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“Meu maior desafio é ajudá-los a desenvolver autonomia”, diz mãe social

Maria Rita Ferreira cuida de menores que tiveram os vínculos familiares fragilizados. Ela tem no currículo 40 “filhos”, de 1 a 18 anos. E uma “neta”, que ajudou a nascer

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 28 out 2016, 06h22 - Publicado em 20 jun 2016, 10h43
Ricardo Toscani
Ricardo Toscani (/)
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A piauiense Maria Rita Ferreira, 50 anos, assistiu, encantada, a uma reportagem na TV sobre mulheres que tinham como profissão a maternidade. Não imaginava que alguém pudesse trilhar uma carreira assim. Tratou de se informar, passou por seleção e treinamento e hoje celebra 13 anos na função. É a mãe social mais experiente da ONG Aldeias Infantis SOS Brasil (que emprega 74 mulheres no cargo) e presta serviço em Poá, na Grande São Paulo. Dito assim, parece uma atividade puramente técnica. Não é. Ela atua naquele papel tradicional da matriarca: criar um ambiente para a boa interação familiar. Em uma casa montada pela instituição, dez crianças e adolescentes vivem sob sua responsabilidade. Maria Rita orienta, cuida da roupa, da comida, acompanha as lições, vai à reunião da escola, cura a gripe, leva ao médico. Acorda e dorme ali, como chefe do clã.

Com mais de 40 “filhos” no currículo, considera seu principal desafio ajudá-los a desenvolver autonomia para seguir adiante; e a maior dificuldade entender que cada um tem história de vida e personalidade próprias. Os pequenos são órfãos ou saíram de núcleos familiares vulneráveis. “A mãe social tem que abraçar a missão com a garra de quem quer fazer a transformação na vida deles”, diz. “Se vier buscar o emprego, a estabilidade e o dinheiro, não fica.” As folgas são raras – uma por semana – e o salário inicial de 1,5 mil reais sobe para 2 mil mais benefícios após a formação teórica e prática. No lar, a rotina é bem agitada e a faixa etária da turma varia de 1 a 18 anos. Maria Rita conta que não para de falar o tempo todo. “Tenho que lembrar sobre a ordem no guarda-roupa, a meia jogada no chão, a hora do banho.” O futebol entra como a melhor moeda de troca nas negociações – com meninos e meninas. Ela tira o jogo por uns dois dias se descumprem um combinado. Mas, se dizem que é muito mãezona, acaba concordando. “Às vezes, quando faço a linha dura, preciso segurar a vontade de rir.”

O horário mais gostoso é o do jantar. À mesa, ela quer saber como foi o dia de todos. “Sou muito aberta, falo sobre o que quiserem. Acredito que me têm como mãe, se espelham em mim.” Maria Rita ficou órfã antes mesmo de completar 2 anos e aprendeu a maternagem com uma avó amorosa, que virou sua referência. Por opção, não teve filhos.

Há momentos que exigem dessa mãe social muita tenacidade e sangue frio. Como no dia em que uma adolescente, aos 15 anos, deu à luz. Foi Maria Rita quem fez o parto. “Nunca imaginei!”, revela. “O médico garantiu que ia demorar mais três dias para nascer.” Porém, horas depois da consulta com o ginecologista, vieram as contrações e as dores. Já era tarde da noite, a piauiense chamou correndo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A ambulância chegou às 6 da manhã; o bebê tinha nascido nas mãos dela às 4. Foi assim que Maria Rita Ferreira se tornou avó. Aliás, a grande avó de uma menininha que tem hoje 1 ano e 5 meses e se mostra feliz na única família que conhece.

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