Em busca da iluminação
Nossa colunista Marcela Leal foi até a Índia tentar atingir a iluminação... Mas a experiência não deu muito certo, não. Confira!
Quando comecei minhas primeiras incursões pelo mundo da espiritualidade, fiz como todo mundo: comecei pelo clichê. Preenchi um cheque gordo e dei na mão de um agente de viagens, que me botou num tour pela Índia. Eu via fotos das pessoas meditando por lá e pensava: “Quero ficar assim! Eles é que são felizes, e não eu que fico aqui assistindo seriado, tomando sorvete no pote e sofrendo o relacionamento amoroso fracassado.” Eu achava que eu iria encontrar Deus lá, achava que Ele iria me olhar e falar: “Até que enfim tomou vergonha na cara!”. Achava que eu ia ter alguma espécie de êxtase quando chegasse à frente do rio Ganges, o rio sagrado deles. Talvez um raio caísse na minha cabeça como aconteceu com Thomaz Green Morton em 79 e a partir daí minhas mãos começariam a verter um óleo perfumado cada vez que tocasse em alguém. Enfim, juntei na minha mente tudo isso e mais o que vi no filme Comer, Rezar, Amar e achei que meu destino nesta viagem seria o mesmo da Julia Roberts. Parti em busca de felicidade e iluminação.
Dizem que a etapa final na busca pela verdade, meditando ou dentro de alguma prática espiritual, é “atingir a iluminação”, ou seja, ficar tão cheio de paz, tão pleno, que você vira um ser “iluminado”. Como eu não entendia nada sobre o assunto, pra mim, atingir a iluminação era dar com a cabeça no poste.
Chegando lá na Índia, fui visitar a Guru dos Abraços, cujo abraço é tão amoroso que te possibilita acessar o sentimento de amor incondicional. Ela é linda e tem um olhar brilhante e acolhedor. Queria muito ganhar o abraço dela. Fiquei doze horas na fila e, a cada hora esperando em pé, minha irritação aumentava. Resumindo: Fiquei tão desgraçada da cabeça que na hora do abraço eu nem olhei pra cara dela, só pensava: “Me dá logo essa porcaria de abraço que eu quero ir ao banheiro!”. Aliás, Deus não só não me recepcionou na minha chegada a Índia como, neste momento, provavelmente fingia que não me conhecia.
Também visitei um Ashram, um local tranquilo, de retiro, onde as pessoas meditam e tentam limpar a mente dos problemas do mundo. Lá, tentei praticar meditação com o auxílio de um professor que me pedia para me concentrar na minha respiração. Quanto mais eu tentava me concentrar, mais a minha mente vagava em pensamentos “profundos” do tipo: “Quem será que se classificou para a final na Dança dos Famosos?” ou “Por que minha mãe bota coentro no Chuchu?”.
E, por falar em chuchu, a comida era boa, mas não pra quem tem amor à vida. Nunca entendi o porquê de tanta pimenta. O que eles chamam de hábitos culturais, eu chamo de masoquismo. Provavelmente passarei as próximas encarnações sem poder ouvir falar em pimenta. A comida tinha pimenta, a bebida tinha pimenta e no réveillon as crianças se vestiam de pimenta. Mas, enfim, hábitos culturais são hábitos culturais. Imagino que, neste mesmo momento, algum indiano que tenha visitado o Brasil esteja nos amaldiçoando pra sua família vegana: “Meu Deus do céu! Eles picam um porco, misturam com orelha e tudo no feijão e mastigam aquilo! Como conseguem?”.
Também fiz um curso de Yoga em Rishikesh. Descobri que nunca tinha respirado na vida e, segundo o meu instrutor, eu tinha o alongamento do Homem de Lata. Ao fazer um movimento simples do tipo “levar as mãos até os pés”, meu ciático pinçou e permaneceu assim até o final da viagem.
Acabei voltando para o Brasil sem atingir a iluminação, mas, com essa viagem, entendi que a experiência depende do nosso estado mental. Quem dá realmente o tom do cenário sou eu. Na época eu não estava bem e olhava para tudo à minha volta com essas lentes de pessimismo. Hoje, na minha sala, em São Paulo, me sinto muito mais em paz do que naquela viagem. Continuo meditando, em casa mesmo, e descobri que não preciso de guru e nem de mantras, só preciso de mim. Dentro de todos nós existe uma forma de acessar a paz e se você desejar verdadeiramente vai encontrar.