Marcia de Luca: A “geração da cabeça baixa” precisa arranjar tempo para reflexão
Com o advento dos smartphones as pessoas não têm mais um tempo calmo e de reflexão. A colunista de CLAUDIA, Marcia de Luca, fala sobre a "geração da cabeça baixa", que está sempre olhando para o celular.
“E, quando uma brecha se abre no meio do dia, na fila do supermercado ou no trânsito parado, não aproveitamos: pegamos logo o celular.”
Foto: Getty Images
Uma das maiores reclamações da sociedade contemporânea é que estamos com a agenda hiperlotada, todas nós constantemente cheias de compromissos e afazeres. Não é à toa que, hoje, se indagamos “como vai?” a uma pessoa, a resposta é sempre algo como: “Ocupada”. “Ocupadíssima.” “Insanamente ocupada.” Ninguém mais está apenas bem… Quando não é no trabalho, as mulheres estão superatarefadas se exercitando na academia, levando os filhos para mil aulas e atividades ou fazendo qualquer outra coisa.
Não existem mais momentos calmos para a reflexão. E, quando uma brecha se abre no meio do dia, na fila do supermercado ou no trânsito parado, não aproveitamos: pegamos logo o celular. Pesquisas investigam os benefícios de aquietar a mente, mas também o tamanho do desafio que é conseguir fazer isso nos dias atuais. As pessoas têm dificuldade em ficar consigo mesmas. Assim, mantêm-se sempre entretidas com algo, não importa quanto a falta de pausas seja nefasta. A nova geração é até chamada the heads down generation, expressão que se refere ao fato de a maioria estar indefinidamente com a cabeça para baixo olhando o smartphone, o tablet ou a tela de um laptop.
Como costumo dizer, nós, seres humanos, temos o instinto de rebanho. Gostamos de repetir o que todos fazem e de permanecer na manada. Se eventualmente ficamos sozinhos, é mais comum entrarmos em contato com o lado negativo da nossa vida, criando dramas sem fim. Embora nosso papel principal na vida seja solucionar os próprios problemas, e não perpetuá-los, seguimos um caminho tortuoso que resulta em tanta ruminação e tanta insônia. É que se forma um terrível círculo vicioso: como tendemos a pensar mais no lado ruim das coisas, preferimos nos ocupar permanentemente, em vez de nos permitirmos ficar à toa e acabar pensando… Entendeu o jogo da mente?
Na realidade, se não houver tempo para refletirmos sobre nossas questões, não poderemos resolvê-las, e elas continuarão nos assombrando como fantasmas. Por outro lado, uma mente capaz de se aquietar é mais criativa até para arranjar soluções para os problemas. Estamos, porém, viciados em pressa e rapidez. Quanto mais ligeiro, melhor. A crença predominante é a de que pensar ou sentir não nos levará a lugar algum. Mas digo que é justamente o contrário. Se tentamos ignorar, evitar ou suprimir sentimentos e pensamentos negativos, fazemos com que eles adquiram ainda mais força. E acabamos ocupando demais a mente com tais questões, o que pode fazer mal, causando compulsões e obsessões, ansiedade, depressão e ataques de pânico. Sem falar de eczemas, episódios de asma, inflamações, baixas de imunidade e dores de cabeça.
Por tudo isso, organizo periodicamente workshops em paraísos que oferecem condições para desfrutar a integração com a natureza e o silêncio. Neles, mostro quanto é importante entrar em contato consigo mesma, falo do poder do ócio criativo e da reflexão, ensino a incorporar pausas milagrosas na rotina. O próximo será no último fim de semana deste mês, no Txai, um resort em Itacaré, na Bahia. Meu objetivo é oferecer a oportunidade de tentar algo novo: transformar o círculo vicioso da correria em um círculo virtuoso de paz, harmonia, alegria e amor! Você também pode bolar suas formas de alcançar o mesmo. Seu eu interior, sem dúvida, agradecerá!
Márcia De Luca é especialista em ioga, meditação e ayurveda e uma das idealizadoras do movimento Yoga pela Paz. Em seus textos, tenta mostrar caminhos que integram corpo, mente e espírito. |