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Estreia do novo filme de Regina Casé é marcada por machismo e grosseria

Durante a apresentação do longa, em Recife, dois cineastas atrapalharam o evento com comentários sexistas e desrespeitosos. Entenda o caso

Por Stephanie Bevilaqua (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 21h54 - Publicado em 31 ago 2015, 11h45
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O debate do último sábado, 29, sobre o mais novo trabalho da cineasta Anna Muylaert, o filme protagonizado por Regina Casé, “Que Horas Ela Volta?”, contou com a desagradável presença de dois colegas de Anna: Claudio Assis e Lírio Ferreira. Os reconhecidos diretores do cinema pernambucano, (“A Febre do Rato” e “Sangue Azul”, respectivamente) chegaram visivelmente bêbados e tiveram uma postura repugnante no museu em Recife aconteceu a exibição.

“Claudio ‘mandou’ Anna sentar onde ele queria que ela sentasse. Chamou a atriz protagonista do filme de ‘gorda’. Lírio, por sua vez, praticamente impediu que o debate fosse realizado. Interrompia as falas da diretora, interrompia as falas de quem fazia perguntas a ela.”, conta a jornalista pernambucana em sua conta no Facebook.

E ela completa: “A pontuar que quando fiz um comentário justo sobre esse protagonismo das mulheres no filme e falei sobre o absurdo de ver um jornalista da Folha de S. Paulo escrever que mulheres diretoras costumam ser ‘histéricas’, Lírio, que estava um pouco atrás de mim, falou baixo (mas um baixo suficiente para que eu o escutasse): ‘e são mesmo'”.

“O que tinha acabado de ser projetado naquela sala de cinema era um filme sobre protagonismo feminino, sobre dar à mulher o lugar de fala que historicamente lhe foi negado. E aí o filme acaba, se acendem as luzes da vida tal como ela é e neste momento surgem dois homens para interromper a fala de uma mulher diretora. Não importa o quanto eles gostaram do filme, ou do quanto estariam lá porque era amigos dela. O fato é que: eles reproduziram exatamente o machismo do qual a própria Anna, sendo mulher e realizadora de cinema, certamente sempre sofreu (e, como se vê, ainda sofre).”

Lírio Ferreira também se manifestou e pediu desculpas: “O que aconteceu foi que eu saí num sábado à noite para prestigiar a estreia do filme de minha querida amiga, bêbado”. Até quando vamos colocar na conta do álcool essa tremenda falta de respeito? Machismo e misoginia são assuntos sérios que devem sim ser debatidos e condenados.

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Pelo Facebook, Anna também comentou o episódio, a partir da postagem do diretor de arte Thales Junqueira: “Gente, foi foda, foi infantil. A gente tentou controlar com respeito. A questão é: porque alguns homens não SABEM ficar à sombra? Tem que estar sempre NO CENTRO? Era isso também o que eu falava ontem sobre o homem aprender a atuar no seu lado feminino. Por que alguém tem que brilhar sempre? Por que sempre YANG? Essa desvalorização do lado YIN , do lado silencioso do ser? Isso leva a decadência! Ninguém pode brilhar 100% do tempo. Pode parecer estranho mas essa infantilidade, ao meu ver, é talvez uma das grandes fontes originais da mente machista.”

Em nota, a Fundação Joaquim Nabuco, local onde o filme foi exibido, declarou:

“A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) informa que, diante do comportamento lamentável dos cineastas Cláudio Assis e Lírio Ferreira no Cinema do Museu, no último sábado (29), não permitirá qualquer evento envolvendo os dois realizadores, e suas respectivas produções, em qualquer espaço da Fundaj”. A punição tem validade por um ano.

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“Que Horas Ela Volta?” é o mais novo trabalho da cineasta Anna Muylaert que vem ganhando a crítica mundial e, inclusive, uma das apostas de indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Não é à toa que todos os holofotes estejam sobre Anna. Reconhecida por clássicos da TV Cultura como “Castelo Rá- Tim-Bum” e “O Mundo da Lua”, a diretora traz à tona a desigualdade social em seu filme. Vale a pena conferir!

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