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Menos é mais: Consumidores buscam o que é simples e prático na hora de comprar um produto

Iniciativas como o Nubank, cartão de crédito sem anuidades, e a ATAR Band, primeira pulseira para pagamentos do país, conquistam um público que preza por mais senso de compartilhamento e menos excessos

Por Aline Takashima (colaboradora)
Atualizado em 12 abr 2024, 14h20 - Publicado em 20 jul 2016, 13h50
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Diariamente, a engenheira ambiental Carla Cristina Brandão, 30 anos, compara o preço de diversos produtos na internet e prepara o enxoval de Vicente, o seu primeiro filho. Ela é adepta de serviços que, segundo Carla, “facilitam a vida”. Utiliza o aplicativo Uber para se locomover por São Paulo, no mínimo, quatro vezes por semana. Assina o serviço de música digital Spotify e assiste a séries e filmes no Netflix. Há um ano, faz suas compras online com o Nubank, o cartão de crédito sem anuidades ou tarifas. Para ela, a principal vantagem é poder controlar os gastos pelo celular sem burocracia ou idas ao banco e, claro, não pagar as taxas que costumam surgir sem justificativa. “Sempre aparece novas tarifas nos cartões dos bancos tradicionais. É uma perda de tempo e um estresse grande ligar e pedir o reembolso. Gosto de praticidade”, revela a engenheira. 

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Carla faz parte da geração Y também conhecida como millennials. Esse grupo de pessoas que nasceu entre 1980 até meados da década de 1990 chamado de “preguiçosos, narcisistas e viciados em mídia social”, segundo artigo da CNBC, recebeu um termo mais apropriado de acordo com uma pesquisa da T. Rowe Price, a “geração do dinheiro consciente”. O estudo analisou os hábitos de gastos e poupanças de mais de três mil adultos, sendo 1.500 millennials. Cerca de 74% do grupo da geração Y afirmou controlar suas despesas com cuidado, investindo e poupando o dinheiro extra ao invés de gastá-lo. E 79% economiza cortando despesas flexíveis como viagens, idas aos restaurantes e entretenimento. 

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A engenheira ambiental Carla Cristina Brandão só compra pela internet. Ela procura os serviços práticos e rápidos 

É certo que a pesquisa recorta uma pequena parcela dos jovens adultos norte-americanos, mas, em certa medida, reflete o perfil dos millennials brasileiros. Cristina Junqueira, 33 anos, co-fundadora do Nubank, revela que, com o aumento da inflação e a crise no Brasil, aumentou a inadimplência entre os clientes. Porém, o impacto foi menor comparado com a adesão de novos usuários que preferem pagar taxas de juros mais baixas e não pagar anuidade. Aproximadamente, 80% dos clientes têm menos de 36 anos. “São pessoas acostumadas com a tecnologia que procuram esta interface digital. É um público que os bancos têm dificuldade em atender. Eles estão conseguindo controlar o orçamento e pagar a conta do cartão de crédito”, comemora. 

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Crise aumentou a adesão de novos usuários Nubank. Eles preferem pagar taxas de juros mais baixas e não pagar anuidade

Antes da era da internet e das redes sociais digitais, as pessoas tinham poucos critérios subjetivos na hora de comprar um produto. Ou seja, a maioria dos clientes não pensavam o quanto uma marca é humanista, social ou sustentável, explica Marcelo Barcelos, professor e coordenador de MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais da Estácio de Sá, em Florianópolis. “Há muita oferta e muitos consumidores empoderados, que acreditam em valores de marca, no quanto aquele produto ou serviço está alinhado com a minha própria crença ou visão de mundo.” O especialista define o modelo de sociedade atual com mais senso de compartilhamento e comunidade e menos excessos. Embora o fenômeno seja mais visível entre os millennials, Cristina Junqueira reitera que esta é uma tendência global sentida por diferentes gerações. “Eu não preciso ter o bem material. Eu quero ter acesso. Eu não preciso ter o DVD na mão, mas quero assistir o filme. Eu não preciso ter o carro, mas quero me locomover.”

No ano de 2014, três amigos de Timbó, no interior de Santa Catarina, decidiram se “livrar” de suas carteiras. Orlando Purim Junior, na época com 28 anos e Mike Allan e Luiz Fernando Heidrich, de 23 anos tiveram a ideia de criar uma pulseira que realiza pagamentos. Nascia a ATAR Band, primeiro produto da startup ATAR. O primeiro passo para que o acessório funcione é colocar carga no gadget através do aplicativo online. Em seguida, inserir o valor da compra na máquina do cartão de crédito, aproximar a pulseira no aparelho, digitar a senha pessoal e efetuar a compra. 

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Startup ATAR cria pulseira que realiza pagamentos 

A startup recebeu um aporte de R$ 1 milhão do governo estadual, nacional e de investidores privados. É o primeiro wearable (tecnologia ‘vestível’) para pagamentos do país. Desde maio deste ano o produto é comercializado online e custa R$ 249. Mike revela que a novidade atraiu principalmente o público masculino. “Cerca de 70% dos nossos clientes são homens. Mas, no Facebook, são as mulheres que indicam o acessório para os namorados.” A ideia da Atar é promover facilidade e comodidade. “As pessoas não gostam de burocracia e de enfrentar filas em agências. Queremos simplificar”, define. 

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Tornar os processos simples também é premissa de Cristina Junqueira. Não é à toa que ela é finalista do Prêmio CLAUDIA na categoria Negócios. A engenheira de produção trabalhou por cinco anos no Itaú Unibanco. Pediu demissão quando o seu chefe sugeriu criar mais uma tarifa para os clientes. Inconformada com o mercado tradicional, fundou a Nubank com o colombiano David Veléz e o norte-americano Edward Wible, em maio de 2013. “O mercado financeiro acostumou a criar tarifas e empurrar goela abaixo para o cliente. Somos diferentes, pensamos nas necessidades das pessoas”, explica. A fórmula tem funcionado. Mais de 3 milhões de pessoas já solicitaram o cartão e 400 mil estão na lista de espera. No começo, as mulheres aderiram o cartão roxo de forma tímida. Elas representavam 15% do total de clientes. Atualmente são 40% dos usuários. 

Pablo Saborido
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“O mercado financeiro acostumou a criar tarifas e empurrar para o cliente. É necessário pensar nas necessidades das pessoas”, justifica Cristina Junqueira

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Para o professor Marcelo Barcelos, as ordens de ação das empresas não funcionam mais. “O velho imperativo compre, beba, consuma era facilmente espalhado. Hoje isso funciona? Claro que não! O consumidor global está muito mais alinhado a um convite, a uma brincadeira em que ele possa se sentir participante e não um mero robô.” Essa relação informal com os clientes reflete no ambiente de trabalho da startup Nubank. Para ter acesso ao prédio, uma secretária de cabelo roxo pede para preencher um formulário no iPad com nome e email. Cada andar é decorado com um quadro de grafite. As paredes das salas de reunião são ocupadas por fórmulas e análises desenhadas por engenheiros e designers. Há banheiros multigêneros para a população LGBT e pessoas de diferentes cantos do mundo e do Brasil. As mulheres representam quase 40% dos funcionárias, sendo quatro desenvolvedoras. Animais circulam no edifício. Lost é o cachorro mais antigo da empresa. Frequenta a Nubank desde a abertura da startup. O espaço ainda conta com uma sala de meditação, biblioteca e Netflix. 

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Parte da equipe da Nubank, empresa que recebeu aporte de US$ 99 milhões entre 2013 e 2016

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Embora pareça uma grande brincadeira, os números da empresa são de gente grande. Entre 2013 e 2016, a Nubank recebeu aporte de US$ 99 milhões. Desde o ano passado, a startup prepara um programa de fidelidade para que os clientes acumulem pontos e troquem por passagens de avião. O lançamento está previsto para o fim deste ano. “Os clientes terão uma experiência integrada no aplicativo em tempo real”, revela Cristina, sentada em posição de lótus, de pernas cruzadas sobre a cadeira. É quase meio-dia de uma terça-feira. Até as 17h30, a co-fundadora se concentra no trabalho, em suma, melhorar e aperfeiçoar o produto de maneira simples e prática. Depois é hora de buscar a filha de um ano e nove meses na escola. 

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