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A escritora Conceição Evaristo dá voz ao povo negro na Flip

Pela primeira vez em quinze anos, havia mais escritoras do que escritores entre os convidados para a Festa Literária Internacional de Paraty

Por Da Redação
Atualizado em 15 abr 2024, 14h05 - Publicado em 1 ago 2017, 13h34
 (Walter Craveiro/Reprodução)
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A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que homenageou Lima Barreto, chegou ao fim neste domingo (30). O evento foi marcado pela diversidade. Pela primeira vez em 15 edições, contou com um número maior de mulheres que de homens nas mesas de discussão e os negros somaram 30% dos convidados.

Os números não demoraram para reverberar na pequena cidade do litoral fluminense. Na sexta (28), a professora Diva Guimarães levou o público da mesa A pele que habito, da qual participavam o ator e autor Lázaro Ramos e a jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques, às lágrimas.

Da plateia, em pé, com o microfone na mão, contou sobre sua trajetória, marcada pelo preconceito.

Outro ponto alto da festa foi a participação de Conceição Evaristo (foto), candidata ao Prêmio CLAUDIA deste ano na categoria Cultura. No ano passado, ela protagonizou um protesto que pedia maior representação de autores negros na Flip.

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Exigência atendida, no domingo a mineira dividiu uma mesa com a também escritora negra Ana Maria Gonçalves. A dupla relembrou outras vozes negras da cultura, como Carolina Maria de Jesus e Nina Simone.

Confira a seguir alguns dos trechos da fala da finalista.  

Representação

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“A Josélia (Aguiar, curadora da Flip) teve bastante sensibilidade para nos colocar aqui, mas, além do agradecimento, não podemos deixar de afirmar que não foi concessão. Esse lugar é nosso por direito”, disse Conceição, que pediu “Josélia 2018”.

“Quando o negro se sente representado em um festival, quebra o estereótipo de que negro não lê e não comparece a eventos literários.”

“Aquela máscara de Anastácia (escrava que foi amordaçada) simboliza o silêncio. Mas acho que reverbera em grito. Nós, o povo dominado, aprendemos a falar por trás da máscara e estilhaçamos a máscara. A grande simbologia disso é estar aqui rompendo ela, na Flip.”

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A Mulher negra

“Nunca nos dão a competência da arte literária. Há um imaginário de que dançamos, cozinhamos, cuidamos bem de uma casa. Somos, sim, capazes de lavar, de passar, mas também de dar aula, de exercer a medicina, de sermos políticas, de sermos professoras, de sermos escritoras.”

“A gente vive uma cultura de orientação judaico-cristã, e nessa cultura duas mulheres têm papel fundamental. Uma é Eva, que simboliza a perdição da humanidade. E depois vem Nossa Senhora, que simboliza a salvação através da maternidade.

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Ao dar à luz seu filho, ela salva a humanidade. Ora, se nós vivemos sob orientação desse mito e a literatura brasileira não consegue criar personagens negras fecundantes, então o corpo dessa mulher negra é sempre colocado no lugar do mal, é um corpo estéril, é um corpo para o prazer.”

“E quando essa mulher aparecia na literatura brasileira como mãe, ela aparecia como ‘mãe preta’. Era aquela mãe que existia para cuidar da prole alheia. E esse mito é horrível porque até hoje permanece. Quando se vai discutir algumas questões do racismo no Brasil, as pessoas dizem ‘eu não sou racista, eu tive uma mãe preta, eu tive uma babá que me criou’, e a gente pergunta: ‘e daí?’.”

Literatura

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“Carolina (Maria de Jesus) me lembra muito Lima Barreto, aquela tristeza e a certeza de sua potencialidade que não conseguia ser valorizada.”

“Quero escrever um texto que se aproxime o máximo possível de uma linguagem oralizada, aproximá-lo da língua viva do cotidiano.”

“Vamos continuar afirmando que o subalterno pode falar. Vamos continuar estilhaçando o orifício dessa máscara. A nossa identificação não pode mais ficar de fora da literatura brasileira.”

“Por que os críticos conseguem perceber a angústia humana na obra de Clarice Lispector e não percebem isso em Carolina? Ela é uma grande escritora brasileira.”

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