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“Assédio sexual é frequente em universidades do país”, afirma pesquisadora

"56% de alunas de graduação e pós disseram já ter sofrido assédio de professores, estudantes e técnicos administrativos", lembra a professora Marcia Barbosa

Por Maria Beatriz Melero Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2018, 16h49 - Publicado em 27 Maio 2018, 16h49

Em um momento em que denúncias de assédio ganham espaço em ambientes profissionais – como os recentes casos de abuso em Hollywood -, a professora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Marcia Barbosa lembra que casos de violência sexual contra a mulher também são muito comuns no ambiente universitário.

Além de seu cargo na UFRGS e de seu posto de membro titular da Academia Brasileira de Ciências, Marcia atua na luta contra o assédio sexual no ambiente acadêmico e pela igualdade de gênero na ciência.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, a pesquisadora explica ter constatado a recorrência de casos de assédio pela procura de mulheres em suas palestras a fim de relatar abusos que sofreram. “Um dos poucos dados que temos sobre o assunto vem de uma pesquisa feita pelo Instituto Avon em 2015, na qual 56% de alunas de graduação e pós disseram já ter sofrido assédio de professores, estudantes e técnicos administrativos.”

Para a professora, muitos casos não vêm à tona por dois motivos: o medo que as vítimas têm de retaliações e o despreparo nos serviço de apoio a elas.”[Medo] de ninguém acreditar nelas, de ficarem marcadas, de terem suas carreiras prejudicadas. Além disso, os órgãos universitários competentes não são preparados para essa tarefa. Eles não conseguem nem fazer a pessoa se sentir confortável para contar um caso de assédio. Outro fator é o ambiente de negação dessa realidade. O professor e a professora corretos, que constituem a maioria dos docentes, em geral não acreditam que um colega seja capaz de assediar alunas ou alunos. Fica parecendo que o problema não existe.”

Entre os impactos destacados na vida de um universitário vítima de assédio está a perda na autoconfiança – característica crucial para quem se dedica às ciências, na opinião da professora. “Como é que você pode acreditar em si mesmo, se a pessoa mais próxima de você, que deveria te formar, te ensinar, deixa claro que o que interessa a ele é o seu corpo?”

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Marcia enfatiza que um de seus maiores medos é que seja necessário um grande escândalo, semelhante ao que acontece nos Estados Unidos envolvendo atores de Hollywood, para que casos de assédio em universidade ganhem visibilidade. “Meu maior temor é que [o silêncio seja rompido] em decorrência de um grande escândalo (…) Enquanto só uma ou outra falar, vão dizer que é mentira, que são loucas, mas quando elas se unirem, quando cinco ou seis se levantarem e acusarem a mesma pessoa, vai se iniciar um processo disruptivo e descontrolado dentro da universidade, algo como o movimento ‘me too’ nos EUA. E junto com os muitos casos verdadeiros, acabarão vindo também os falsos positivos.”

Apesar do receio de vítimas em denunciar seus agressores e da pouca visibilidade que abusos em universidades têm atualmente, Marcia destaca mudanças de comportamento no ambiente acadêmico. “O assédio sempre ocorreu, mas creio que nos últimos tempos as pessoas não têm mais engolido as estruturas de poder que favoreciam essa prática. No caso da universidade, a relação dentro da sala de aula mudou muito. No meu tempo, o que o professor falava era verdade; hoje, os alunos discutem, questionam.”

Para Marcia, uma possível solução para a redução do problema está na melhoria dos serviços de acolhimento às vítimas e em iniciativas que regulamente o assunto. “Precisaria, em primeiro lugar, ter mais do que ouvidorias. Hoje, o trabalho delas se resume a receber uma reclamação e repassar para o diretor da unidade onde ocorreu o caso. Mas esse diretor não é nem um pouco capacitado para resolver questões de recursos humanos. Deveríamos, por exemplo, ter um setor com psicólogos e outros profissionais que tenham treinamento para lidar com pessoas (…) Temos uma série de regras para os dados que produzimos e para os animais que usamos, mas não temos regras para o relacionamento entre as pessoas.”

Leia mais: Assédio sexual e moral no trabalho: como identificar e denunciar?

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