#TemQueFalar: “Aos 8 anos, meu primo me obrigava a tocar suas partes íntimas”
Leia o depoimento da leitora Julia*, de 30 anos
Nas últimas semanas, as mulheres brasileiras se uniram em torno do tema #PrimeiroAssédio, capitaneado pelo grotesco ataque sofrido por uma participante do MasterChef infantil – ela tem apenas 12 anos. A mobilização levou muitas delas a compartilhar em suas redes sociais casos semelhantes ou ainda mais graves, que deixam sequelas profundas em suas vítimas. Algumas delas, porém, preferiram guardar suas histórias para si, por medo de ser identificadas por seus agressores. Publicamos a história de uma leitora que, 15 anos após um ataque sexual, ainda tem medo de ser encontrada. Não demorou para que outras mulheres nos procurassem: Gabriela*, Marcela*, Mariana*. Em comum, o desejo de dividir seus traumas, medos e culpas. Especialistas apontam que falar sobre eles é uma das maneiras eficientes de superá-los. Por isso, criamos o movimento #temquefalar. Um espaço de cura, que incentiva a troca de experiências e, sobretudo, traz o assunto à tona, para evitar novas vítimas entre crianças e mulheres.
Leia o depoimento da leitora Julia*:
“Comecei a ler os depoimentos da campanha #TemQueFalar e tive coragem de contar sobre a minha história.
Minha infância não foi nada fácil. Eu morava em uma cidade muito pequena, onde todos se conheciam ou eram parentes. Nesse lugar, minha ingenuidade foi roubada pelo meu próprio primo de 30 anos.
Eu era uma criança de 8 anos. Eu e minha mãe morávamos no campo, meu primo era nosso vizinho. Eu lembro, como se fosse hoje, dos abusos frequentes. Ninguém percebeu.
Eu não sabia o que estava acontecendo, mas aquele homem passava a mão nas minhas partes íntimas. Ele também me obrigava a tocar seu órgão sexual. Além disso, sempre pedia que eu sentasse em seu colo. Todos achavam que era carinho entre primos, mas até hoje não consegui esquecer o que houve.
Às vezes penso que estou ficando louca, pois sinto o cheiro dele na minha mão, me sinto suja e choro sem parar. Até então, só contei para o meu marido. Escondi por vergonha e por medo de ser julgada.
Esses abusos me fizeram uma pessoa que não acredita em mais ninguém, nem no próprio pai. Penso que todos vão fazer a mesma coisa. Tornei-me uma pessoa desconfiada.
Já pensei em procurar ajuda, mas a vergonha não me deixa falar. Hoje sei que não tive culpa de nada, eu era só uma criança.
Hoje tenho 30 anos e não moro mais no Brasil. Sou feliz, mas não consegui esquecer. Espero que falar tire um pouco do peso que carrego nas costas. Muito obrigada por essa oportunidade.”
*Nome fictício.
Se você também quiser dividir o seu relato com outras leitoras, envie para redacaoclaudia@gmail.com. A sua identidade será preservada.