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O 1º lugar de medicina da USP é uma menina pobre e negra

Bruna Sena estudou em escola pública e frequentou cursinho popular – e agora passou com destaque no curso mais concorrido da Fuvest-2017

Por Da Redação
Atualizado em 15 abr 2024, 17h16 - Publicado em 6 fev 2017, 15h27
Bruna Sena passou em primeiro lugar no curso de medicina na USP de Ribeirão Preto
Bruna Sena passou em primeiro lugar no curso de medicina na USP de Ribeirão Preto (Reprodução/Arquivo Pessoal/)
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A adolescente Bruna Sena tem apenas 17 anos, mas já superou uma barreira de gente grande: foi a primeira colocada em medicina na USP de Ribeirão Preto, a carreira mais concorrida da Fuvest-2017, com  75,58 candidatos por vaga.

Negra, tímida, estudante de escola pública, criada apenas pela mãe – o pai abandonou a casa quando a menina tinha 9 meses – , Bruna é a primeira da sua família a cursar o ensino superior. Ela comemorou sua conquista pelo Facebook passando um recado: “A casa-grande surta quando a senzala vira médica”.

Bruna Sena passou em primeiro lugar no curso de medicina na USP de Ribeirão Preto
Bruna Sena passou em primeiro lugar no curso de medicina na USP de Ribeirão Preto (Reprodução/Arquivo Pessoal)

De família pobre – a mãe, Dinália, ganha R$1.400 como operadora de caixa de supermercado –Bruna participou do Inclusp, o programa de inclusão social da USP, que oferece pontuação extra para estudantes da rede pública. “Claro que a ascensão social do negro incomoda, assim como incomoda quando o filho da empregada melhora de vida, passa na Fuvest. Não posso dizer que já sofri racismo, até porque não tinha maturidade e conhecimento para reconhecer atitudes racistas”, disse a caloura à Folha de São Paulo 

“Alguns se esquecem do passado, que foram anos de escravidão e sofrimento para os negros. Os programas de cota são paliativos, mas precisam existir. Não há como concorrer de igual para igual quando não se tem oportunidade de vida iguais.”

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Leia também: Machismo + racismo: 52% das mulheres brasileiras enfrentam duplo preconceito no mercado de trabalho 

Para enfrentar o vestibular, Bruna se preparou muito, ao longo de toda sua vida escolar. “Ela só tirava notas 9 ou 10. Uma vez, tirou um 7 e fui até a escola para saber o que tinha acontecido. Não dava para acreditar. Falei com o diretor e ele descobriu que tinham trocado a nota dela com um menino chamado Bruno”, conta a mãe, Dinália.

No último ano, a dedicação foi total: de manhã, Bruna ia para a escola estadual Santos Dumont, onde cursava o último ano do Ensino Médio, de tarde estudava sozinha em casa e à noite frequentava um cursinho popular tocado por estudantes da própria USP.

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Leia também: “Como não existe racismo no Brasil?” 

Com ajuda financeira de amigos e parentes, Bruna fazia kumon de matemática, mas o dinheiro não deu para seguir com o curso de inglês. “Tudo na nossa vida foi com muita luta, desde que ela nasceu, prematura de sete meses, e teve de ficar internada por 28 dias. Não tenho nenhum luxo, não faço minhas unhas, não arrumo meu cabelo. Tudo é para a educação dela”, declara Dinália.

Bruna ainda não sabe qual especialidade médica pretende seguir na carreira, mas sabe que quer atender pessoas de baixa renda. “Quero atender pessoas que precisam de alguém para dar a mão e de saúde de qualidade”, disse.

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