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Danuza Leão: os melhores momentos verdadeiros das nossas vidas

A escritora e colunista de CLAUDIA nos conta o dia em que ficou sem celular em um país estrangeiro e como essa e outras experiências podem se tornar grandes momentos memoráveis.

Por Danuza Leão (colunista)
Atualizado em 22 out 2016, 17h49 - Publicado em 9 set 2014, 22h00

Outro dia, numa dessas conversas sem compromisso, inventadas para fingir que não existem as duras realidades, a brincadeira era cada um de nós contar os melhores momentos que já tínhamos tido na vida. Quando chegou minha hora, disse que foram muitos, tantos que a resposta ia ser grande – e foi. Tive que refrescar a memória, pois dos piores a gente se lembra logo, mas dos melhores é preciso algum tempo, o que não deixa de ser injusto. Isso aconteceu depois de um almoço de domingo. Não havia pressa alguma e, quando vi, estava contando uns episódios da infância, outros da vida adulta, alguns até românticos, veja você. Nenhum deles dava um livro, nem um conto de duas páginas, mas estavam guardados – ou esquecidos – dentro de mim; afinal, eles são minha grande riqueza.

Voltei para casa e, já sozinha, recomecei a pensar nas minhas horas mais felizes. Então, me surpreendi lembrando de momentos totalmente diferentes daqueles que eu havia relatado antes. Quais seriam os mais verdadeiros? Vou contar o mais recente, até porque os outros, tirando a geografia, o ano em que aconteceram e certos detalhes sem tanta importância, foram absolutamente iguais no seu significado.

Era verão e eu estava em Londres, cidade que conhecia mal. Não conseguia me situar, saber para que lado ir, me sentia sempre perdida. Para complicar, falo mal a língua, o que costuma me dar a sensação de ser uma completa estrangeira. Nessa viagem, houve também algo que poderia ter sido um problema, mas não foi, muito pelo contrário: esqueci meu celular em Paris. Como ficaria cinco ou seis dias e não iria precisar ligar para o Brasil, relaxei. Relaxei e me dei conta de que ninguém no mundo inteiro sabia onde eu estava. Nem em que país, nem em que cidade, nem em que hotel. Eu estava fora do alcance de tudo e todos, absolutamente incomunicável.

Nada poderia me atingir, eu pensei, e, em seguida, me senti livre, livre como nunca havia me sentido – e olha que não sou nada presa às chamadas convenções. Foi tamanha a felicidade que experimentei – não, a palavra felicidade não é suficiente. Foi como uma comunicação profunda comigo mesma, uma liberdade plena e total de existir, sem depender de nada nem de ninguém, uma sensação do poder completo, no mais alto dos níveis. Eu estava (ou me achava) inacessível, para o bem ou para o mal.

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É claro que isso não aconteceu em todos os momentos de todos os dias que passei por lá. Acho até que na hora nem me dei conta direito do que estava sentindo. Só fui perceber passado algum tempo. Tive consciência apenas depois do tal domingo da tal conversa, mas já sozinha, já em casa. Quanta loucura: saber que me senti dessa maneira somente anos mais tarde. Mas valeu.

Tenho o hábito de, nos maus momentos, quando parece que tudo vai dar errado e não há solução para nada, lembrar de sensações semelhantes, vividas numa praia do Ceará ou dentro de um avião, o que me dá a certeza de que aquilo vai passar. Agora, vou me lembrar também de Londres, porque, no fundo, tudo é bem parecido. E vou resistir à tentação de voltar ali em algum outro verão, à procura do que já foi, pois nenhum tipo de volta dá certo. E sentir-se só no mundo não é tão ruim como dizem; pode ser, até, um grande momento.

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