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O pequeno sírio morreu lutando

O menino, que se transformou em um símbolo da tragédia dos refugiados do Oriente Médio, foi enterrado nesta manhã

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 out 2016, 01h28 - Publicado em 4 set 2015, 14h03

A gente é que ainda não tinha prestado atenção. Um pequeno sírio — encontrado com rosto atolado na areia, pezinhos juntos, bumbum para cima e de costas para o mundo — não é o único nem um raro degredado da Terra. Milhares de outros meninos e meninas morreram este ano tentando o mesmo que Aylan queria: viver em paz com a família, longe de guerras, terrorismo, violência religiosa, perseguição política, miséria. A cada dia desta semana que termina triste, 5 mil refugiados e migrantes atravessaram o Mar Egeu em direção à Grécia. A maioria fugindo da Síria ou do Afeganistão, louca por um novo teto na Europa ou na América do Norte.

De cada quatro banidos da pátria (qualquer pátria), errantes como um cão sem dono, um é criança como Aylan, que tinha 3 anos. Com tão pouca idade, essas crianças embrenham-se na mata, andam em estradas perigosas ou navegam no revolto Mediterrâneo. E, quando não são derrotados em naufrágios, como o siriozinho, se veem arrancados de seus pais por policiais das fronteiras, que eles teimam em atravessar (que fibra!). Ou perdem a vida para a desidratação, a diarreia, a inanição, o frio o esgotamento físico, cheio de bolhas nos pés. Alguns acabam em mãos de traficantes de pessoas, estuprados no caminho ou simplesmente se perdem dos parentes, segundo dados de ONGs de Direitos Humanos e o Alto Comissariado das Nações Unidas. 

Ninguém quer enjeitados com problemas. Ninguém. A família de Aylan teve a sobrevivência inviabilizada na cidade natal, Kobane, palco de sangrentas batalhas entre forças curdas e militantes extremistas muçulmanos. Gerado, nascido e criado sob a insanidade da guerra – que solapa a Síria há cinco anos, Aylan, era, então, um menino acostumado com o que existe de pior na humanidade. Arriscar a pele por dias mais dignos, para ele, não era nada. Com passagem pelo Centro de Triagem do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, na Turquia, estava disposto a desafiar as autoridades canadenses para recomeçar tudo em Vancouver, onde residem parentes. O enxotado, mais uma vez, se sentiu refugado. O Departamento Canadense de Cidadania e Imigração teria devolvido a solicitação de acolhimento no país por considerar que Aylan e sua trupe não cumpriam as exigências para o reconhecimento da condição de refugiados.

O que Aylan seria, então? No mínimo, um símbolo da falência da ONU, da diplomacia internacional, dos governos que enxotam, descumprindo a Convenção Internacional sobre o Estatuto dos Refugiados. Aylan (que teimoso!) virou também um sinal do colapso da solidariedade entre os homens. Isso só emergiu da areia porque a fotógrafa Nilüfer Demir descobriu, perplexa, o corpo imóvel do menino e tornou pública a dor que ele berrava antes. Não fosse essa imagem, as mortes do bravo sírio, do irmão de 5 anos e da mãe dele teriam ficado nos escombros da humanidade, onde jazem um sem-número de petulantes que tentaram empurrar as porteiras do planeta e gritar por providências. Ainda há quem finja não ver a urgência que Aylan deixou exposta, feito ferida, ao morrer dando as costas para os dirigentes do mundo.

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