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#TemQueFalar: “Acordei com meu avô tocando minhas partes íntimas”

A leitora Bia* divide seu relato com a gente

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 11 abr 2024, 17h27 - Publicado em 13 dez 2015, 08h00
Divulgação/CLAUDIA
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Nas últimas semanas, as mulheres brasileiras se uniram em torno do tema #PrimeiroAssédio. A mobilização levou muitas delas a compartilhar em suas redes sociais casos semelhantes ou ainda mais graves, que deixam sequelas profundas em suas vítimas. Algumas delas, porém, preferiram guardar suas histórias para si, por medo de ser identificadas por seus agressores. Publicamos a história de uma leitora que, 15 anos após um ataque sexual, ainda tem medo de ser encontrada. Não demorou para que outras mulheres nos procurassem: Gabriela*, Marcela*, Mariana*. Em comum, o desejo de dividir seus traumas, medos e culpas. Especialistas apontam que falar sobre eles é uma das maneiras eficientes de superá-los. Por isso, criamos o movimento #temquefalar. Um espaço de cura, que incentiva a troca de experiências e, sobretudo, traz o assunto à tona, para evitar novas vítimas entre crianças e mulheres. 

Leia o relato da leitora Bia*:

“Eu passei por abuso sexual ainda criança, não me recordo a primeira vez, mas foi antes do cinco anos de idade. O abusador era o pai da minha mãe (não consigo usar a palavra avô).

Sempre tive uma família estruturada, meus pais nunca se separaram, nunca me faltou nada, estudei em boas escolas. A minha vida teria tudo para ser quase perfeita.

Os meus pais sempre me apoiaram em tudo, mas o abusador era um louco. Eu não morava no mesmo estado que ele, então, duas vezes ao ano, minha mãe viajava comigo e com meu irmão para casa dos pais dela.

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Eu acordei algumas manhãs acordei com esse cara tocando minhas partes íntimas. Eu queria gritar, mas ele era ameaçador, falava que mataria minha mãe. Outras vezes, quando eu já tinha uns 8 anos, ele me obrigou a fazer sexo oral nele. Eu era só uma criança, cheia de sonhos, com pais incríveis, que me tratavam muito bem e tudo isso deixou de fazer sentido.

Passei dois anos chorando todos os dias na escola. Sentava na carteira e sempre tinha as lembranças desses abusos em minha mente. Comecei a dar trabalho para os professores, que não entediam que o acontecia. Os pedagogos da escola pensavam que eu era mimada, me chamavam atenção e diziam: “você tem tudo na sua casa, como pode chorar assim…”. Tudo isso me impedia de relatar e dizer o que tinha acontecido.

A minha mãe idolatrava o pai dela. Ele é estrangeiro, nasceu na Alemanha, mas foi criado aqui no Brasi. Ele foi militar, então era o exemplo de caráter. Confesso que passei a vida desejando a morte desse ser.

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Quando cresci, não fui mais visitar a casa deles. Inventava mil desculpas para não visitá-los e, principalmente, a mãe da minha mãe. Eu tinha horror a ela também, pois em uma das vezes que ele passava a mão em mim, ela viu e nada fez. Simplesmente saiu. Ela deveria ser ameaçada por ele, sei lá, mas nada justifica alguém ficar imune algo assim.

Faz três anos que história veio à tona para minha mãe, não fui eu quem contei a ela. Uma tia minha contou que todas as netas tinham sido abusadas por ele. Conversando com minhas primas, descobri verdadeira histórias de horror. Dentro da minha família, são mais de 8 meninas abusadas quando crianças, tenho o relato de uma que foi abusada com 1 ano de idade… É tudo muito chocante.

Poucas pessoas próximas sabem disso, pois eu contei pela primeira vez aos 31 anos. Hoje acho válido falar, pois é preciso denunciar.”

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*Nome fictício.

Se você também quiser dividir o seu relato com outras leitoras, envie para redacaoclaudia@gmail.com. A sua identidade será preservada.

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