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“Sofri abuso sexual aos 13 anos”

Uma leitora de 28 anos divide conosco sua triste experiência e conta o que acha que os pais podem fazer para ajudar seus filhos a não passarem por isso

Por Liliane Prata
Atualizado em 22 out 2016, 14h59 - Publicado em 29 out 2015, 15h28

Inspirada pela hashtag #primeiroassedio e esperando alertar pais e adolescentes, uma leitora de CLAUDIA decidiu compartilhar aqui a sua história. Ela prefere não se identificar, porque ainda tem medo do abusador. Confira o depoimento:

“Quando eu tinha treze anos, uma amiga começou a falar com um homem mais velho na internet e peguei o contato dele. Começamos a conversar pela internet e, depois, pelo telefone. Ele tinha trinta e poucos anos.

Lá em casa, as coisas estavam difíceis. Meus pais andavam brigando muito e eu estava com medo de que eles se separassem. Mas eu não me abria com os dois, nem sobre esse medo, nem sobre nada: eles sempre foram meio fechados, o diálogo lá em casa nunca tinha sido muito aberto. Eles não faziam ideia de que eu conversava com esse cara, nem quando ele ligava para o telefone fixo e eles atendiam: ele se apresentava como um amigo da escola e tudo bem. 

Nossas primeiras conversas foram sobre escola, sobre minha rotina. Eu me sentia falando com um irmão mais velho e fui me apegando a ele. Depois, o tom mudou e ele me pedia para eu me descrever fisicamente. Aquilo me parecia errado, mas ao mesmo tempo me fazia bem. Eu me perguntava: o que eu estou fazendo? Por que estou conversando com esse estranho? Porém, ele levantava a minha autoestima, que era muito baixa. Eu não me achava nada bonita, mas eu me descrevia e ele dizia: você é linda. Eu me sentia comum, e ele dizia que eu era corajosa, diferente das meninas da minha idade.

Quando meu pai viajou por duas semanas, ele falou que eu precisava aproveitar para sair e me encontrar com ele. Fiquei com medo que acontecesse alguma coisa, que ele me machucasse, mas eu não sabia muito bem de que forma. Ele dizia: ‘Você é muito corajosa, sei que quer ir!’. Ele me pressionava e eu me sentia tentada, mas também confusa e perdida. Como eu gostava muito de conversar com ele e como a ideia era a gente se encontrar em um lugar público, topei.

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Marcamos em um bar – um boteco, na verdade. Cheguei lá muito nervosa, sem saber como agir. Então ele falou que eu precisava entrar no carro dele, senão uma coisa muito ruim iria acontecer comigo. Falei que não, mas ele me puxou pelo braço. Eu deveria ter gritado, mas sabe quando você fica sem reação? Eu já estava tão nervosa, sem saber direito nem por que eu estava ali… Quando ele falou que algo ruim poderia acontecer, fiquei assustada.

Foi tudo muito rápido: quando vi, eu estava dentro do carro e quase chorando. Agora eu estava sentindo medo, muito medo. Mas uma parte de mim me dizia: “Você está vivendo uma aventura! Olhe como a vida é emocionante!’. Eu não tinha a noção real de que aquela era uma situação muito perigosa.

No motel, ele fez de tudo comigo, mas não conseguiu ir até o fim. Tentou me penetrar, mas perdia a ereção. De resto, abusou de mim de várias formas. Ele foi tomar banho e, quando voltou, disse que toda aquela situação era culpa minha. Que eu tinha provocado tudo aquilo e que se eu tinha ido ao motel com ele era porque eu queria. Mas não era simples assim. Eu não sabia direito por que estava lá… Ele continuou me culpando e eu chorei. Cheguei em casa me sentindo culpada, envergonhada e muito, muito suja.

Hoje eu vejo que o que eu estava tentando fazer era suprir minha carência com um estranho. Nunca contei nada para os meus pais. Meu medo era contar e eles ficarem bravos comigo. Provavelmente ficariam, mesmo: como eu disse, o diálogo não era muito aberto e a sensação que eu tinha era que tudo seria motivo de bronca.

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O cara voltou a me telefonar. Uma vez por semana, ele me ligava, e foi assim por anos. A última vez que ele ligou tem dois anos. Não conversamos mais, mas ele fala que quer me ver e fico com medo.

Com certeza, essa experiência atrapalhou o início da minha vida sexual, porque fiquei com uma visão muito distorcida de como era a primeira vez. Minhas amigas contavam superfelizes sobre a primeira vez delas e eu tinha uma visão diferente do sexo, como se fosse algo mecânico, sujo e que não me daria prazer. Por muitos anos, achei que nenhum garoto gostava de mim: eu pensava que eles só queriam me levar para a cama. E eu tinha uma ideia do sexo como uma via de mão única: transava por causa do desejo dos caras, como se a minha vontade não interessasse. Por anos, fiquei com essa postura submissa, sem vontade própria.

Adolescentes precisam ter essa consciência: não desabafe com desconhecidos. Não quer se abrir com seus pais? Então pergunte a eles se pode fazer terapia ou procure uma professora ou parente de confiança. O adolescente precisa saber que não precisa resolver tudo sozinho, que tem com quem contar não só entre os amigos, mas entre pessoas mais velhas que gostam dele. Se for uma dessas pessoas conhecidas a abusar dele, ele precisa saber que não pode lidar com essa situação sozinho: precisa buscar ajuda, procurar a Delegacia da Mulher ou algum serviço de aconselhamento. 

Quando eu for mãe, quero ter um diálogo franco e amigável com meus filhos, para que eles sintam que podem conversar comigo, que não precisam temer minha reação. Também quero saber o que eles estão fazendo, com quem estão falando na internet. Não precisa xeretar a vida do adolescente, mas tem que saber o que eles estão fazendo e orientá-los. Acho que meus pais teriam ajudado muito se conversassem mais comigo sobre o mundo, sobre como as pessoas podem ser… Eu não tinha muita noção do perigo. Também ajudaria muito se eu sentisse abertura para conversar com eles.”

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