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As mulheres e a dificuldade de levar um fora

Para a nossa editora e colunista Liliane Prata, muitas mulheres aprenderam a tomar a iniciativa, mas é preciso aprender também a lidar com a rejeição

Por Liliane Prata
Atualizado em 27 out 2016, 21h24 - Publicado em 13 jan 2016, 17h42

Em uma edição da COSMO, vizinha de redação aqui da CLAUDIA, li uma matéria sobre relacionamentos que traz depoimentos de caras que, depois de sair com uma mulher uma ou algumas vezes, já sumiram sem dar satisfação. Entre os relatos, está o de Gabriel, 37 anos, professor universitário:

“Faço isso sempre (sumir) e não me sinto culpado. Se nunca prometi nada, não devo explicações, ué. As mulheres somem comigo também e aprendi a lidar. Vou dizer o quê? ´Não é você, sou eu?´, ´Estarei ocupado nos próximos três anos?´, `Vivemos em mundos diferentes?’ (…). A última vez que tentei terminar foi com uma amiga colorida. Falei por WhatsApp que não queria um relacionamento. Ela disse `mas só te chamo aqui pra transar, não quero namorar´. Respondi `sei lá, perdi o tesão´. Ela me ligou chorando e me xingando. Desde então prefiro não responder nada.”

Primeiro, pensei: hum, então essa amiga, na verdade, não queria só sexo. Ela estava envolvida. Porém, refletindo melhor, passou o seguinte pela minha cabeça: vai ver ela realmente só queria sexo, mesmo… Mas tinha uma dificuldade enorme de ouvir um “não”.

Ouvir não: não conheço ninguém, homem ou mulher, que goste. Sumir, então, é um dos jeitos mais mal-educados de mostrar que o interesse acabou (a experiência do Gabriel com a amiga dele não foi legal, mas ainda acho que, se alguém te manda uma mensagem, mesmo que você não esteja a fim, deve responder). Porém, uma coisa é, mesmo com o orgulho ferido, aceitar que levou um fora e seguir a vida sem muito drama. Outra coisa é entrar em um túnel de sofrimento e ficar se perguntando o que aconteceu, o que fiz de errado, por que não gostaram de mim, o que fiz para merecer isso etc. Pode ser impressão minha, mas, ao meu redor, percebo que essa angústia faz muito mais parte da agenda das mulheres do que dos homens. O que faz todo o sentido. Afinal, é duro crescer influenciada pela Cinderela e, depois, se dar conta de que as coisas no mundo real são um pouco diferentes.

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Quando eu era criança, sempre escutava um dos meus tios dizer, orgulhoso, que homem que é homem lava o cabelo com sabão. Também cresci ouvindo que novela era coisa de mulher e futebol, de homem. Os tempos mudaram (não para todo mundo, não em todos os lugares, mas mudaram) e, hoje, não falta homem que não só usa condicionador, mas finalizadores variados, e acompanha as novelas, e não gosta de futebol – e tudo bem. Da mesma forma, hoje não falta mulher que, resistindo aos estereótipos e atendendo aos seus desejos, tem uma vida sexual mais livre, menos permeada pela culpa e pela passividade (embora muitas ainda achem que eles é que precisam tomar a iniciativa, então ficam esperando o celular tocar em vez de ligar e jamais dão em cima de alguém). No entanto, é só levar um fora que…

… o lado Cinderela vem à tona, as lágrimas rolam pelo rosto, os pés batem no chão e, se bobear, as tarefas no trabalho e na vida são prejudicadas pela indignação mimada: “Puxa, mas como assim ele não quer ficar comigo?!”.

Cresceu a consciência de que vivemos em uma sociedade machista – que bom. Mas padrões de comportamentos tão arraigados não mudam rapidamente. Quebramos (ou tentamos quebrar) os estereótipos de gênero. Mesmo assim, muitas de nós, embora se sintam bem à vontade para rejeitar quem bem entendem, sofrem absurdamente com a rejeição depois do sexo.

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(Ou antes do sexo, né. Uns dez anos atrás, eu estava com uma amiga, entrando no prédio onde eu morava, quando um vizinho lindo que eu tinha passou pela gente com um amigo. Especialmente empolgadas naquele dia, eu e minha amiga interfonamos na casa dele e perguntamos se os dois não queriam tomar uma cerveja no nosso apartamento. A resposta deles:

– Não, obrigado.)

É chato quando não querem ficar com a gente. Mas já passou o tempo dos contos de fada. Sobrou um espaço não encantado em que, cada vez mais, colocamos nossa individualidade acima do gênero. Só que isso não vale só para as coisas boas, mas para as não tão legais também. E não vale só para a gente, mas para eles – que, além de usar condicionador e ver novela, podem nos dar o fora. Agradável, não é. Mas está longe de ser o fim do mundo. Então, cortemos o drama. Ele não quer você? Nem gaste muitos neurônios tentando entender o que aconteceu. Mais negócio só pensar: bem, acontece.

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Liliane Prata é editora de CLAUDIA e assina esta coluna toda quarta-feira. Para falar com ela, clique aqui.

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