 minutos permite que os neonatos retenham ao máximo os glóbulos vermelhos. Durante os segundos 6 meses de vida, os estoques de ferro são influenciados pela reserva ao nascimento, pelo uso durante o crescimento e pelo conteúdo nutricional de ferro.

Essa passagem de ferro é fundamental para os primeiros seis meses de vida do recém-nascido, porque o leite materno não transporta ferro. A deficiência de ferro na gestação é um problema de saúde mundial que afeta de até 90% das populações que dependem da situação econômica da população medida.

E por que o ferro é tão importante para a saúde humana? O ferro exerce papéis essenciais para a produção de enzimas, replicação do nosso DNA, produção de neurotransmissores e para o sistema imunológico.

O risco imediato é para o desenvolvimento do cérebro fetal. Quando o bebê não recebe a quantidade necessária de ferro, temos um comprometimento do seu neurodesenvolvimento. A baixa ingestão materna de ferro no terceiro trimestre resulta em alterações na massa cinzenta. O segundo risco é o desenvolvimento do cérebro em longo prazo. A deficiência de ferro neonatal está associada à disfunção neurocognitiva de longo prazo, apesar da reposição espontânea dos estoques de ferro aos 9 meses de idade, ou seja, mesmo que se reponha o ferro posteriormente.

O melhor exame para avaliar os estoques de ferro é a dosagem de ferritina sérica. Atualmente, valores considerados insuficientes são menores que 30ng/mL. No entanto, a ferritina não está isenta de críticas, por ser, também, um marcador de inflamação. Portanto, a avaliação clínica, acompanhamento do crescimento fetal e conhecimento do metabolismo do ferro durante a gestação são fundamentais.

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Estou abaixo da média, e agora?

No caso de deficiência de ferro, a reposição deve ser feita imediatamente. O uso de suplementos de ferro, como por exemplo, o ferro bisglicinato, podem ser usados durante a gestação em qualquer momento e quando necessário. A deficiência de ferro é tão prevalente que a Organização Mundial de Saúde recomenda a reposição oral de ferro em todas as gestantes, independentemente de exames complementares.

A reposição oral costuma estar acompanhada de muitos efeitos gastrointestinais e estima-se que 80% das gestantes não usem a reposição prescrita. A terapia venosa deve ser indicada sempre que a reposição oral falhar em elevar os níveis de ferritina, houver intolerância materna ou haja necessidade de elevação rápida dos níveis de ferro. Nesse caso, existem opções de terapia venosa no Brasil que são seguras, podem e devem ser prescritas quando necessário na gestação.

Cuide-se!

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