Por que a Hillary Clinton é uma das maiores líderes dos tempos atuais?
Este é o paradoxo da candidata: ela conseguiu algo que nenhuma mulher na história da política norte-americana havia sequer chegado perto, mas ainda assim é vista pela maioria dos americanos como incompetente – e uma coisa está completamente ligada à outra
Este é o paradoxo da candidata: ela conseguiu algo que nenhuma mulher na história da política norte-americana havia sequer chegado perto, mas ainda assim é vista pela maioria dos americanos como incompetente – e uma coisa está completamente ligada à outra.
Afinal de contas, é sempre muito fácil para os outros de fora desqualificarem uma figura pública apenas por ser mulher, ou por acreditarem que, como no caso de Hillary Clinton, foi muito fácil para que tenha chegado lá, afinal ela teria contatos políticos importantes desde a época em que era primeira-dama. Mas a questão é: se fosse tão simples assim, porque só agora os Estados Unidos, uma das nações mais poderosas do mundo, contaria com uma mulher concorrendo às eleições presidenciais?
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Em seu discurso, nesta última terça-feira (7), Clinton dedicou sua vitória histórica a todos os homens e mulheres americanas: à frente de um dos maiores partidos estadunidenses, o Democrata, a representante conquistou ontem a principal prévia de um total de 6 realizadas no estado da Califórnia, contabilizando 56% das intenções de voto. A ex-chanceler também venceu em Nova Jersey, com significativos 63%, na Dakota do Sul e no Novo México.
Os Estados Unidos realizaram, em toda a sua história, 56 eleições presidenciais – mais da metade delas, no caso 33, antes das mulheres conseguirem o direito de votar. E em nenhuma delas havia uma figura feminina à frente dos dois maiores partidos: o Democrata e o Republicano, que também marca presença na corrida presidencial com o empresário Donald Trump.
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Mas há algo sobre Hillary que é capaz de fazer com que as pessoas não reconheçam seu grande feito: ela foi a primeira mulher a quebrar o teto-de-vidro masculino da política americana, porque a maioria das que se aventuraram não chegaram nem perto, e isso incomoda – e muito. Exatamente porque isso ao mesmo tempo que a enaltece como líder e estrategista política, também desperta o ódio de muitos americanos.
Em tempos que as figuras públicas femininas são analisadas dos pés à cabeça pelas roupas que vestem, não é surpreendente dizer que as campanhas políticas favorecem os traços masculinos. E aventurar-se neste mar de julgamentos é um dos motivos que faz com que Hillary seja tão boa – mesmo que seja de uma forma que a grande maioria dos americanos nunca foi capaz de apreciar.
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Mas é claro que como qualquer política, ela também tem suas falhas: como o uso do servidor privado de emails para trocar mensagens pessoais quando ainda era Secretária de Estado e as acusações de ter recebido investimentos do Banco Goldman Sachs para sua campanha.
Mas apesar dela mesma não se considerar “um político natural, como meu marido ou o presidente Obama“, Clinton está indo longe com seu carisma, sua extensa e sólida rede de relações e seu discurso menos odioso, quando comparado ao conservador com traços de xenofobia de Trump. Por isso, a vitória de Clinton – mesmo que apenas nestas primárias – é algo a se comemorar por todas as mulheres do mundo.