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Danuza Leão: “Perca o medo de escrever e faça um diário para se descobrir em 2015”

Não se envergonhe. Não importa se você não escreve bem ou se não domina as regras de acentuação. Você só precisa de um caderninho e uma caneta para começar a se entender melhor.

Por Danuza Leão (colunista)
Atualizado em 22 out 2016, 20h01 - Publicado em 6 jan 2015, 06h00
iStock/Thinkstock/Getty Images
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Escrever. Todo mundo devia escrever uma ou duas páginas por dia ou, pelo menos, todo fim de semana contando como têm sido seus dias, falando sobre sua vida, suas alegrias, tristezas, decepções, felicidades. Para isso, não é preciso saber escrever. Seria uma espécie de diário, para ler daqui a 20 ou 30 anos, que no futuro poderia ser encontrado por um neto ou bisneto. Eles, sabendo mais sobre suas origens, como foram seus pais e avós, talvez compreendessem melhor por que são como são.

Bastam um caderno e uma esferográfica – e uma gaveta com chave, pois essas confissões só devem ser lidas pelos outros com a permissão de quem escreveu, a não ser que já tenha morrido. E pense um pouco: você deve ter passado por coisas que prefere não lembrar, que estão lá dentro contidas, reprimidas, e que acha que até já esqueceu, uma vez que não pensa nelas – quem não passou por isso? Não pensa, mas elas estão lá, travando seus atos, impedindo que você seja livre de certos bloqueios e possa, consequentemente, ser mais feliz.

Escreva e escreva, pois escrever faz bem. Falar, seja com a melhor amiga, um padre, seja com o psicanalista, não é suficiente. Falar toda a verdade, sem nenhuma censura, com sinceridade total, só se consegue consigo mesma e quando se tem coragem.

Fácil não é. E, se certos acontecimentos são difíceis de ser lembrados, mais difícil ainda é colocá-los no papel. Mas é só no início. Depois dos primeiros dias, vai se tornar um hábito, como se estivesse conversando com você mesma, porque ninguém tem mais capacidade para entender por que fez certas coisas, praticou atos que foram censurados pelos amigos e pela família, do que você. Só você, e mais ninguém. À medida que as lembranças mais difíceis vão sendo escritas, mais coragem você vai ter para continuar escrevendo e, pouco a pouco, perceberá que está mudando.

Os fatos mais dolorosos, nos quais não conseguia nem pensar, irão se tornando mais leves e, consequentemente, você ficará cada vez mais leve. E perceberá que, sem o peso que carregou durante tanto tempo lá no fundo de si mesma, é como se tivesse se libertado. Não se esquecerá das tristezas pelas quais passou, mas conseguirá olhá-las de frente. Não há esforço maior do que o de não querer pensar numa coisa, achando que assim vai evitar o sofrimento. Escreva para você sem esconder nada, sem nenhum pudor de confessar os vexames pelos quais passou, as tristezas e até os momentos de glória – que são impossíveis de contar, até porque estes ninguém está interessado em ouvir.

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Vá por mim: escrevendo, você conseguirá mudar. Quando não houver mais áreas obscuras na sua vida, aquelas que você nem sabia que eram tão pesadas e a impediam de usufruir de todos os momentos como eles merecem ser vividos, irá se sentir bem. Vá, escreva. Não tenha medo de não conhecer bem o português ou de não saber botar todas as crases no lugar certo. Nada disso tem a menor importância. Pode acreditar: aconteceu comigo, e a vida hoje me parece muito, mas muito melhor do que era.

Eu me libertei – não das minhas lembranças, mas dos meus fantasmas, e tenho a consciência de ser uma nova pessoa, uma pessoa que tem muito mais prazer em viver do que tinha antes de escrever.

E não é isso que mais se quer?

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