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Mulheres de deputados pedem de volta direito a cotas de passagens aéreas

Benefício público havia sido cortado depois do escândalo sobre o uso, por familiares de parlamentares, em viagens de férias

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 out 2016, 23h42 - Publicado em 3 fev 2015, 16h23
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Um chá reuniu mulheres de deputados no sábado (31), em Brasília. O tricô foi em torno de Eduardo Cunha, que no domingo se elegeu presidente da Câmara dos Deputados. Fazia parte da campanha dele bajular aquelas senhoras. Afinal, elas poderiam influenciar o voto dos maridos no dia seguinte. Cunha, tão hábil quanto o filho de uma raposa, ouviu com atenção quando Izamar Rodrigues, mulher do deputado Remídio da Amatur, pediu a volta da cota de passagens aéreas para as esposas. Ela explicou que é difícil ficar longe do marido e que esposa de parlamentar abdica da própria vida, sofre com a distância etc., etc.

O malfadado benefício público havia sido cortado depois do escândalo sobre o uso, por familiares de parlamentares, em viagens de férias e de fricotes. No mundo machista da política, o pedido foi logo rotulado de “efeito Danny Bond”. O Brasil sabe: Felizes para Sempre, minissérie que está no ar, na Globo, faz uma paródia barata da diversão sexual de empreiteiros, políticos e senhores do Planalto com garotas de programa. Coisa cafona! Em que pese a beleza de Paolla Oliveira no papel principal, não há palavra mais velha e mais exata do que “cafona” para ilustrar as estripulias com Danny Bond de carne e osso. Nada contra prostitutas. Elas deveriam ter a profissão reconhecida, com os mesmos direitos já conferidos a outras categorias. Além de usar o corpo para o prazer ou como achar conveniente.

Recorro à ideia de miquelino e jeca para dizer o mínimo sobre os devaneios dos políticos num país com tantas urgências, tantos desacertos. Para enfrentar todas as carências, o Brasil conta com um Congresso Nacional repleto de senhores retrógrados, atrasados e moralistas. Que fazem graça com Danny Bond e não se dispõem a enxergar, por exemplo, que o aborto não pode continuar sendo um crime, enquanto o SUS recebe, todos os anos, cerca de 200 mil mulheres à beira da morte por terem se submetido a abortos clandestinos. Sem citar as centenas e centenas que perdem a vida em clínicas ilegais e insalubres ou em intervenções de fundo de quintal. Isso acontece porque a legislação que rege a interrupção voluntária da gravidez é medieval, se alinha à de países em frangalhos, como o Afeganistão. O desalentador: mais da metade dos deputados, segundo pesquisa do G1, pretende manter o aborto como está.

Quanto às senhoras do chá, o comentário é apenas um: se quiserem estar com os maridos, paguem da própria bolsa. Foi para isso, também, que lutamos – faz parte da autonomia e da independência. Fica feio demais querer que o público pague a passagem para irem vigiar seus homens privados. E, minhas senhoras, não abdiquem da própria vida: há coisas muito mais interessantes para fazer do que ficar na cola de político fanfarrão.

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