A mulher que cria desenho e poesia para lidar com a doença do filho
O filho da paulista Luiza Pannunzio nasceu com uma má-formação rara que o impedia de chorar. Com desenho e poesia, ela resolveu transforma sua história e, assim, se renova a cada dia
A estilista e artista plástica Luiza Pannunzio
Foto: Acervo pessoal
A Menina com Laço na Cabeça tem quatro grandes paixões: seu marido, a Menina da Cabeça Quadrada, o Menino Que Não Sabia Chorar e seu trabalho. Os personagens são criações da paulista Luiza Pannunzio, 33 anos, e qualquer semelhança entre a ficção e a realidade não é mera coincidência. Nascida há seis anos em uma crise existencial, a primeira estranha figura é um alter ego ilustrado de Luiza. Casada com o diretor de TV Caetano Caruso, ela é mãe de Clarice – garotinha de quase 2 anos que, segundo diz, nasceu com a cabeça quadrada – e de Bento, 1. Vinte dias antes de dar à luz o caçula, Luiza descobriu que ele apresentava uma fenda facial e palatina grave, que o cortava da boca ao nariz. Recém-nascido, teve de fazer a primeira de uma série de cirurgias corretivas. Foi desesperador. “Por ser uma má-formação rara, ninguém sabia dizer o que vinha pela frente”, conta a mãe, que se prepara para mais uma operação. “É triste vê-lo passar por tudo isso.”
Mas Luiza é do tipo que busca o lado positivo e poético de todas as coisas. O problema do filho afeta o canal lacrimal, que não funciona. Pois foi o que a inspirou a dar vida no papel ao garoto que, por não derramar lágrimas, tem vocação natural somente para a felicidade. “Achei lindo o Bento não saber chorar”, diz. “É bem melhor ver a situação dessa forma.” Os planos são de lançar neste ano dois livros independentes – um deles trará as peripécias e reflexões em forma de poesia do Menino Que Não Sabia Chorar.
Os traços de Luiza para representar sua família
Ilustração: Luiza Pannunzio
As obras serão vendidas no seu site e na sua loja. Na verdade, o desenho é um passatempo que invadiu a carreira principal de estilista. Sua paixão pela moda vem dos tempos em que brincava de trabalhar na confecção dos pais, em Sorocaba (SP), onde nasceu. Formada em artes plásticas, ela vendeu peças fabricadas pela família para pagar a faculdade na capital. No percurso, abraçou a fotografia, mas, aos 21, quando achava que esse seria seu ganha-pão, rendeu-se às raízes, passou a desenhar roupas e abriu loja na moderninha Galeria Ouro Fino, em São Paulo. “Nunca fiz planos. Vou vivendo o que a vida me dá”, conta. “Meu trabalho é feito com muito amor e verdade. Assim, não tem como não dar certo.” A multifacetada Luiza ainda arranja tempo para produzir conteúdo para a internet, o que inclui desenhos aos montes. Para isso, elege prioridades, como deixar de fazer as unhas. “Prefiro criar uma ilustração a ir ao salão.” O ponto de partida é sempre o mesmo: seu mundo particular. “Sou quase autista. Tudo me influencia, mas nada me inspira mais que minha vida”, comenta, brincando.