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A vida sem drama

Na nova coluna da Marcela Leal, a maravilha que é deixar no passado nosso lado dramático

Por Marcela Leal (colaborador)
Atualizado em 28 out 2016, 10h45 - Publicado em 14 dez 2015, 13h55
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Quando eu era adolescente, ficava horas na frente do espelho me maquiando e achando defeito no meu rosto. Eu usava tanta maquiagem que ficava parecendo um personagem de Teatro Kabuki japonês. Além do mais, eu sou de Curitiba; a mulher curitibana adora ser meio perua e usa muita maquiagem, para proteger do frio, talvez. E para piorar eu não era só uma mulher curitibana, eu era uma adolescente curitibana. Adolescente, vulgo “drama ambulante”. Cara leitora, faça aí as contas e triplique esse drama por mil, porque ainda é pouco para o que fiz comigo nesta época.

Eu lembro que comprava lentes de contato coloridas, usava as lentes e me maquiava, e olhava vinte vezes na frente do espelho até conseguir sair de casa. Uma vez fiquei com um menino numa balada e, na hora de me despedir, vi que o rosto dele estava cheio de manchas pretas… Da minha maquiagem! Coitado do menino! Não disse nada a ele, provavelmente deve ter ido até a casa dele com aquela cara pintada, como se tivesse saído de uma comemoração indígena.

Eu também tinha encanação com meu peso. Fiz todas as dietas possíveis: a dieta dos Pontos, da Lua, da Água, da Proteína, da Santa Rita de Cassia, do Quilo de Cascalho no estômago (mentira, mas quase fiz). Se falassem para mim que xixi de cachorro emagrecia eu tomaria com certeza. Se existisse uma igreja que fizesse o exorcismo da gordura eu teria feito, teria passado pela sessão do descarrego da adiposidade com toda certeza. (Me imagino na sessão de exorcismo com o demônio da gordura falando através de mim com voz grossa: “Eu vou levar ela pra cantina! Vai comer tudo aos quatro queijos! Vou levar ela pra comer quindim, doce de leite, chocolate!” E o coitado do pastor só tentando expulsar o demônio.)

Só tinha um problema, eu não estava acima do peso. (O que é estar acima do peso? De que peso? Existe um padrão então, certo?) Eu estava bem e saudável, tentando sofrer bastante apenas e me privando das coisas, adoecendo, por não conseguir me ver, por olhar no espelho e ver uma imagem totalmente distorcida que só estava na minha mente, porque eu mesma, fisicamente, estava ótima. “Fisicamente”… Sim, eu tinha uma neurose e eu não percebia.

Hoje, olho para o passado e tenho um pouco de peninha de mim, do quanto eu não me aceitava e sinto pena também do tempo que perdi criando problemas imaginários. Fisicamente sou a mesma, apenas mais velha, mas hoje me sinto bem, bonita e em paz comigo mesma.

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Passar a vida tentando se encaixar em padrões sociais é uma prisão mental. Estes padrões foram inventados pelo próprio homem para encarcerar a sua mente no inferno. É impossível alcançar esses padrões e por isso a angústia é eterna. Foi tudo muito bem feito, muito bem planejado para que a gente nem percebesse a grande farsa que é tudo isso chamado Matrix. Era assim que eu vivia. Vivia nesta prisão mental, buscando me encaixar em padrões que via fora de mim. Você já viu uma águia querendo ser um leão? Não. Os dois estão vivendo suas vidas intensamente, entregues a suas experiências e amando cada minuto de suas vidas. Eles não sabem e nem querem saber o que é ser outro animal. Estão plenos, inteiros em cada instante. Talvez nossa passagem pela terra só sirva para a gente entender isso, verdadeiramente. Talvez…

Marcela Leal é humorista e escreve esta coluna duas vezes por mês. Para falar com ela, clique aqui!

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