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Regina Duarte se reinventa em “Gata Velha Ainda Mia”

A atriz interpreta a escritora Gloria Folk e contracena com Bárbara Paz em um cenário único durante todo o filme. A história traz uma reflexão sobre as escolhas que fazemos ao longo da vida e aonde elas nos levam.

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 out 2016, 15h31 - Publicado em 14 Maio 2014, 22h00
Patrícia Zaidan
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“Gata Velha Ainda Mia” traz no elenco as atrizes Regina Duarte e Bárbara Paz.
Foto: Divulgação/Procultura

Quem já viu tudo de Regina Duarte e se cansou deve assistir a Gata Velha Ainda Mia, que estreia hoje (15/5) nos cinemas. Sua personagem, Gloria Polk, é um exercício rebelde de reinvenção para a atriz. O tom de voz grave, a inquietação das mãos, a angústia, as rugas do rosto (todas próprias, sem pirotecnia) fazem um registro inédito na vida da atriz de 67 anos, que derramou toneladas de açúcar na telenovela brasileira e se deu mal ao declarar o medo da ascensão de Lula ao poder.

Bobagem dizer que está ali a encarnação do fracasso do feminismo -até porque o feminismo não fracassou; basta olhar como agem as mulheres, o que podem, o que têm. A escritora, a quem Regina dá corpo, é uma personagem ressecada, que bate de frente com o envelhecimento, rejeita a solidão e o enfraquecimento de sua arte. Ela está há 17 anos sem publicar um livro, esquecida, distante das universidades do mundo, onde fazia palestras sobre a condição da mulher, e a sua vaidade intelectual a afronta. Os sentimentos dessa feminista poderiam caber em um homem, já que amargura não tem gênero.

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Gloria paga as contas cozinhando para pessoas ricas e influentes e não suporta quando, numa entrevista, a jornalista de uma revista feminina lhe pergunta quem são seus escritores preferidos. E aí tem um estereótipo fácil: a pergunta é tola; Carol, a repórter interpretada por Barbara Paz, é igualmente tola. As duas entabulam um acerto de contas no apartamento da escritora que recebe Carol para o jantar em que deveria falar de seu novo livro, do processo criativo, do retorno às livrarias.

Vizinhas de prédio, elas têm em comum o homem que foi marido de Gloria por 20 anos e agora é casado com a jornalista. A mais jovem pode ter o parceiro, mas cobiça o histórico da mais velha, a segurança e a desenvoltura que ela tivera um dia. Outra nuança do embate é o amor. A psicanalista paulista Rose Galacini costuma dizer que a mulher pode ter o poder, o dinheiro, a decisão, a última palavra, a beleza, mas ainda chora pelo homem. Talvez tenhamos que enfrentar mais algumas décadas até revogar isso.

Um único momento de leveza na tela: Regina Duarte põe para tocar um vinil: é Gal Costa cantando delicadamente Quem Nasceu (O dia nasceu/ o sol nasceu / é tudo mentira, é tudo figura”). A escritora dança com sensualidade e, então, tenta seduzir ou se vingar de quem lhe parece gozar do triunfo e da juventude. Cresce a tensão em uma Gloria que vai deixando aparente seu desequilíbrio, seu comportamento irascível, sua patologia potencializada pela reclusão. O suspense se instala.

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O trabalho das duas tem afinação. Foram apenas oito dias de filmagem num apartamento pequeno, o diálogo é longo, e o baixo orçamento de 150 mil reais não permitiria refazer as cenas. Regina arrastou para lá a profissional que lhe ajuda a decorar os textos. E haja palavras! Elas foram inicialmente concebidas para o teatro por Rafael Primot, que se revela bom autor de diálogos e diretor que gosta dos conflitos humanos. Regina declarou que Rafael tirou dela uma pessoa completamente desconhecida.

O legado do filme para as mulheres e os homens da plateia pode estar ligado às escolhas que fazemos. São elas que nos colocam no caminho de uma velhice em solidão sombria ou de outra velhice, em que se é só, porém, apaziguado com a própria biografia. E isso não tem nada a ver com feminismo.

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