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Entra Temer. As mulheres saem

Nenhuma brasileira serve para Temer. Não há sequer uma mulher no seu démodé e requentado ministério

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 out 2016, 14h33 - Publicado em 12 Maio 2016, 16h34
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil (/)
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O presidente interino Michel Temer queria fazer uma média com as mulheres. Pensou na deputada de primeiro mandato Retana Abreu (PTN) para compor seu ministério. Recuou porque ela não resolveria seu problema. Como a usaria para afagar as mulheres se Renata trafegou na contramão ao alinhar-se à bancada evangélica na proposta que dificultaria o aborto fruto de estupro, permitido por lei desde 1941? Outro nome, Ellen Gracie, que integrou o Supremo, não se interessou por uma vaga na turma de Michel revelada hoje. Ele não reconhece uma boa política nos quadros femininos ou todas se negaram a um mandato tomado a fórceps.

Queiramos ou não, é esse o primeiro escalão que conduzirá nossos destinos pelos próximos dias. Sem a menor sensibilidade para as questões de gênero – afinidade zero com as pautas das mulheres –, ignorando que somos 52% da população, mais de 40% da força de trabalho e chefes de 40% das famílias. Na verdade, no escopo do ministério não há um só homem que represente voz de avanço no combate ao sexismo, ao racismo e ao desrespeito aos direitos humanos. A análise não é difícil porque todos são figurinhas carimbadas em governos passados e de opiniões muito conhecidas.

Assim que Dilma Rousseff deixou o Palácio do Planalto no fim da manhã de hoje, ficou evidente como os homens são os proprietários da política – eles não iriam entregar assim, tão facilmente. Na CBN, o âncora Carlos Alberto Sardenberg perguntou ao comentarista Merval Pereira o que ele tinha achado do “discurso agressivo” de Dilma. Merval concordou que fora “muito agressivo”. Queriam o quê? Choro? Mimimi? Na boca de um macho, teria sido considerado um discurso corajoso, altivo, assertivo, contundente e de autodefesa. Vindo de uma mulher, é feio, inadequado, não pode. Merval comentou a gafe de Michel em não chamar mulheres para pilotar com ele os 180 dias. E, de novo, ranço. “Temer deveria chamar pelo menos uma”, traiu-se Merval. Qualquer uma? A cerejinha do bolo, a flor, o vasinho de cheiro… Só para edulcorar.

Ocorreram inúmeras análises no rádio, na TV, nos sites e blogs sobre o quanto “pega mal” para o Brasil ter uma mulher conclamando resistência e gritando: “Golpe!”. Segundo esses comentaristas, na comunidade internacional a atitude de Dilma “difama o país”, “é ruim”, “denigre a nossa imagem”. Faz lembrar a imprensa americana condenando de forma idêntica Martin Luther King, que com seus discursos inflamados e de alta combustão incensava os negros segregados a reagir contra um país que os tratava como um câncer ou um cão sem dono. Era péssimo para os Estados Unidos de então, para os brancos que não queriam perder privilégios.

Mas não ficou mal para nós a presidente ter sido xingada de vaca e puta aos olhos da multidão internacional que assistia à Copa do Mundo em 2014. Nem pareceu estranho retratá-la com as pernas abertas, numa montagem grotesca, para um adesivo de carro. Ou vesti-la de presidiária. 

Talvez eu não seja uma boa companhia hoje. Estou indignada. Pode demorar 100 anos para uma mulher voltar ao Palácio do Planalto. Por mais enredada que seja a questão política – e com um roteiro perverso que só se vai entender melhor com o vingar da história –, lamento profundamente que o primeiro governo liderado por uma brasileira acabe dessa forma.

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