Tia Má: “O humor é uma ferramenta de reflexão”
Com humor e papo reto, a baiana Maíra Azevedo, ou Tia Má, combate o racismo e o machismo
Às vezes, ela se define também como candomblecista e periférica, mas três atributos sempre se repetem na apresentação adotada por Maíra Azevedo, mais conhecida como Tia Má. Ela se descreve como “preta, gorda e nordestina”. Foi com língua afiada, humor de sobra e boas doses de ativismo contra o racismo e o machismo que a jornalista baiana arrebanhou cerca de 750 mil seguidores nas redes sociais.
Foi parar na TV como colaboradora do programa Encontro com Fátima Bernardes, da Globo. Ainda lotou recentemente teatros em Salvador, Brasília e São Paulo com o stand-up Com a Língua Solta.
CLAUDIA bateu um papo com Tia Má para conhecê-la melhor.
Como surgiu a personagem Tia Má?
Não é uma personagem, sou eu mesma. Em 2015, recebi uma cantada ruim pelo Facebook de um cara me chamando de morena. Escrevi: “Ouça a Tia Má”. E orientei como deveria falar com uma mulher. Usei tia porque já era coroa, balzaquiana. E Má é de Maíra.
Na TV, usa o mesmo tipo de humor?
Sou consultora do quadro “Tô Querendo Saber”. As pessoas fazem perguntas e eu respondo com meu jeito escrachado. Mas tenho um histórico de combate ao racismo. Então, ao mesmo tempo que brinco, faço um discurso forte da questão racial. Não consigo achar graça em racismo, machismo, homofobia nem em nenhuma outra forma de opressão.
Dá para fazer humor com esses temas de maneira combativa?
O desafio é provocar o riso sem fazer graça do oprimido. O humor é uma ferramenta de reflexão. Quando você faz piada de um comportamento ridículo, as pessoas analisam por que são assim.
Você pretende lançar um livro sobre relacionamentos abusivos. Por quê?
Quando você está numa relação ruim, sabe disso; não precisa ninguém dizer. Mas continua porque há pressão. Se a mulher não estiver em um relacionamento estável aos 30, até a sexualidade dela é questionada. A gente se cobra tanto que enlouquece ou adoece.
Qual é a principal lição que passa para seu filho?
Como é um menino preto de 10 anos, tenho que falar de racismo. Digo que não pode sair sem camisa e descalço, mesmo na porta de casa, pois é alvo preferencial. É doloroso, mas não vou fazer de conta que não acontece.