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Será que eu mereço?

Nossa colunista Marcela Leal reflete: "se contentar com o 'pelo menos' é se contentar com pouco"

Por Marcela Leal (colaborador)
Atualizado em 28 out 2016, 00h37 - Publicado em 30 nov 2015, 07h58
Reproducão / Filme: "Comer, rezar e amar"
Reproducão / Filme: "Comer, rezar e amar" (/)
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Hoje fui almoçar num restaurante e estive conversando com a dona do lugar. Ela estava reclamando das funcionárias. Falava que não conseguia encontrar ninguém que preste pra ajudá-la no serviço da cozinha e que ela tinha que trocar de funcionários com frequência por conta disso. Ela dizia: “ninguém faz a coisa com a dedicação que a gente faz. Minha cozinheira é muito lenta, mas pelo menos ela é honesta. Então, fico com ela”.

A justificativa no final daquela reclamação me chamou a atenção. Sai de lá pensando sobre a quantidade de oportunidades que perdemos, que deixamos passar, simplesmente por não acreditarmos que somos capazes de ter aquilo. Sinto que em algum lugar existem maravilhas represadas, pausadas, esperando que a gente se permita usufruí-las. Esperando que a gente se permita ter o melhor. Porque SIM, podemos ter o melhor de tudo, e se contentar com o “pelo menos” é se contentar com pouco, é conformismo, é não se achar digno de coisa melhor.

Comecei a pensar em mim, nas coisas que ainda preciso “consertar” na minha vida e em quantas vezes usei o mesmo argumento que esta senhora do restaurante. Coisas do tipo: “este salário não é muito bom, mas pelo menos eu tenho um salário” ou “fulano cobra trezentos reais por um corte de cabelo, mas pelo menos ele faz um bom corte”, “a diarista quebra a casa inteira, mas pelo menos é de confiança” “meu sócio é egóico e difícil de se conviver, mas pelo menos fecha bons negócios”. Me lembrei também do nome daquela peça incrível com a Zezé Polessa que ilustra bem essa ideia: “Não sou feliz, mas tenho marido”.

Algo me diz que essa ideia de compensação que fazemos mentalmente surge como uma muleta pra mascarar a nossa falta de amor próprio. Parece um discurso otimista, porque afinal estamos olhando o lado “menos ruim” da coisa, mas na verdade é um conformismo, estamos sendo covardes e atacando a nós mesmos quando fazemos tantas concessões em prol dos outros. Se eu me amo eu mereço o melhor, não algo mais ou menos, mas, se eu não me amo, eu aceito algo que não é exatamente o que eu mereço, mas “pelo menos…”.

Acredito que desejar e ter o melhor dos mundos provém do respeito que temos por nós mesmos. E então você me pergunta: você está pregando o egoísmo? E eu te respondo: não, estou falando da única coisa sensata a se fazer: cuidar das nossas sensações internas, das nossas emoções e limpar o que nos destrói. Mesmo porque, só posso realmente ajudar alguém se eu tiver o que oferecer. Só posso ajudar alguém verdadeiramente se o meu bem estar for tão grande que me permita sair de mim pra olhar pro outro. E oferecer ao outro meu bem estar é, sem dúvida, o melhor dos presentes. Antes disso, na tentativa ser legal, no máximo me misturo com a sensação do outro e ficamos os dois no buraco, juntos. Então quando o avião estiver caindo, vou seguir a dica da aeromoça e colocar a máscara de oxigênio em mim, pra depois, respirando, poder colocar a máscara em quem está ao meu lado. Afinal, essa orientação tem um fundamento verdadeiro.

Aos poucos, fazendo esta faxina interna, vou conseguindo visualizar a vida que desejo pra mim e sinto que é possível. E só desta maneira consigo usar o “pelo menos” como exemplo, afinal: “ainda não tenho a vida que quero, mas pelo menos acredito que posso ter”.

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