Nova exposição do MoMA não tem medo misturar moda e política
O museu de Nova York trouxe uma exposição poderosa.
Quando a curadora sênior do Museu de Arte Moderna de Nova York, Paola Antonelli, chegou à cidade, aos 23 anos, havia apenas um item de moda no museu: um vestido do início dos anos 20 de Mariano Fortuny. Com isso, Paola teve a ideia de unir diversas “peças que mudaram o mundo” e que se encaixariam em uma exposição de arte moderna. Ela começou com o básico: uma camiseta branca, um par de calças jeans da Levi’s, tênis Converse, mas, consequentemente, a coleção se expandiu para mais de 400 itens que depois de editado, foi para 111.
“Itens: a moda é moderna?” é a primeira exibição de moda do MoMA desde a “As roupas são modernas?”, de 1944, do arquiteto e curador Bernard Rudofsky. Agora, 73 anos depois, a criação de Bernard serve como apoio para a de Paola e ambas são feitas para examinar a relação dos indivíduos com as roupas que usam todos os dias. “Nós queríamos deixar claro para todos que isso é um fashion show, de fato, mas além de tudo, uma exposição que tem a moda como foco”, diz Paola.
Todas as peças em display influenciaram de alguma maneira o mundo no último século. Você encontrará um Nike Air Force 1 ao lado de pochetes e um frasco de Chanel No. 5, mas também será possível ver itens culturais, como kippahs, dashikis e burkinis. Na maior parte, no entanto, você achará peças que encontraria também no seu armário.
Para alguns itens, Paola e seu time de curadores tiveram que ir atrás de sua história como, por exemplo, da primeira jaqueta jeans já feita. Ela queria contextualizar seus visitantes. “Nós acreditamos que o passado é muito importante para o moderno e contemporâneo”, diz Paola. “Nada foi inventado ontem, sempre existe um precedente”. Vendo o quão cíclica é a moda, a exposição é válida e atual tanto para os millenials, quanto para os baby boomers.
Mas a “Itens: a moda é moderna?” atinge o ápice de sua força quando aborda questões políticas. Entre jaquetas e sapatos, os visitantes podem encontrar um moletom vermelho da marca Champion na frente de um fundo cinza escuro. O moletom moderno nasceu em 1930, diz a placa logo em baixo da peça, e foi adotado por atletas, skatistas e rappers desde então. Mas, mais recentemente, se tornou símbolo de injustiça quando Trayvon Martin foi assassinado por George Zimmerman enquanto usava um. “[Moletons] te dão a falsa impressão de invisibilidade”, disse Paola em entrevista à Nylon. “É tipo quando uma criança põe a mão em frente ao seu rosto e acha que os pais não conseguem vê-la. Mas isso é uma faca de dois gumes, porque você sabe o que acontece: Você acha que é invisível, outras pessoas acham que você está ameaçando e a tragédia acontece.”
Também é possível encontrar brincos pendulares, itens ligados à resistência feminina negra, ao lado de jaquetas com os monogramas da Gucci e da Louis Vuitton. Em tempo, o incidente entre o estilista Dapper Dan e a Gucci foi mencionado no card do display. Entre os dois, existe um texto sobre apropriação cultural: “Quando certos itens são usados sem o conhecimento de quem são as pessoas que ajudaram a criar seu significado histórico, seus valores podem ser diluídos, reduzidos e até mesmo não representados.”
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“Eu acho importante notar que diversas peças nos permitem falar sobre questões sociais sutis e poderosas”, disse Paola. “Nós queremos que as pessoas entrem na exposição reconhecendo que tudo a qualquer momento pode ser um símbolo de mudança mundial.”
*As aspas de Paola são de sua entrevista à Nylon