Conheça Jessica Nabongo, primeira negra a visitar todos os países do mundo
Conversamos com a americana de 35 anos que é filha de ugandenses e conheceu 195 países
O termo alemão wanderlust é traduzido como aquele desejo incontrolável de viajar. Para Jessica Nabongo, essa vontade de transitar pelo mundo vem desde a infância. Mas o que para muita gente é hobby, para a norte-americana se transformou em um grande feito: aos 35 anos, ela acaba de se tornar a primeira mulher negra documentada a viajar por todos os países do mundo.
A jovem nasceu em Detroit e é cidadã ugandense-americana. Em meados dos anos 1950, seu pai recebeu uma bolsa para estudar no oeste de Michigan. Um tempo depois retornou à Uganda, seu país de origem, e por lá atuou como professor de química, biologia e física. Nesse meio tempo também conheceu sua futura esposa. Em 1969, o casal se mudou permanentemente para os Estados Unidos e tiveram Jessica e mais duas meninas.
Durante a infância e adolescência, Jessica e as irmãs foram incentivadas pelos pais a desenvolverem as mais diversas habilidades, de balé a aulas de pré-engenharia. Jessica conta que, no melhor dos sentidos, seus pais nunca lhe deram limites, e esse sentimento de que nada é impossível permeou, até então, todas as suas escolhas na vida.
Desde pequenas, Jessica e as irmãs foram acostumadas a viajar; e as férias nunca eram “logo ali”. Antes mesmo de se formar no Ensino Médio, já haviam conhecido o Canadá, Reino Unido, Uganda, Jamaica, Ilhas Cayman, México e Bahamas, além de mais de 10 estados norte-americanos. “Eu viajo para destinos internacionais desde que tenho 4 anos de idade. Meus pais sempre amaram viajar e me levavam para todos os lugares com minhas irmãs. Quando eu concluí o colégio, já tinha viajado para 8 países”, conta.
As recordações da primeira viagem, ao Canadá, não são muito claras. Afinal, Jessica tinha apenas 4 anos no seu primeiro destino internacional. E aos 6 anos foi “para casa, visitar a família”, como seu próprio pai definiu a viagem que a família faria para Uganda, pela primeira vez com todos juntos. Das viagens da infância, a memória era a diversão de estar num avião, e especificamente de Uganda, a lembrança é repleta de afeto. “Não foi como estar num pais estrangeiro, era como estar em casa”, relembra.
“Meus pais normalizavam as viagens com antecedência. Eles nunca fizeram de viajar uma grande coisa. Era como: ‘É verão, vamos para o México’. Não era algo para se temer”, conta.
Essa normalidade em encarar viagens pelo mundo foi um dos fatores levados em conta na hora de decidir seus próximos passos. Aos vinte e poucos anos, insatisfeita com sua rotina, deixou o alto salário do cargo numa companhia farmacêutica e colocou seu apartamento para alugar. Decidiu então se mudar para o Japão e por lá atuou como professora de inglês por um ano. Foi aí que teve um estalo e decidiu conhecer outras partes do mundo em vez de voltar para casa.
Aos 26 anos, concluiu uma graduação em Desenvolvimento Internacional na London School of Economics. Em seguida veio o emprego em tempo integral nas Nações Unidas, que a levou para morar em países como Benin (país da região ocidental da África) e Itália.
A decisão oficial de viajar o mundo foi feita em 2017, época em que tinha visitado “somente” 60 países de um total de 195. Entre os destinos, ela aponta o Uzbequistão como o mais surpreendente. “Não é que eu tinha pensamentos negativos sobre o país, mas não esperava nada muito incrível. Não é um lugar que você imagina que terá algo surpreendente. Mas amei as pessoas e achei tudo muito colorido”, explica a executiva.
PASSAGEM PELO BRASIL
Sobre a viagem ao Brasil, Jessica se empolga ao contar sobre suas duas passagens por aqui. “É muito difícil escolher um país favorito, pois sou muito sortuda em ter tantas experiências. Mas certamente posso fala do Brasil, que foi meu país número 36. Só pude pensar em como os brasileiros são sortudos! Muita gente me falou sobre o Rio de Janeiro ser perigoso, mas achei maravilhoso, fui sozinha e as pessoas foram muito prestativas, não tive qualquer problema. Já na segunda vez fui para Salvador com meus amigos, comi algo delicioso, é moqueca!”, conta animada.
Com mais de 170 mil seguidores no Instagram (@thecatchmeifyoucan), Jessica recusa o título de influenciadora, se considerando apenas uma apaixonada por viagens que acabou atraindo muita gente com o mesmo interesse. Por muito tempo, ela financiou seu estilo de vida através do dinheiro que recebia do aluguel de seu apartamento em Detroit e de economias que obteve de seus trabalhos anteriores. Jessica hoje trabalha com parcerias que a ajudam a se manter, e costuma sempre compartilhar com seu seguidores alguns dos gastos de suas viagens.
Entretanto, sua principal fonte de renda é a Jet Black, uma agência boutique fundada por ela em 2015. O principal objetivo da empresa é dar aos viajantes a experiência real de como é viver como um local. Cerca de 60% das viagens da agência são em grupos, a exemplo do retiro para a Colômbia e das aventuras pelo Senegal.
Seu último destino foi Seychelles, arquipélago na África Oriental, no dia 6 de outubro. A data, programada com muita antecedência, tem um significado especial para Jessica: o aniversário de seu pai. Ele faleceu há 16 anos e, segundo a viajante, a data foi uma forma de incluí-lo em sua jornada.
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