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“Sangrando…” Por que o drama da garota estuprada no Rio de Janeiro é o drama de todas as mulheres brasileiras

Não ocorreu a nenhum dos 30 homens que estupraram esta adolescente que estavam cometendo um crime. Isso é o resultado da cultura do estupro

Por Tatiana Schibuola
Atualizado em 12 abr 2024, 10h24 - Publicado em 26 Maio 2016, 16h33
Reprodução/Thinkstock
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A notícia de uma garota de 16 anos, estuprada por pelo menos 30 homens parece tirada do roteiro de um filme B, da pior qualidade. Pior é que esse filme existe e não se trata de ficção – não só foi postado no Twitter, como compartilhado por bárbaros, com termos tão degradantes como “Trem Bala do Marreta” ou “Amassaram a Mina”. As imagens, filmadas com telefone celular, mostram a menina, desacordada e nua, jogada numa cama, em meio à zombaria dos homens, que não deixam de notar: “Sangrando…”, um deles diz, no vídeo que tem cerca de 40 segundos. A nenhum destes homens, nenhum, ocorreu impedir que o suplício da garota continuasse. Estavam se divertindo, como se violar uma menina adolescente em todos os seus direitos pudesse ser considerado algo recreativo. 

Tudo teria acontecido na madrugada do último sábado, quando a menina foi a um baile funk, na comunidade do Morro do Barão, no Rio de Janeiro. Ela deixou em casa o filho de 3 anos, com sua mãe, e só retornou dois dias mais tarde. Teria dormido por mais de um dia inteiro, após o ataque bárbaro. 

Não fosse a imbecilidade dos que compartilharam o vídeo, o drama de C. teria permanecido invisível. Ela só recebeu atendimento e acolhida uma semana depois que o crime aconteceu, graças às denúncias levadas ao Ministério Público. Embora sua história não tenha sido contada, o fato de não ter procurado ajuda após tamanha barbárie só reforça a ideia de que provavelmente a esta garota foram negados os direitos mais básicos ao longo de sua vida. Mãe adolescente, usuária de drogas, de acordo com sua avó, provavelmente não fazia ideia da gravidade da violência que sofreu. “Só quero ir pra casa”, disse, no hospital. C. é uma das incontáveis vítimas silenciosas que nascem da cultura do estupro que impera no país – 1 mulher é estuprada a cada 3 horas no Brasil. E esses são apenas os casos registrados pela linha de denúncia Ligue 180. 

Um dos suspeitos já foi identificado, e terá a prisão preventiva pedida. O Ministério Público do Rio de Janeiro está em busca de novas denúncias para identificar os outros estupradores. 

CLAUDIA convoca você a se mobilizar e exigir punição exemplar para os culpados. Enquanto a sociedade não entender claramente a gravidade dos atos ligados ao machismo, da objetificação da mulher, da sexualização precoce de meninas (basta ouvir algumas letras de funk para entender o raciocínio), dos hinos obscenos que edificam a macheza e ecoam, sem consequências, até mesmo entre os nossos universitários, esse filme de horror continuará a ser reprisado sem cessar. 

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Enquanto isso, ainda aguarda votação em plenário o projeto de lei 5069, apresentado em 2013 por Eduardo Cunha, Isaías Silvestre e João Dado. Aprovado pela Comissão de Constituição, de Justiça e de Cidadania em outubro do ano passado, obriga a mulher vítima de violência sexual a fazer boletim de ocorrência e a submeter-se a exame de corpo de delito para que possa receber assistência do sistema sanitário, criminalizando as vítimas e os profissionais de saúde. Mais um sinal de retrocesso promovido pelas bancadas conservadoras.

Resta saber como a nova responsável pela Secretaria das Mulheres, a deputada peemedebista Fátima Pelaes, uma conservadora da bancada evangélica, que já se declarou “pró-vida” e “pró-família” vai encaminhar a questão. Tudo indica que não haverá avanços. 

#nãoàculturadoestupro 

 

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