“Não nos deixam falar”, diz Cármen Lúcia sobre mulheres no STF
A ministra precisou pedir aos colegas que parassem de interromper a ministra Rosa Weber
Em debates e discussões, as mulheres são frequentemente interrompidas por homens, fenômeno denominado por movimentos feministas de ‘manterrupting‘ – termo em inglês para a interrupção sexista à fala das mulheres, que pode até passar despercebida. O ambiente de trabalho e a política são alguns dos espaços em que o comportamento mais aparece, mas não são os únicos. A ministra Cármen Lúcia, em sessão do STF na quarta-feira (10), precisou pedir que os colegas parassem de interferir no momento de fala da ministra Rosa Weber e questionou a prática sexista nos tribunais.
No episódio, os ministros Luiz Fux e Ricardo Lewandowski dialogam no momento do voto da ministra Rosa Weber. Fux finaliza a discussão dizendo que “concede a palavra” à ministra. Cármen Lúcia questiona a afirmação do ministro. “Como concede a palavra? É a vez dela votar. Ela é quem concede, se quiser, um aparte“, diz, em referência a Weber.
A presidente do STF lembrou ainda de pesquisa norte-americana que observou sessões da Suprema Corte desde os anos 1990 para determinar que os homens geram mais interrupções, sendo as mulheres as mais afetadas. “A ministra Sotomayor [da Suprema Corte americana] me perguntou: como é no Brasil? Lá, em geral, eu e a ministra Rosa, não nos deixam falar, então nós não somos interrompidas. Mas agora é a vez de a ministra, por direito constitucional, votar. Tem a palavra, ministra”, completou Cármen Lúcia.
Assista ao vídeo com a fala da ministra, compartilhado pela página Quebrando o Tabu, no Facebook:
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O estudo que a ministra fez referência, liderado por Tonja Jacobi e Dylan Schweers, da Escola de Direito Northwestern Pritzker, em Chicago, nos Estados Unidos, apontou que as mulheres são interrompidas três vezes mais do que os homens. Elas também falam menos e por menos tempo do que eles. Além disso, a idade e experiência não são fatores tão determinantes, já que as mulheres, mesmo muito graduadas, continuam a ser frequentemente interrompidas.
A ministra Cármen Lúcia já havia feito posicionamento em favor da equidade de gêneros em outras sessões do STF. Na primeira como presidente, disse: “Há, sim, discriminação contra mulheres, mesmo no caso de juízas, como nós, que conseguimos chegar a um patamar de igualdade. Não preciso de dados, mas da minha vida e das experiências das mulheres com quem convivo. Temos uma sociedade extremamente preconceituosa. Quando há mulheres candidatas a cargos, não nos dão conhecimento, não nos dão participação no financiamento nem tempo na televisão e nas direções partidárias. Depois, vêm com o discurso: ‘Viu, não foi eleita’.”
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