“Casei quando tinha apenas 15 anos. Me redescobri como mulher após a separação”
Divorciada, sem emprego e mãe de cinco filhos termina os estudos e dá a volta por cima
No dia que o marido de Dominícia Alves Ribeiro de Camargo saiu de casa para nunca mais voltar, ela se arrependeu de ter pedido demissão do seu emprego. Tornar-se “do lar” nunca passou pela sua cabeça. Com cinco filhos para alimentar e uma casa em construção, o jeito era ganhar dinheiro. Trabalhou por muitos anos como auxiliar de limpeza e operadora de caixa em um supermercado. Até que o marido a convenceu a ser única e exclusivamente dona de casa. Após dois anos, ele pediu o divórcio, no ano de 1994. “Fiquei sozinha com os meus cinco filhos e desempregada. Na época eu quase morri. Mas hoje a gente sorri.”
O casamento durou 22 anos e a tristeza, segundo ela, exatos oito meses. Recriou-se para cuidar da prole e quitar as dívidas acumuladas. “Eu ergui a cabeça e dei a volta por cima. Casei quando tinha apenas 15 anos. Me redescobri como mulher após a separação”, revela. O primeiro passo foi encontrar emprego. Por conta da experiência, procurava uma vaga de auxiliar de limpeza, mas logo foi convidada a vender bilhetes em um terminal de ônibus, em São Bernardo do Campo. “Mesmo estudando até a quinta série eu fiz os testes e consegui a vaga”, comemora.
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O Brasil conta com 67 milhões de mães, segundo o Instituto Data Popular. Sendo que 46% delas trabalham e 31% são solteiras, como Dominícia. Motivada por oportunidades de crescimento na empresa, ela matriculou-se em um supletivo aos 38 anos e concluiu o ensino médio. “No começo eu não acreditava em mim. Mas cada exame que passava era uma vitória.” Aproveitou para cuidar da saúde e da beleza enquanto estudava. “Eu era insegura e não conseguia sorrir e conversar com as pessoas”, explica Dominícia, que perdeu os seus primeiros dentes permanentes aos 17 anos. Quando tinha 25 anos comprou uma prótese móvel, peça que encaixa e desencaixa da boca. Mas ainda não era o bastante. Em entrevistas de emprego, estava sempre com a mão na boca. “Eu sorria com cuidado, tinha medo que aquilo caísse.”
Há dez anos colocou uma prótese fixa. O procedimento foi realizado em uma rede de consultório que oferece tratamento odontológico a um preço acessível, a Sorridents. “As principais dificuldades para as pessoas irem ao dentista são a cultura e o acesso. Infelizmente mais de 20 milhões de brasileiros nunca foram ao cirurgião dentista e 55% não tem o hábito de ir”, explica Carla Renata Sarni, criadora das clínicas e finalista do Prêmio CLAUDIA, na categoria Negócios.
Com um diploma em mãos, emprego e dentes novos, Dominícia chegou a ocupar um cargo na tesouraria da empresa. Hoje, aos 55 anos, foi demitida e trata de uma tendinite e artrose. “Fico imaginando: o que será da minha vida quando o tratamento acabar?”. Apesar de não saber o que o futuro a reserva, está pronta para reinventar-se. “Eu me sinto mais bonita e confiante”, resume.