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Em livro e documentário, professora retrata a vida dos seresteiros que sofrem com a seca do Rio São Francisco

“É a única maneira de quem é de fora enxergar o valor da água e a urgência em tentar reverter o problema”, afirma Patricia Pacini, cujo grande sonho é ver as margens do Velho Chico reflorestadas.

Por Victória Della Manna (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 19h37 - Publicado em 4 jan 2016, 16h41
Fernanda Frazão
Fernanda Frazão (/)
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O Velho Chico já foi personagem da literatura, da música e da poesia nacionais. Tama­nha popularidade se dá pela sua enorme importância ambiental e social. O rio tem quase 3 mil quilômetros de extensão e atravessa cinco estados, garantindo a sobrevivência de milhares de pessoas que moram às suas margens. Mas a paisagem que inspirou Guimarães Rosa e foi cantada por Luiz Gon­zaga já não existe mais: anos de intervenção humana levaram à estiagem e, consequentemente, à extinção de espécies e à morte de ecossistemas. Quem dá o alerta da situação desastrosa é a historiadora e educadora Patricia Pacini, 52 anos. Ávida por explorar o interior do país, em 2014 ela passou 15 dias registrando em vídeo e texto relatos e memórias do povo que depende do São Francisco e precisa salvá-lo. Foi assim que nasceu o livro Opará (Matrix), nome pelo qual o rio é conhecido entre os indígenas, e o documentário Seresteiros do Rio São Francisco. “É a única maneira de quem é de fora enxergar o valor da água e a urgência em tentar reverter o problema”, afirma Patricia, cujo grande sonho é ver as margens do Velho Chico reflorestadas.

Além de provocar desemprego e fome aos ribeirinhos, o rio seco também gera um grave efeito emocional. Havia na região a tradição de colocar o pé na água para acabar com a tristeza. Hoje, os pontos secos dificultam até mesmo que a correnteza leve embora essas dores. “Os ribeirinhos são muito afetivos. Elogiei o sapato de uma menina e ela o tirou para me dar”, lembra a paulistana. São cenas como essa que dão força a ela para continuar lutando. “Foi um alívio encontrar gente assim e ver que ainda há muito amor no mundo”, conta. Patricia herdou do pai, que percorria o Brasil vendendo caminhões, o prazer de viajar para lugares distantes.

Mesmo pequena, ela costumava acompanhá-lo em alguns trajetos e lembra de ter ficado impressionada com a pobreza de certos povoados. Daí nasceu seu desejo de ajudar o outro. Por isso, ela já se prepara para dar continuidade ao projeto. Em fevereiro, passará dez dias coletando relatos da tribo dos cariris-xocós, também às margens do São Francisco, entre Alagoas e Sergipe, para outro livro. “É por meio da cultura que a conscientização acontece”, conclui.

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