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“Não ao racismo! É nossa obrigação desconstruir conceitos arraigados”

As manifestações de rua e os debates na internet têm funcionado como um treino para muitas meninas. Jovens como a ativista Stephanie Ribeiro tomaram a dianteira do movimento feminista, que agora amplia suas bandeiras para além da questão de gênero

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 out 2016, 10h53 - Publicado em 23 mar 2016, 11h25
Acervo Pessoal
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Quem disse que as batalhas estão ganhas e que o feminismo envelheceu? Ele continua tão necessário quanto nos anos 1960 e 70, quando se popularizou. Mas mudou de cara e intensidade ao se alastrar por blogs, redes sociais, passeatas e ocupações, entre outras ações coletivas. E nele não figuram apenas nomes icônicos, como no passado. Líderes cada vez mais jovens, de diferentes setores e tendências, modulam um discurso e vão para a prática exercitar a cidadania – já com resultados importantes. Um estudo realizado em 113 nações permite enxergar o envolvimento das mulheres com causas específicas e outras comuns a todas. Intitulado Big Data and Gender Inclusion, ele analisou a participação feminina na Change.org, plataforma de abaixo-assinados presente em 196 países, que tem 100 milhões de usuários. Concluiu que no Brasil 50% das mulheres são engajadas (mesma porcentagem média do mundo).

As brasileiras aprenderam a não esperar que o governo faça as transformações de que precisamos e estão mudando o jeito de viver a política, levando mais mulheres a refletir e criar consciência. Elas debatem caminhos para a maternidade, o trabalho, a saúde. Mostram como deve ser a paridade de direitos e de condições entre negras e brancas e de ambas em relação ao homem. Defendem uma sexualidade mais fluida. Quer dizer, o feminismo tem se ampliado para uma luta transversal, que prevê uma sociedade plural e pacífica, como se pode notar nas experiências de diferentes mulheres que CLAUDIA ouviu. 

Abaixo, você confere o depoimento Stephanie Ribeiro, de 22 anos, ativista e estudante de arquitetura e urbanismo que luta contra o racismo.
 
“Entrei na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas como cotista. Sou a única negra da turma e já denunciei o racismo e o machismo ali. Entre outras coisas, critiquei o fato de um anúncio na faculdade mencionar vaga de estágio só para homens. Isso incomoda. Chegaram a escrever no meu armário: ‘Não ligamos para as bostas que você posta no Facebook’.

Leio muito desde criança e aos 18 anos comecei a seguir blogs feministas – vários de negras. Aprendi bastante e criei minha identidade ali. Publiquei textos em seis deles. Hoje, escrevo para o HuffPost e outros portais. Os negros estão no digital, e não nas mídias tradicionais, que ainda acham que não temos capacidade intelectual suficiente ou opinião para dar.

Uso muito as redes sociais, onde a repercussão é rápida. Em 2015, convoquei um ato contra a peça A Mulher do Trem, no Itaú Cultural, em que atores pintavam o rosto de preto para interpretar uma doméstica. A apresentação foi cancelada e no horário houve um debate, do qual participei. É nossa obrigação desconstruir conceitos arraigados. O meu texto Tire o Racismo do Seu Vocabulário é para isso. Ele foi visualizado por 200 mil pessoas em um dia. Uma empresa copiou e passou para os funcionários. Nele, explico 13 expressões que inferiorizam a negra. Por exemplo: chamá-la de morena ou mulata para embranquecê-la é racismo. Ou hipersexualizá-la e fazê-la exótica, dizendo: ‘Mulata de traços finos, tipo exportação’. ‘Não sou tuas negas’ deixa explícito que com as negras pode tudo, inclusive assediar e maltratar. Há ainda o uso de ‘inveja branca’, quando ela é boa; ‘mercado negro’ para traduzir ilegalidade; ‘denegrir’, que é tornar negro, aplicado no sentido de difamar. As feministas têm muita coisa para mudar.”

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