Filha adotiva de Damares foi levada irregularmente, dizem índios
Revista ouviu indígenas do Xingu que afirmam que Lulu saiu da aldeia para um tratamento dentário e nunca mais voltou a viver com a família biológica
A revista Época desta semana relata a história de Kajutiti Lulu Kamayurá, garota de origem indígena criada por Damares Alves, atual ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. Os índios da aldeia Kamayurá, na reserva do Xingu, no Mato Grosso, afirmaram à publicação que Lulu, à época com seis anos, foi levada irregularmente da tribo.
Damares apresenta a jovem, hoje com 20 anos, como sua filha adotiva. A adoção, no entanto, nunca foi formalizada legalmente. Os indígenas contam que Lulu foi levada da aldeia pela amiga de Damares, Márcia Suzuki, sob o pretexto de um tratamento dentário, mas nunca mais retornou para viver com a família.
“Chorei, e Lulu estava chorando também por deixar a avó. Márcia levou na marra. Disse que ia mandar de volta, que quando entrasse de férias ia mandar aqui. Cadê?”, disse uma indígena ouvida pela reportagem.
A revista conversou com Damares sobre o assunto e ela afirmou que Lulu vê a família biológica regularmente. “Ela deixou o local com a família e jamais perdeu o contato com seus parentes biológicos.”
Segundo os moradores da aldeia, no entanto, Lulu só voltou ao lugar onde nasceu após dois anos. Damares não respondeu sobre o motivo de não ter adotado Lulu formalmente, diz a reportagem de Época.
Para estar de acordo com a lei, a adoção de uma criança indígena precisa passar pelo crivo da Justiça Federal e comum, diz a revista. A adoção, guarda ou tutela também dependem do aval da Funai.
Segundo os indígenas, a mãe de Lulu não teria condições de cuidar da criança. O tio dela teve a ideia de deixá-la sob os cuidados da avó paterna, Tanumakaru. Com escassez de alimentos e remédios, Lulu chegou a ficar desnutrida. Depois que se recuperou, ficou com a dentição torta por conta da mamadeira.
Em 2013, durante um culto, Damares disse que Lulu foi salva de infanticídio, que era maltratada pela miséria dos kamayurás e que a menina seria escrava do próprio povo. A ministra fundou com Marcia Suzuki a ONG Atini, cuja bandeira é salvar crianças indígenas do infanticídio.
Nas redes sociais, circulam vídeos dizendo que a reportagem entrou na aldeia irregularmente e que foi expulsa pelos índios. A repórter Natália Portinari, que assina a reportagem junto com Vinicius Sassini, desmente as afirmações. “É mentira, é claro. A coordenação autorizou nossa entrada, temos tudo documentado com gravações. Fomos bem recebidos. Os kamayurá quiseram falar com a gente”, disse.
Sobre a alegações de que a ministra teria salvado Lulu de um suposta sacrifício, a repórter disse que “Lulu foi adotada aos 6 anos. é preciso que fique claro: Lulu não foi salva de ser enterrada por Damares. Isso só ocorre com recém-nascidos”.