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#TemQueFalar “Quando criança, fui abusada pelo meu padrinho e pelo meu pai”

A leitora Giulia* compartilha seu relato com a gente

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 11 abr 2024, 17h28 - Publicado em 11 dez 2015, 17h43

Nas últimas semanas, as mulheres brasileiras se uniram em torno do tema #PrimeiroAssédio. A mobilização levou muitas delas a compartilhar em suas redes sociais casos semelhantes ou ainda mais graves, que deixam sequelas profundas em suas vítimas. Algumas delas, porém, preferiram guardar suas histórias para si, por medo de ser identificadas por seus agressores. Publicamos a história de uma leitora que, 15 anos após um ataque sexual, ainda tem medo de ser encontrada. Não demorou para que outras mulheres nos procurassem: Gabriela*, Marcela*, Mariana*. Em comum, o desejo de dividir seus traumas, medos e culpas. Especialistas apontam que falar sobre eles é uma das maneiras eficientes de superá-los. Por isso, criamos o movimento #temquefalar. Um espaço de cura, que incentiva a troca de experiências e, sobretudo, traz o assunto à tona, para evitar novas vítimas entre crianças e mulheres.

Leia o relato da leitora Giulia*:

“Eu deveria ter entre 5 e 6 anos. Era uma das festas de final de ano, a família sempre se reunia e acabávamos por dormir todos entre tios e primos, na casa de minha avó, em colchões espalhados pela sala. Lembro que meu pai e minha mãe estavam dormindo à minha esquerda e meu padrinho à minha direita.

Na madrugada, fui acordada por ele, meu padrinho bêbado, tirando minha calcinha. Pude sentir seu pênis encostando em minhas pernas. Não sabia bem o que estava acontecendo, ainda sonolenta.

Tentei  me aproximar mais de minha mãe, que dormia e não percebeu o que acontecia. Lembro que eu tentava vestir minha calcinha e ele insistia em tirá-la. De tanto me mexer, ele acabou parando o assédio evitando que alguém acordasse com esses movimentos.

Não dormi direito, com medo. No dia seguinte, ouvi uns comentários entre os adultos sobre meu padrinho que tinha acordado com o traseiro de fora. Riam e brincavam com isso. Até que minha mãe percebeu que eu estava sem calcinha… Ela se apavorou me perguntando o que tinha acontecido. 

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Estranhamente eu não dizia, não sei bem porque uma criança esconde essa situação, talvez por vergonha de todos descobrirem e rirem de mim. Depois de tanto perguntar e eu não responder, ela acabou achando que eu devia ter dormido sem calcinha mesmo… Talvez para me poupar de passar por situação constrangedora diante dos familiares.

Até hoje, quando ele fica bêbado, percebo que se aproxima muito das mulheres enquanto fala, dando um jeito de encostar sua mão “sem querer” nos seios ou outras partes, enfim, se aproveita… fico esperta quando ele está por perto até hoje. O fato é é que todos pagam pelos seus atos e, após 33 anos do acontecido, vejo que sua vida definha a cada dia.

Já adolescente, entre meus 12 ou 13 anos, meu pai levava eu e minha irmã à escola, pegávamos ônibus no ponto final para que pudéssemos ir sentadas.

Minha irmã sentava sempre do lado da janela e eu do corredor,  meu pai ficava em pé ao meu lado, embora tivesse lugares para ele sentar. Durante o percurso, o ônibus ia ficando lotado e ele se aproveitava disso para se apertar contra meu ombro. Eu sentia o volume de seu pênis se endurecendo dentro das calças. Era nojento, ele fingia que não estava acontecendo nada e eu não podia me esquivar.

O mesmo acontecia todos os dias. Eu não conseguia contar isso nem à minha irmã, que era minha confidente. É estranho não conseguir contar, uma vergonha cruel, havia uma esperança de que tudo seria ilusão e que talvez no próximo dia não acontecesse mais.

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Fiquei aliviada quando chegou o colegial (ensino médio) e o horário da escola mudou, ele não podia mais nos levar. Percebi que aqui se faz e aqui se paga. Hoje meu pai teve que parar de trabalhar, teve um câncer e seu intestino foi revertido, ele anda com uma bolsinha há 2 anos para fazer suas necessidades. 

Posso ver seu sofrimento todos os dias, não tem convênio e depende de uma vaga na fila de espera para que tudo seja colocado no lugar. Tenho dó, mas acredito que as pessoas não sofram por acaso. Também não devo ter passado por essas situações por acaso. Isso me dá certeza que Deus é bom e justo, não podemos duvidar jamais.”

*Nome fictício.

Se você também quiser dividir o seu relato com outras leitoras, envie para redacaoclaudia@gmail.com. A sua identidade será preservada.

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