Conheça a história da peruana que mudou a vida de centenas de pessoas na Amazônia
Ao incentivar o extrativismo sustentável na Amazônia, Guadalupe Lanao ajudou muitas pessoas
Quando se formou em administração de empresas e contabilidade, a peruana Guadalupe Lanao, 52 anos, tinha um único objetivo: gerir um negócio cujas metas econômicas andassem junto com as sociais e as ambientais. Lupe, como prefere ser chamada, queria usar seu conhecimento para fazer algo que aproximasse a geração de valor da distribuição. Desse desejo, nasceu, há 25 anos, a Candela Perú, empresa que comercializa produtos orgânicos da biodiversidade amazônica, como a castanha-do-pará e o óleo de coco, para fins alimentício e cosmético. Com foco no extrativismo sustentável – em uma época em que os termos sustentabilidade e responsabilidade ambiental ainda eram pouco conhecidos –, ela passou a trabalhar diretamente com os pequenos produtores da região de Lago Valencia, no Peru. “Sempre acreditei no poder e na dignidade das pessoas, o que reflete diretamente no meu trabalho e na maneira como enxergo o mundo”, disse Lupe a CLAUDIA.
Aos poucos, ela foi criando ali uma cadeia pautada pelo chamado comércio justo, que visa proporcionar melhores condições de troca, remuneração apropriada e garantia de direitos para produtores e trabalhadores rurais. Dessa forma, ajudou a desenvolver uma comunidade cada vez mais organizada. Antes restritas aos papéis de mãe e esposa, as mulheres passaram a ocupar espaço relevante na cadeia produtiva: elas representam, hoje, 75% dos trabalhadores da Candela. Lupe, no entanto, não se limita a administrar a empresa. “Vivo buscando que essas pessoas se conheçam melhor, amem a si mesmas e percebam seus valores”, conta. Por isso, criou um programa para ensinar aos extrativistas boas práticas socioambientais (como a colheita consciente, o limite à caça, ainda presente na região, e a redução ao desmatamento). Foi assim que conseguiu, dois anos depois da criação da Candela, fechar contrato com grandes empresas. Além de marcas peruanas de alimentos orgânicos, como a Muccha, de chocolates, seus produtos são comercializados, atualmente, para a inglesa The Body Shop, que utiliza ingredientes de comunidades locais de diferentes regiões do mundo na fabricação de seus cosméticos. No total, só para esta última a Candela já forneceu mais de 30 toneladas de óleo de castanha – o que ajudou a garantir o sustento de 158 famílias.
Uma delas é a da peruana Elda Vera. Elda cresceu vendo o pai trabalhar no extrativismo de castanha – atividade que seguiria –, mas em situação bem mais dura que a dela: a entressafra era uma fase de muitas privações; o acesso aos compradores, cheio de barreiras; e a venda, feita a preços irrisórios. Hoje, líder de uma concessão de castanheiras na amazônia peruana, Elda participa de treinamentos de certificação orgânica e de liderança, recebe adiantamentos entre uma safra e outra para garantir o sustento da família ao longo de todo o ano e viaja pelo mundo em feiras e eventos de alimentação orgânica. “Fico muito orgulhosa de saber que cada castanha que colhemos aqui colabora para a saúde e a qualidade da alimentação de outras pessoas, além de ser transformada em cosméticos, que chegam às casas de mulheres do mundo inteiro”, diz, cheia de satisfação.